Cuiabá, Segunda-Feira, 30 de Junho de 2025
CASO SCHEIFER
03.04.2019 | 15h48 Tamanho do texto A- A+

Testemunha afirma que perícia derrubou versão de réus no crime

Assassinato ocorreu em março de 2017; oitivas ocorrem na tarde desta quarta-feira (3) no Fórum da Capital

Alair Ribeiro/MídiaNews

Os policiais militares Joailton Lopes, Werney Cavalcante Jovino e Lucélio Jacinto, acusados pela morte de Scheifer

Os policiais militares Joailton Lopes, Werney Cavalcante Jovino e Lucélio Jacinto, acusados pela morte de Scheifer

CÍNTIA BORGES E JAD LARANJEIRA
DA REDAÇÃO

O juiz Marcos Faleiros, da Vara Militar de Cuiabá, iniciou nesta quarta-feira (3) as oitivas das testemunhas e réus no caso pelo assassinato do tenente Carlos Henrique Paschiotto Scheifer, em maio de 2017.

 

São réus na ação os policiais militares Lucélio Gomes Jacinto, Joailton Lopes de Amorim e Werney Cavalcante Jovino.

 

Além dos réus, serão ouvidos como testemunhas os policiais militares Alex Sander de Souza Vizentin, o sargento Antônio João da Silva Ribeiro, o 2º tenente Herbe Rodrigues da Silva, o tenente-coronel José Nildo Silva de Oliveira, tenente-coronel Jonas Puziol e o tenente-coronel Claudio Fernando Carneiro Souza.

 

O crime ocorreu no dia 13 de maio de 2017 no Distrito de União do Norte, em Peixoto de Azevedo (a 691 km ao Norte de Cuiabá). Os policiais estavam em uma missão na cidade para combater uma quadrilha do “Novo Cangaço”. Segundo a denúncia, os policiais teriam matado o colega Scheifer para ocultar o assassinato de um acusado de roubo, identificado com Marcone Souza Santos.

 

Depoimento das testemunhas

 

Divulgação

CARLOS

O tenente Carlos Scheifer, assassinado em maio de 2017

A primeira testemunha a ser ouvida foi o soldado Alex Sander. Ele disse ao juiz que, na época do crime, recebeu uma mensagem via WhatsApp contando sobre a prisão de um rapaz em um posto de combustível. O rapaz em questão foi um dos primeiros presos na ação policial que resultaria na morte de Scheifer.

 

“Lá tinha a informação onde estava a casa. E quando chegamos [a Polícia] já tinha prendido os três e tinha acontecido a morte do Marcone. Quando chegamos lá o tenente Scheifer falou para colocar um em cada viatura. Foi quando vi dois do Bope e um estava limpando fuzil e disse que o tenente era muito ‘legalista’".

 

Quem teria dito a frase foi o cabo Jacinto, dirigindo-se a Jovino. “Na hora que olhei, eles pararam de conversar. Eu não dei muita importância. Achei que era conversa deles só", disse Alex.

 

A segunda testemunha a ser ouvida foi o sargento Antônio João da Silva Ribeiro, que atuou no dia do confronto e foi até o hospital onde o tenente Scheifer estava internado.

 

“O tenente Santana chegou dizendo que o tenente Scheifer tinha sido baleado. Fomos até Matupá, depois fui até o hospital municipal da cidade. Cheguei lá, tentei conversar com eles e eles foram ásperos”.

 

O sargento afirma que tentou contato com os policiais acusados ainda nos corredores do hospital, mas eles teriam sido grossos. “E viu os três suspeitos conversando numa sala, bastante nervosos”.

 

"Na hora que a gente parou na frente, os três foram para lá. E eu fui perguntar e obter melhores informações. Eu estava à paisana, talvez não tivesse me identificado como policial militar. Eu estava armado e equipado. Depois conversei no outro dia com o cabo Jacinto, que disse que estava com os ânimos exaltados", disse ao magistrado.

 

A terceira testemunha a ser ouvida pelo juízo militar foi o tenente Herbe Rodrigues, que contou que acompanhou, sem participar, a ação policial comandada por Scheifer. 

 

Após o confronto com bandidos, o tenente Herbe foi informado que um policial militar havia sido ferido. Então ele foi até o hospital.

 

“Quando foi a noite é que recebi a informação que tinha uma viatura da Polícia Militar com um policial ferido. Depois chegaram no hospital e ficaram tentando reanimar ele por uma hora. Depois declaram o óbito do tenente. Scheifer chegou bem pálido, por causa da perda de sangue, quase sem vida”, contou.

Alair Ribeiro/MídiaNews

Testemunhas - Caso Sheifer

As testemunhas do caso: os tenentes-coronéis Cláudio, Jonas Puziol, o segundo tenente Herbe Rodrigues, e o sargento António João

 

Ele conta que suspeitava da ação dos policiais suspeitos desde o princípio, mas não poderia levantar falso testemunho contra os PMs.

 

"O que eles falavam não fazia muito sentido. Eu vi o corpo dele, e vi que pelo colete, o disparo teria sido feito de baixo pra cima. Ou ele estava num terreno mais alto, ou que o tiro não foi feito de longa distância, é uma questão até de física", afirmou.

 

A quarta testemunha foi o tenente-coronel Cláudio Carneiro. Ele comandou o inquérito militar sobre o assassinato do tenente Scheifer.

 

"Eu tenho 21 anos de Polícia. Trabalhei a vida toda no interior, participei de muitas operações, nunca no Bope. Mas o dia a dia me deu experiência e, nesse caso, jamais um policial seria morto se não tivesse um confronto. Isso contraria a farda que nos usamos, a nossa história, contraria tudo”.

