Cuiabá, Quinta-Feira, 3 de Julho de 2025
PEDRO FÉLIX
07.04.2019 | 07h45 Tamanho do texto A- A+

Cuiabá da minha infância

Intenso era a presença de pescadores e suas varas e redes de pescar

Cheguei aqui com seis anos de idade, um garoto atrás de sua família nordestina que veio antes conhecer o lugar. Um grupo de migrantes, que antes eram candangos em Brasília.

 

A imaginação estava a mil por hora. Como seria o lugar? Onde moravam meus pais? Que lugar era este que demorou nove dias para chegar?

 

O medo do fim do mundo era o que me assombrava, pois assim era a configuração do lugar, dito pelos mais velhos do lugar de origem.

 

Finalmente cheguei! Apeei da baleia (ônibus antigos da época), ao lado da atual Praça Ipiranga. De imediato fui até a padaria, ao lado da ponte velha (Júlio Muller) onde meu pai trabalhava e vi pela primeira vez o rio Cuiabá. Encanto de imediato! Não sabia nadar, mas o afoito menino queria ir logo tomar banho naquele rio de águas verdes, transparentes e cheio de piraputungas saltitantes.

 

Depois de um breve tempo morando do outro lado do rio, finalmente me mudei para o bairro Terceiro (destruído pela enchente de 1974).

 

Maravilha era ver as linhas de pescar com pinhão na ponta do anzol, singrando o ar e caindo no meio do rio, procurando o bendito fruto para alimentação do ribeirinho

De novo, outro universo se abriu para o pobre retirante, chamado jocosamente de pau rodado. O rio de lado, logo me ensinou a nadar em suas águas caudalosas e piscosas. Os sarãs que ladeavam as águas serviam para brincadeiras de saltos, esconderijos e outras inventadas no dia a dia.

 

Intenso era a presença de pescadores e suas varas e redes de pescar. (Os jacás ficavam carregados de peixes (cestos de bambu grandes), deixados à beira do rio, com água pela metade, onde se colocam os peixes após capturas).

 

Maravilha era ver as linhas de pescar com pinhão na ponta do anzol, singrando o ar e caindo no meio do rio, procurando o bendito fruto para alimentação do ribeirinho.

 

As charretes iam e vinham com tonéis cheio de água que abasteciam as casas sem água encanada. Ofereciam seus serviços também de venda de toda sorte de mercadoria vendida de porta em porta.

 

A alegria do bairro era geral, com sua vida cultural intensa. Em junho lavava-se o santo na beira do rio. Em fevereiro o cordão carnavalesco “Coração da mocidade” saia com seus índios, apitos e penas à frente, agitando a galera. O point era o clube do Zé Maria. Aonde todos iam aos bailes dos finais de semana.

 

O Congá do Dandí, nas sextas feiras lotava de gente de todos os matizes sociais, levando muita gente na semana santa para Louvar o caboclo sete flechas, nas matas de Chapada dos Guimarães. 

 

Diversão não faltava e no domingo o legal era ir para frente do Cine São Luís (Em frente ao bairro e na Avenida XV de novembro no Porto), trocar figurinhas, ou revistas em quadrinhos. Mas o melhor estava reservado dentro da sala, com filmes de Tarzan ou épicos do velho oeste.

 

Você teve infância? Eu tive e eis aqui um pouco das reminiscências nesta velha e acolhedora Cuiabá.

 

Cuiabá te abraço e te reconheço como minha cidade. Parabéns pelos seus 300 anos.   

    

PEDRO FÉLIX é escritor em Cuiabá.

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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