Cuiabá, Domingo, 6 de Julho de 2025
EDUCAÇÃO POLÊMICA
31.05.2011 | 16h15 Tamanho do texto A- A+

Haddad compara críticos de livro a fascistas

Ministro disse que maioria dos que falaram mal da obra com "nós pega" sequer havia lido todo o livro

IG

Em audiência pública no Senado na manhã desta terça-feira, o ministro da Educação, Fernando Haddad, se disse assustado com o início da discussão sobre o livro "Por uma vida Melhor", que traz a expressão popular "nós pega o peixe". "A maioria das pessoas que criticaram inicialmente, se não a totalidade, declararam sem ter lido o livro. Isso me deixou preocupado porque regra geral um livro precisa ser lido para ser compreendido e, eventualmente, criticado", disse. A polêmica do livro que defende a língua falada foi apresentada pelo iG, e trechos como o que diz que o aluno pode falar "os livro" foram criticados por linguistas e gramáticos, como o imortal da Academia Brasileira de Letras, Evanildo Bechara, que disse que o aluno não vai para a escola “para viver na mesmice”. ministro citou no Senado dezenas de mensagens de especialistas, professores e associações que recebeu apoiando a obra e dizendo que o que se fala do livro não é verdade. "De forma unânime, todos dizem que o livro não faz o que dizem que faz (ensinar a linguagem popular como correta), mas traduz a linguagem popular para a norma culta", disse.

Para Haddad, criticar a partir de uma frase caracterizaria uma “injustiça crassa” e uma “atitude fascista”, disse se referindo ao comportamento de políticos do fascismo que censuravam obras que não haviam lido.

Durante a audiência, vários parlamentares sugeriram o recolhimento da obra, mas o ministro se manteve irredutível. “Li o livro e se tiver que ficar sozinho defendendo essa professora (Heloisa Ramos, autora), eu não me importo”, disse.

Haddad usou os mesmos argumentos apresentados pela autora da obra para defender sua permanência na sala de aula. O livro é usado em turmas de Educação de Jovens e Adultos de 4.236 escolas com 484.195 alunos. “Quando um adulto volta para a escola, ele está com vícios de linguagem. Então, entendo perfeitamente o capítulo como um convite da autora para que o aluno saia de sua fala coloquial”, disse.

O ministro também negou que o MEC estimule o ensino da linguagem popular. "Não há dúvida de que o papel da escola é de ensinar a norma culta, mas as abordagens pedagógicas, como é o caso, podem variar".

Durante a audiência, houve muitas críticas e poucas manifestações de apoio ao livro. Alguns senadores, no entanto, chegaram a sugerir o uso mais amplo da linguagem popular em sala de aula. O senador João Pedro (PT - AM) afirmou que em seu estado o distanciamento entre a linguagem cotidiana e a norma culta dificultam o aprendizado.

"No Norte do Brasil há um clamor muito grande para que se use a linguagem própria, a indígena e os dialetos, na sala de aula. Mas também há dificuldade de se trabalhar isso porque não há material adaptado", afirmou.

O senador Cristovam Buarque (PDT - DF) chegou a propor ao MEC a formação de um grupo especial para discutir o ensino de formas variadas da língua. "Há uma página do livro que mostra tolerância não com a forma de falar, mas com a desigualdade. Antes de ensinar, temos que parar e pensar se vamos adaptar sempre o ensino de uma língua que muda quase todos os dias no cotidiano, com novos termos coloquiais e estrangeirismos", afirmou.

Livros com carga ideológica

Os parlamentares levantaram também questionamentos sobre livros de história aprovados e distribuídos pelo MEC. Os senadores Alvaro Dias (PSDB-PR) e Marisa Serrano (PSDB-MS) chegaram a apresentar cópias de obras sobre os governos Lula e FHC.

Segundo eles, ambos os governos adotaram livros que trariam visão favorável sobre si mesmo e desfavorável a outra administração. Um dos exemplos citados foi o de um livro que não falava sobre o Plano Real e foi suspenso em 1997.

Com esse exemplo, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) questionou a isenção do MEC. “Não há critérios realmente objetivos para a análise dos livros que vão ser adotados”, acusa.

