Cuiabá, Quinta-Feira, 3 de Julho de 2025
VICENTE VUOLO
28.03.2019 | 07h29 Tamanho do texto A- A+

A vida poderia ser um cruzeiro

Viajar de navio é bom para aguçar a mente e refletir sobre o mundo

Viajar é preciso, faz bem à saúde e engrandece a alma. Não importa a idade, revigora nossas energias porque conhecemos novas culturas. Viajar de navio, então, é bom para aguçar a mente e refletir sobre o mundo e a nossa pátria.

 

Já tinha viajado de navio antes pela costa brasileira, pela Argentina e Uruguai, pelo Danúbio, entre Miami e a Bahamas. Mas nesse último cruzeiro que fiz pelo Golfo Pérsico foi diferente e especial, por se tratar de um imenso transatlântico de 17 andares que pode receber 5.733 pessoas. Ou seja, três vezes mais pesado e com capacidade 70% maior de passageiros e tripulantes que o navio Titanic. Uma verdadeira cidade flutuante.

 

Apesar de ser uma urbe ondulante, não existia prefeito muito menos fiscais e polícia para punir a população. Todos sabiam quais eram os seus direitos e deveres. Existia sim, um simpático comandante e sua equipe que orientavam a população - composta de nacionalidades de todos os continentes com 40 países representados. A maioria de italianos, seguidos de espanhóis, alemães, americanos, franceses, brasileiros, e também de muitos países africanos e asiáticos.

 

A confraternização e a fraternidade reinaram em um ambiente onde todos se entendiam, mesmo com a complexidade do idioma. Passei então, a imaginar como seria o mundo se não houvesse nenhum país e nem guerras. É difícil acreditar olhando o horizonte, naquele mar calmo, que há pouco tempo atrás, ali mesmo foi cenário de guerras sangrentas como a Guerra do Golfo Pérsico, que ceifaram milhares de vidas.

 

É importante a sociedade ter plena capacidade de refletir sobre as suas escolhas, pois elas direcionarão o caminho do país

Foi aí que decidi escrever o meu último artigo sobre Educação Política, uma coletânea de artigos publicados na imprensa mato-grossense nos últimos 5 anos.  O título surgiu em uma conversa agradável com o Analista de Tecnologia da Informação da Universidade de Brasília, Leonardo Muzzi Soares, sobre as pessoas se partilhando e vivendo em harmonia. O Leonardo, então, me disse: “a vida poderia ser um navio”!

 

No alto do navio, reservado ao lazer, percebi como os europeus e americanos são apaixonados pela leitura. Todas as espreguiçadeiras estavam preenchidas pelos amantes do livro, acompanhados de um banho de sol. Aliás, no navio existia uma bela biblioteca.

 

Em um determinado momento, no último andar, observei um funcionário do meu lado fazendo o serviço de limpeza. De repente, ele parou de trabalhar. Ficou parado como uma estátua olhando para o horizonte. Como eu estava de costas para o mar, fiquei curioso e, então, perguntei-lhe, de onde você é? Para onde você está olhando tão atentamente? Ele me respondeu com um sorriso estampado no rosto: “sou do Paquistão. Estou olhando um outro transatlântico passar. Como é lindo. Eu amo o mar”. No navio, quase todos falavam inglês.

 

Todos os dias, recebíamos a programação do navio, das atrações, shows e, também, das cidades para visitar. Ou seja, um convívio permanente com pessoas diferentes todos os dias.

 

Após fazer amizade no início da viagem com o grande esportista Henrique, jogador de basquete profissional brasiliense, fui apresentado ao senhor José Eustáquio, ex-professor de engenharia da Produção e Recursos Humanos da Universidade de Brasília. Logo, houve uma empatia entre nós, sendo que a política dominaria a nossa conversa pelo resto da viagem. Todos os dias nos encontrávamos para um bate-papo agradável, muito principalmente, por causa dos seus laços de amizade com o ex-presidente Tancredo Neves. Eustáquio foi assessor e era amigo pessoal do Dr. Tancredo e D. Risoleta. Eu tive a oportunidade de conviver com o grande político brasileiro no período em que meu pai foi seu colega de Senado e também vizinho de apartamento na Quadra 309 Sul, em Brasília.

 

A nossa conversa era sempre entusiasmada, rica em fatos históricos, principalmente, durante o jantar, incentivadas pelo simpático garçom Surgiata, da Indonésia, pessoa que nos encantou com o seu grau de percepção, educação e simpatia.

 

E foi sob o tempero mineiro-cuiabano, que nós viajamos no tempo e na história do Brasil, lembrando nomes como Tancredo, Ulysses Guimarães, Juscelino Kubistchek, D. Pedro II, Oswaldo Aranha, Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco, e o quanto, precisamos resgatar os nossos heróis. O que nos falta é Educação Política!

 

Mas, será que as pessoas entendem mesmo o que isso significa? É importante a sociedade ter plena capacidade de refletir sobre as suas escolhas, pois elas direcionarão o caminho do país.

 

Parte fundamental do exercício da cidadania refere-se à educação política. Esta deve ser moldada no indivíduo desde sua infância, propiciando uma boa formação de caráter no seio familiar e que será desenvolvida ao longo da vida para ser multiplicada com a sociedade. Ou seja, educação e cidadania são interdependentes e a educação política é fruto dessa relação.

 

Infelizmente, o Brasil não desfruta de educação de qualidade mínima e adequada. Existem muitas debilidades no sistema educacional que causam enormes prejuízos, afetando gerações. Para que ocorra educação política é preciso existir um projeto político em todas as esferas de poder, federal, estadual e municipal de conscientização de cada cidadão diante de seus atos. Priorizar projetos de país com ética e transparência. Mas, o simples repasse de conhecimento e informação não é suficiente para alcançar a Educação Política. É preciso despertar o envolvimento cognitivo e afetivo do indivíduo, fazendo-o sentir que a educação política lhe propicia consciência para entender e modificar a realidade de nossa sociedade.

 

É preciso desenvolver a visão crítica dos jovens no sentido de extirpar de vez a corrupção e incorporar valores republicanos e democráticos para a verdadeira participação política.

 

Vamos priorizar a educação política nas escolas, universidades, entidades e no governo. Afinal, o nível de desigualdade e de problemas de um país está associado ao nível de educação política e cultura de seu povo.

 

VICENTE VUOLO é economista e cientista político.

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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