Cuiabá, Sábado, 5 de Julho de 2025
SÉRGIO GUIMARÃES
16.04.2019 | 07h00 Tamanho do texto A- A+

Parque de Chapada dos Guimarães - 30 anos

O parque se consolidou e é cada vez mais um patrimônio da nossa sociedade

Situado no Cerrado, berço das águas brasileiras e no centro do continente sul-americano, o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães tem imensa riqueza biológica, geológica, arqueológica, histórica e cultural; belezas cênicas inigualáveis. É região de nascentes de três bacias hidrográficas, Prata, Amazônica e Araguaia-Tocantins. Tudo isso bem pertinho de Cuiabá, um presente à nossa disposição. Mesmo assim, muitos de nós não lhe reconhecemos o devido valor. Mas ele está aí, generosamente, a cada dia, nos prestando seus incomensuráveis serviços e benefícios que muitas vezes sequer percebemos. Mas nem sempre foi assim. 

 

Em meados da década de 80, diante de um violento processo de degradação, sujeira, turismo de massa desordenado, invasões, grilagens e desmatamento, um amplo grupo da sociedade formado por artistas, cientistas, intelectuais, jornalistas, estudantes, ambientalistas, moradores de Chapada, entre outros, tomou para si a defesa “do ambiente natural de Chapada dos Guimarães”. Este grupo pioneiro desenvolveu um amplo conjunto de ações, que cinco anos mais tarde, em abril de 1989, culminaram com a criação do Parque pelo IBAMA e governo federal. Foram anos de trabalho intenso: estudos, mobilizações, manifestações, atos públicos, performances e conversas com autoridades em Cuiabá e Brasília. Portanto, o Parque é fruto de um forte interesse da sociedade mato-grossense.

 

O Parque tem hoje quase 60% de suas áreas regularizadas, concluiu seu plano de manejo e de uso público, recebe entre 170 e 180 mil visitantes por ano e tem um imenso potencial de turismo e de geração de renda

Nesses 30 anos, o Parque de Chapada se consolidou e é cada vez mais um patrimônio da nossa sociedade. Foram removidas parte das invasões e pagas a maioria das indenizações devidas. O Parque tem hoje quase 60% de suas áreas regularizadas, concluiu seu plano de manejo e de uso público, recebe entre 170 e 180 mil visitantes por ano e tem um imenso potencial de turismo e de geração de renda. Há de se reconhecer o trabalho do ICMBIO e de organizações parceiras que ainda hoje trabalham de forma voluntária pela consolidação do Parque.

 

Mesmo assim, permanecem diversos desafios e pairam ameaças, como: o combate aos incêndios florestais; a proposta de duplicação da rodovia Cuiabá – Chapada, o incremento do fluxo de turismo desordenado e as invasões que ocorrem ao sul do morro São Gerônimo a partir da construção de novos acessos oriundos de bairros como o Pedra 90 e o Dr. Fabio. 

 

Além dessas, há ainda as ameaças do atual contexto político brasileiro, com um governo federal que ataca o meio ambiente à luz do dia, corta recursos, enfraquece a legislação e a fiscalização; amordaça seus órgãos executivos; se omite diante do avanço do desmatamento; apoia o aumento da contaminação por agrotóxicos e ataca as unidades de conservação e as áreas indígenas. 

 

Em Mato Grosso, isso foi vivenciado desde o governo anterior, com o aumento brutal do desmatamento e as tentativas de redução do Parque Serra de Ricardo Franco e da APA da Chapada dos Guimarães.

 

Mesmo com os desafios e ameaças existentes, há o que comemorar com a consolidação do Parque de Chapada nesse período. Mas para que essa comemoração tenha continuidade no futuro, deve ser acompanhada de um aumento da mobilização em defesa do Parque, de outras áreas de conservação e ainda fazer frente às ameaças ora colocadas. Mais uma vez a sociedade mato-grossense é chamada para defender seus interesses e seu patrimônio ambiental que, afinal de contas, é a base da vida e da estabilidade do clima para as atuais e futuras gerações.   

 

Ah, em tempo, as ações pela criação do Parque de Chapada foram em grande medida a inspiração de um grupo de pessoas para a criação do Instituto Centro de Vida (ICV), que completou 28 anos também esta semana. A vida segue.

 

SÉRGIO GUIMARÃES é engenheiro civil, ambientalista, foi secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso e é um dos fundadores do Instituto Centro de Vida (ICV).

 

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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Francisco  18.04.19 12h16
O comentário anterior abre uma oportunidade de esclarecimentos a todos. Em primeiro lugar, mais de 50% do parque nacional é de domínio público. Grande parte da porção do parque nacional localizada em Cuiabá foi regularizada ao longo dos anos, bem como os principais locais destinados à visitação, o que é muito positivo, pois auxilia a ordenar o uso público e ao mesmo tempo evita invasões que aconteceram nas décadas de 1980/1990 no parque. Em segundo lugar, o instrumento administrativo (decreto federal 97.656/1989) CRIA O PARQUE NACIONAL e, AO MESMO TEMPO, estabelece o prazo para desapropriações. Não se trata de instrumento jurídico com o único fim de desapropriar, mas TAMBÉM, de estabelecer um espaço territorial protegido, conforme previsto no artigo 225 da Constituição Federal. Há alguns anos o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e outras unidades de conservação federais e estaduais no Brasil passaram a usar o manejo integrado do fogo como um de seus instrumentos de gestão, assim como demais parques e reservas espalhados no mundo todo, adotando procedimentos que minimizem impactos ao parque caso ocorram incêndios florestais. Os incêndios florestais se iniciam, na maior parte, fora do parque nacional e são combatidos pelos funcionários daquele lugar. A prioridade é a proteção ambiental do parque nacional. Há outras instituições que se articulam nos combates e as parcerias têm evitado comprometimentos maiores à vegetação do local. Se se comparar imagens de fotografias antigas do parque nacional com imagens atuais, é possível perceber o aumento da vegetação (com o consequente resgate de carbono) na região onde hoje estão localizados o parque, a APA da Chapada dos Guimarães e a própria estrada parque rodovia MT 251 (estaduais, de responsabilidade da SEMA/MT).
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WESSON PINHEIRO  16.04.19 09h57
Infelizmente, falar que quase 60% das áreas foi regularizada, seria risível se não triste. 30 anos e nada se consolidou. O parque é uma ficção jurídica, visto que seu decreto caducou sem que se consolidasse.Todos fingem que não sabem e que não vêem. A omissão dos diversos governos continua levando a essa situação. Gasta-se com tudo e não se consegue preservar a área do fogo anual. Eu sou testemunha protagonista de um pedido de ajuda para debelar incêndio, feito na brigada do IBAMA/ICM BIO perto do Horácio, e eles, com muita insistência, me cederam 3 abafadores para que eu próprio fizesse o trabalho deles. Triste, mas a realidade não é tão linda como se propaga. Sérgio é um lutador, um guerreiro que merece respeito, mas a realidade é outra.
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