O mundo moderno, onde cada vez mais pessoas acumulam funções e preocupações diárias, acaba “empurrando” a sociedade para comportamentos compulsivos, como no caso do transtorno de compulsão alimentar, de acordo com a psiquiatra Luisa Forte Stuchi.
"Às vezes precisamos ir de um trabalho para o outro, o tempo de almoço é pequeno. Nisso passamos a comer na rua, na maioria das vezes alimentos compostos por carboidratos, 'que estão mais fáceis'. Acabamos deixando de lado uma alimentação balanceada", explica.
O transtorno é considerado um distúrbio alimentar caracterizado pela ingestão exagerada de alimentos, que ocorre mesmo quando a pessoa está, teoricamente, sem fome.
“É como se fosse um bebê, quando ele está nervoso, oferecemos comida e ele se acalma. Logo aprende que aquilo [a alimentação] é o que alivia a tensão do momento”, explica a psiquiatra sobre os sinais da compulsão.
Luisa Forte relacionou o problema ao dia-a-dia de uma sociedade que exige cada vez mais das pessoas em um mundo “ansiogênico” – capaz de induzir ansiedade.
De acordo com ela, a compulsão alimentar não aparece sozinha, já que por trás da doença pode haver outros transtornos mentais.
“Geralmente o problema por trás [da compulsão alimentar] pode ser a ansiedade, depressão ou uma preocupação em excesso com alguma coisa. A pessoa tende a aliviar esses sentimentos na hora de comer”, disse.
Diferente de “beliscar” entre uma refeição e outra, os episódios de compulsão alimentar são mais bem definidos, podendo durar de 20 minutos a duas horas. Durante esse período, a pessoa permanece ingerindo uma quantidade de comida superior ao normal.
Segundo a psiquiatra, é normal que, após a compulsão, a pessoa sinta culpa.
“A pessoa compulsiva se alimenta já se sentindo culpada. Após o episódio de compulsão alimentar, ela também pode sentir culpa e procurar formas de ‘purgar’ a comida”, explica Luisa Fortes, sobre o hábito de vomitar ou tomar laxantes após as refeições.
Para o diagnóstico, é preciso levar em conta a regularidade dos períodos de compulsão alimentar. Caso se repita mais de uma vez por semana durante três meses, pode se tratar de uma pessoa compulsiva.
É comum que o transtorno cause nervosismo e sensação de culpa nos pacientes diagnosticados. A compulsão pode, ainda, levar à obesidade, já que, diferente da bulimia - transtorno alimentar que faz com que a pessoa vomite ou utilize outros métodos para burlar a digestão da comida - o compulsivo não tende a vomitar ou cuspir o que ingeriu.
"A maioria das pessoas que possuem transtorno compulsivo alimentar é obesa, pois elas não tendem a 'purgar' após ingerir as refeições", explicou.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 2,6% da população vive com o transtorno de compulsão alimentar, sendo que o Brasil ostenta uma das maiores taxas, com 4,7%.
Corpo e mente
A psiquiatra explicou que o mecanimo de compulsão, seja pela droga, compras ou sexo, funciona através de um sistema de recompensa cerebral, que libera dopanima - "hormônio do prazer" - em excesso no organismo do paciente.
"Falando da alimentação, o cérebro gera uma memória de prazer e tranquilidade relacionada à comida. Para o paciente compulsivo estar calmo, ele precisa estar de estômago cheio. Durante o tratamento orientamos a procurar outros tipos de prazer", disse.
De acordo com ela, o tratamento une cuidados direcionados ao corpo e a mente do paciente, já que ele precisa reeducar o cérebro sobre a relação com a comida. A psiquiatra explicou que, em alguns casos, é preciso uso de medicamentos antidepressivos ou ansíoliticos para tratar o que está "por trás" do comportamento compulsivo.
"O paciente precisa tratar a mente e o corpo. A mente através do acompanhamento psquiátrico e psicólogo, que vai tratar a relação dele com a comida. Também orientamos a procurar um nutricionista para reeducar a alimentação. O medicamento pode aliviar a tirar o foco da pessoa dos pensamentos sobre comer", explicou.
Luisa Forte disse que é comum uma pessoa compulsiva pensar em comida durante todo o dia, além de sempre fazer uma refeição pensando na próxima.
"Ele [o paciente] vai aprender através da terapia e da nutrição uma outra forma de se relacionar com a comida", afirma.
Porém, de acordo com a psiquiatra, é preciso que o paciente esteja disposto a tratar o transtorno alimentar, além de diagnosticar outros possíveis transtornos que podem ser relacionandos ao surgimento da compulsão.
"O paciente precisa querer e reconhecer que tem um problema. É uma condição que pode ser revertida com o tratamento correto, não precisamos viver para comer e sim comer para viver", avaliou Luisa Fortes.
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