Cuiabá, Quinta-Feira, 3 de Julho de 2025
AMOR E CURA
22.03.2019 | 17h07 Tamanho do texto A- A+

Para superar depressão, voluntária cria ONG para resgatar animais de rua

Há 6 anos, "Cão Cuidado Cão Amor" nascia em meio a um momento turbulento da família: a luta contra o câncer do filho adolescente da pedagoga Ângela Furtado

Jana Pessôa/Secom-MT

Na época com 14 anos, filho dela foi diagnosticado com leucemia; tratamento durou cinco anos

Na época com 14 anos, filho dela foi diagnosticado com leucemia; tratamento durou cinco anos

DA REDAÇÃO

Há seis anos a vida da pedagoga cuiabana Ângela Furtado, 50 anos, mudou para sempre. O filho, com 14 anos à época, foi diagnosticado com leucemia. Começava, então, um tratamento de cinco anos para combater o câncer, que entrou em remissão um ano atrás.

 

Foram sessões de quimioterapia, internações que duravam semanas, complicações, e idas e vindas ao Hospital de Câncer de Mato Grosso (HCan), que se tornou um espaço compartilhado com as famílias de outros adolescentes e crianças na mesma situação.

 

“O hospital foi sendo uma espécie de segunda casa e as pessoas se tornaram uma segunda família, já que convivia mais com elas do que dentro do meu próprio lar”, lembra Ângela.

 

É claro, durante todo esse processo, os desgastes mental e físico chegaram e, com eles, a depressão.

 

Jana Pessôa/Secom-MT

CAO CUIDADO

 Filho de Ângela viu mais de 50 amigos morrerem durante tratamento 

“Nos primeiros três anos de tratamento, meu filho perdeu mais de 50 amigos, feitos no hospital, para a doença. Era difícil não se abalar e não questionar se a nossa vez chegaria. Nesse meio todo, desenvolvi alguns transtornos, como ansiedade, e cheguei a pensar em suicídio. Também entendi que precisava fazer alguma atividade que tivesse relação com vida, com sobrevivência”, relata.

 

Em meio a esse caos o Pitoco chegou. Um cachorro, como o próprio nome diz, miúdo e doente, recolhido pouco antes de ir para o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ).

 

“Minha irmã, Vanessa, e eu sempre resgatamos cachorros de rua, mas de forma muito esporádica. Às vezes acolhíamos por um tempo, para um tratamento ou outro, mas logo conseguíamos alguém para adotar. O Pitoco foi trazido por uma conhecida à época, que me informou que ele seria sacrificado porque estava com câncer. Impossível não relacionar com a minha vida naquele momento. Então, com postagens em redes sociais, comecei a chamar atenção de algumas pessoas e conseguimos o tratamento e ele sobreviveu. Neste momento algo despertou em mim”.

 

A virada

 

Além desse despertar, Ângela foi percebendo a diferença positiva relacionada aos animais em casa com o tratamento do filho (e dela mesma).

 

“Meu filho não podia sair de casa. Estava no começo da adolescência, uma fase de mais descobertas e amizades mas que se resumiu a estar dentro do hospital. Nós tínhamos cinco cachorros em casa, nossos mesmos, e percebia como eles faziam bem, porque era um momento de alegria e de esquecer todos os problemas. Esse movimento me levou a criar o primeiro projeto voltado para o resgate de animais”, completa a pedagoga.

 

O projeto, feito em 2014, era o Lar Temporário Cão Cuidado Cão Amor, que cresceu, ganhou voluntários e, em 2016, passou a ser a Organização Não Governamental (ONG) Cão Cuidado Cão Amor. Hoje, além da própria Ângela e da irmã, a ONG conta com mais 10 pessoas na diretoria.

 

A ONG foi fundamental para dar visibilidade ao projeto e também dar mais transparência para doações ou ajudas com tratamentos e parcerias com entidades públicas ou privadas. Um carro-chefe da entidade, por exemplo, é o projeto Cão Terapia, que leva cachorros que estão no abrigo - e saudáveis - para visitar crianças internadas em quadros graves ao Hospital Universitário Júlio Müller.

 

“Curados, eu e meu filho temos como objetivo provocar pessoas, sensibilizá-las. Mudanças reais acontecem com provocações. Quero mostrar que adotar é lindo, é um ato de amor. Sei que as coisas estão mudando, que hoje as pessoas não têm mais tanta vergonha em demonstrar amor por um animal, o que antes era visto até com certo receio. O câncer e a depressão foram divisores de águas pra mim e o que espero é que os animais sejam, finalmente, tratados com respeito. Como qualquer ser vivo merece”, define Ângela Furtado.

 

Vale lembrar que a ONG conduzida por Ângela e Vanessa resgata, em sua maioria, animais frutos de maus-tratos, atropelamentos ou abandono.

 

Doações

 

Nesta semana, a Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania (Setasc) doou cerca de 130 quilos, entre ração e sachês de carne, para cães e gatos a Cão Cuidado Cão Amor.

 

O local abriga cerca de 200 gatos e 70 cachorros, que são abandonados nas ruas da Capital ou ainda recolhidos de casas ou canis ilegais. Para doações ou ajuda in loco, o telefone é (65) 99962-2955.

 

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Paula  22.03.19 20h38
Até me emocionei!!! Parabéns pela iniciativa!!!
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