O ministro disse que é contra as discussões partidárias dentro de sala de aula, mas que não há como retirar dos livros a história contemporânea. “Se fizermos isso, o professor vai trabalhar o assunto de qualquer maneira porque é exigido nos vestibulares. Aí sim seria problemático, porque o MEC não teria controle do que é dado em sala”.

Kit anti-homofobia

Haddad deu explicações ainda sobre a suspensão do kit anti-homofobia solicitada pela presidenta Dilma Rousseff depois de pressões da bancada evangélica do Congresso. Ele negou que a discussão tenha sido suspensa e que exista divergências entre o MEC e a presidenta.

“Ela apenas quis que o kit fosse discutido de comum acordo com todos os setores, inclusive os conservadores”, afirmou. Haddad disse ainda que a avaliação do conteúdo do kit, em andamento desde 2008, deve continuar. O conteúdo do kit anti-homofobia foi revelado no ano passado pelo iG com exclusividade.

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Leonel Colombo  31.05.11 19h06
Mais uma vez o jargão, nu pais serio, ese ministo não seria nem pofessô, minha gente, minha gente, até quando vamos ter que aguentar tanta besteira, tanta ignorância que querem colocar guela abaixo dos brasileiros, é uma após outra, é o kit viadagem, é o retrocesso na linguagem falada, é o verdadeiro de que quanto pior, melhor melhor, mais fácil manobrar as massas incultas, analfabetas, desinformadas, pelo menos fosse alguem com inteligencia para fazer esta massificação, não um Haddad da vida, pobre Brasl, ter que aguentar isto, mas no final merecemos, não sabemos votar e somos um bando de cordeirinhos, humildes, sem coragem para dar um basta em tanta safadeza.
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LOURDEMIR CARVALHO  31.05.11 18h56
Cheguei aos 77 anos de idade, muito lúcido e boa forma física para assistir a um cidadão dito estar Ministro da (DES)EDUCAÇÃO, sr. F. Haddad defender livro didático contendo o que é por ele definido como "portugues popular". Certamente, é o linguajar do ex presidente da república que não prima pelo saber e o conhecimento. Tenho pena de meus NETOS. Afinal, NÓIS VAI ESPERARMOS POR DIAS MELORES. Salve os governos PETISTAS: boas bostas.
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Julio Amaro  31.05.11 18h27
As Escolas existem para ensinar os alunos. Se a legislação brasileira for cumprida, todos os pais são obrigados a colocar as crianças na Escola e todos os professores terão que apresentar uma formação adequada. Portanto, se o Governo cumprir a sua parte e oferecer Escola para todo mundo, se os pais cumprirem a sua obrigação, e se as crianças estudarem e forem cobradas por isso, ler e escrever corretamente será um procedimento normal, automático. A simples existência de um livro que admite erros de concordância e outras regras da língua pátria, pode ser considerado, no mínimo, como um grande estímulo ao desrespeito às leis, e portanto a sua autora deveria ser processada por incentivar a desordem pública.
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Francisco Kaveski  31.05.11 18h15
Se voltarmos no tempo, veremos que nosso ensino sempre foi bom em termos de didatica e ensino moral e civico. O que sempre faltou é o que esse senhor desconhece. -O Brizola criou os Brizolões para funcionar em tempo integral, dando as crianças 3 refeições diarias, entregando-as as suas familias, bem alimentadas e ensinadas a serem boas filhas e filhos, cansadas pelas letras e pela educação física proporcionada pela escola. -O senhor ministro desconhece a verdadeira historia do Brasil, por isso ñ sabe que as Escolas tem por obrigação, formar os individuos fisicamente, intelectualmente,espiritualmente e MORALMENTE BRASILEIROS. Para isso, o ministro teria que saber quem somos e como foi que assim chegamos a SER O QUE SOMOS. -Ele deveria estár reintroduzindo a OSPB que eu conheci. SHALOM
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Walter dos Santos Silva   31.05.11 18h15
Carfo Ministro: Nada justifica que ensinemos o errado para depois ensinarmos o certo.O aconselhável, para os mais modestos dos brasileiros,é partir do certo. Eu mesmo fui alfabetizado aos treze anos e desde o primeiro momento recebi orientação para falar e escrever coretamente. Lembro-me que o primeiro erro corrigido foi: De Este caderno tem menas folhas do que aquele ali" para, "Este caderno tem menos folhas do que aquele ali"
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