Cuiabá, Sábado, 12 de Julho de 2025
ESTER INES SCHEFFER
05.04.2019 | 07h15 Tamanho do texto A- A+

Empreender é para os fortes

Os empreendedores devem se cercar de muita técnica, de muito conhecimento

O assunto entrou finalmente na ordem do nosso dia, mas como neófitos no tema, ainda estamos naquela fase do deslumbramento mesclado com o estranhamento, e muitas tentativas-de-erro-e-acerto, o que pode ter um preço muito alto para quem investe suas economias num novo negócio, por isso, na qualidade de profissional que trabalha com empreendedores desde a década de 80, não posso me furtar a compartilhar alguns conceitos e experiências que podem ter utilidade para quem está atuando ou pensando em atuar com um empreendimento próprio.

 

Primeiro, penso que seja importante saber o que torna uma pessoa em um empreendedor: não acredito que seja um curso de empreendedorismo, também não creio que seja a disponibilidade de um capital que permita abrir um negócio, e muito menos a insatisfação com a condição de empregado.

 

O critério que eu aplico para identificar um empreendedor e que não costuma falhar, é perceber uma diferença crucial na forma como o empreendedor enxerga um problema: onde todos os outros enxergam o drama que todo problema carrega, em si, o empreendedor enxerga a oportunidade rara de produzir uma solução. Sem ele – o problema – não há como oferecer um produto (bem ou serviço), que tenha valor para um cliente disposto a pagar para adquiri-lo.

A sabedoria popular tem até um ditado para essa identificação: “enquanto uns choram, outros fabricam lenços”.

 

Ainda a lamentar, em nosso país, a vigência de um ambiente hostil aos empreendedores, com burocracia muito além e acima do razoável, e a cultura ainda em voga que julga empreendedores como gananciosos exploradores de funcionários e clientes

Se me perguntam se essa é uma característica inata ou adquirida, costumo responder que percebo claramente na forma como os pais educam os seus filhos como determinante para um ou outro perfil: se ensinam seus filhos a se levantarem quando caem, a superarem desafios e obstáculos, a encararem os problemas como oportunidades de desenvolvimento pessoal, estão formando um empreendedor; se ao contrário, ensinam aos filhos a dependência, material ou emocional, se ensinam aos seus filhos a lamentar os problemas, ou a culpar outros quando um fato não desejável ocorre com eles, estão formando um perfil totalmente incompatível com o ato de empreender, o que, obviamente, não tem nada de errado. Errado é querer ser algo que não temos aptidão para tal.

 

Isso quer dizer que sou contra curso de empreendedorismo? Absolutamente! Empreender não é para os fracos, e muito menos para os amadores. Os empreendedores devem se cercar de muita técnica, muito conhecimento, muitas ferramentas, e de muitos funcionários o mais capacitados possível, mas nada disso vai funcionar se não houver o líder visionário, com clareza do problema que vai resolver e da forma – produto - como faze-lo.

 

Ainda a lamentar, em nosso país, a vigência de um ambiente hostil aos empreendedores, com burocracia muito além e acima do razoável, e a cultura ainda em voga que julga empreendedores como gananciosos exploradores de funcionários e clientes, isso, sem falar da carga tributária, e para piorar, uma política de “incentivos” fiscais que só recrudesce as distorções, gerando “paraísos fiscais” para alguns enquanto todos os outros permanecem no “manicômio fiscal”.

 

Só lembrando que o Estado deveria entregar infraestrutura de escoamento da produção, legislação simples e acessível, carga tributária razoável para todos, e um ambiente jurídico que favoreça o cumprimento dos contratos, o que não faz em absoluto, e para compensar sua omissão, faz uso de políticas de incentivo que só pioram mais ainda o que já é ruim. Também temos um ditado popular para isso: o Estado cria dificuldades para vender facilidades.

 

Mas tudo leva a crer que os governos estão começando a entender a importância de melhorar o ambiente dos negócios, mas só falar não basta, pois as crises macroeconômicas – que são sempre causadas por governos - estão dizimando empreendimentos, e demonstrando na prática que o empreendedor não é o vilão da história, é na verdade o cara que produz riqueza, e é essa riqueza que mantem os empregos, as ONGs, e, inclusive, o governo!

 

Sem o empreendedor, não há como ter emprego no presente nem esperança no futuro. Devemos a eles nossas reverências e todo apoio que pudermos dar, estamos longe disso, mas pelo menos nosso discurso está mudando de direção. Chegaremos lá?

 

ESTER INES SCHEFFER é contadora e especialista em Controladoria e em Finanças Empresariais.

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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Ana  05.04.19 10h51
Não vale a pena ser empreendedor no Brasil. Que motivação uma pessoa honesta tem pra trabalhar por 1 salário mínimo de R$ 1000,00 reais se a família de um criminoso recebe R$ 1.364,43 só de auxílio reclusão?
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