 

O tenente-coronel conta que a perícia técnica comprovou que seria impossível um dos três acusados não ter ouvido o disparo realizado contra o tenente Scheifer.

 

"A perícia comprovou que seria impossível que um dos policiais não soubesse que esse tiro não teria saído [da arma] de um deles. Poderia estar escuro, o estrondo é o mesmo, ainda mais colado. É impossível não saber que saiu daqui".

 

O levantamento contrária a versão dos réus que dizem que ouviram o disparo de longe.

 

"Quando o Scheifer cai na frente deles, eles não se preocupam em fazer a segurança. Se eu estou em combate, alguém tem que fazer essa segurança, não vou simplesmente parar e correr o risco de outro deles morrerem".

 

O tenente-coronel afirma que sentiu algo estranho entre os policiais militares que atuaram na ação e isso levantou suspeitas.

 

"Senti que a tropa em si estava descontente com a ação do Bope. Eu via uma atmosfera diferente. Aí ouvi as testemunhas chaves”.

 

Carneiro conta que ouviu o relato do soldado Vizentin, em que ele dizia que o cabo Jacinto estava muito nervoso e comentando que Scheifer "é muito legalista”.

 

"Eu tentei obter mais detalhes, mas apenas quem presenciou isso foi o Vizentin. Acredito que o tenente Scheifer não teria aceitado como se deu a morte do Marconi. Com base na minha experiência. Um soldado não ia levantar uma tese dessas assim”.

 

Para o tenente-coronel, a versão apresentada pelos policiais acusados não contém embasamento.

 

"Eu estive no local do possível confronto. Disseram que ficaram parados por 40 minutos por causa de um barulho de um galho quebrando. Depois escutaram o tenente dizendo ‘bora’, e aí ele foi alvejado”.

 

Carneiro garante que, pelos conhecimentos militares de Scheifer, ele jamais se esconderia na mata. “Ele tinha acabado de passar por um curso de especialização. O Scheiffer não faria isso".

 

"Não houve, na minha opinião, esse barulho de galho e se houve um barulho eu não ia reconhecer a voz de um companheiro que estava a três metros de distância?", indagou.

 

Não houve, na minha opinião, esse barulho de galho e se houve um barulho, eu não ia reconhecer a voz de um companheiro que estava a três metros de distância?

Origem do conflito

 

Segundo o Ministério Público, os fatos começaram com a perseguição da viatura da Polícia Militar, cuja equipe estava sob o comando da vítima, a dois automóveis - um Nissan Frontier e o outro um Mitsubishi L-200 Triton - nos quais estavam os suspeitos de roubo.

 

Na ocasião, um dos veículos acabou tomando rumo ignorado e o outro perdeu o controle na estrada, quando quatro de seus ocupantes já desceram fazendo vários disparos contra os policiais.

 

A tentativa de prender os assaltantes que, inicialmente, parecia ter sido frustrada, acabou obtendo êxito no dia seguinte com apoio de outros militares que atuavam em cidades próximas.

 

Um dos veículos foi localizado em um posto de combustível na cidade de Matupá e o condutor, identificado como Agnailton Souza dos Santos, foi preso.

 

Consta na denúncia que a partir das informações obtidas no interrogatório do acusado, a equipe de agentes liderada por Scheifer fez o cerco policial a um imóvel localizado em um bairro na cidade de Matupá, para prender outros suspeitos.    

 

Durante a ocorrência, um deles, que “supostamente” portava arma de fogo, teria tentado fugir e foi atingido por um disparo de fuzil pelo cabo Lucélio Gomes Jacinto, morrendo em seguida. 

 

“Conforme restou apurado nos presentes autos, a lavratura do supracitado boletim de ocorrência foi objeto de divergências e até mesmo de desentendimento entre a vítima, TEN Scheifer, e o denunciado CB PM Lucélio Gomes Jacinto, pois, há fundadas suspeitas que fora inserida, no referido BO, declaração falsa, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, no que diz respeito às circunstâncias da morte do indivíduo Marconi Souza Santos”, descreveu o promotor de Justiça Allan Sidney do Ó Souza.

 

Segundo ele, testemunhas relataram durante inquérito policial que presenciaram o desentendimento entre a equipe e o tenente Scheifer. Em um determinado momento, os denunciados teriam se reunido a portas fechadas para conversar sobre o ocorrido. 

 

Morte de Scheifer

 

No mesmo dia, durante diligência realizada no local do primeiro confronto com os ocupantes dos veículos, o tenente Scheifer foi atingido por um disparo na região abdominal.

 

Inicialmente, conforme o Ministério Público, os colegas de farda sustentaram que a vítima havia sido atingida por disparo feito por um assaltante não identificado, que estaria em meio à mata, do outro lado da rodovia.

 

Após a realização do laudo pericial, ficou comprovado que o projétil alojado no corpo do tenente partiu de um fuzil portado pelo cabo Lucélio Jacinto. 

 

“Somente após a balística descortinar que o disparo que atingira mortalmente o TEN Scheifer ter saído da arma de fogo portada pelo denunciado CB PM Jacinto, que então mudando a versão de outrora, ele alegou ter se equivocado da pessoa do TEN Scheifer com a do suspeito”, afirmou o promotor de Justiça.

 

Segundo ele, nenhuma das versões apresentadas pelo autor dos disparo foi plausível. “A vítima foi atacada frontalmente (o denunciado afirmara que ela estava de costas) e, em posição de descanso (quando não há perigo pela frente), embora o acusado assevere que o ofendido se apresentava em posição de tiro “vietnamita” (uma forma de posição de ataque”)”, sustentou.

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