A possibilidade de reajuste da tarifa de ônibus em Cuiabá para R$ 3,80, conforme proposto por empresários do setor de transporte público, tem causado indignação nos usuários de um serviço, que há décadas deixa a desejar na cidade.
Falta de veículos, frota em mau estado de conservação, alto custo da passagem e superlotação em horários de pico fazem parte do cotidiano do cuiabano que depende do transporte público.
A situação do transporte público na Capital, relatada pelos usuários, contrasta com o reajuste, que deve ser definido em um prazo de 30 dias.
Com o aumento, a cidade terá a tarifa mais cara do Brasil, no mesmo patamar de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Na capital paulista, pelos mesmos R$ 3,80, é possível cruzar a cidade pelo metrô.
Caso o valor pretendido pelos empresários seja mesmo acatado, a tarifa terá subido 22%, o dobro da inflação no período de um ano.
Atualmente, a tarifa dos ônibus custa R$ 3,10, preço adotado desde 26 de janeiro do ano passado.
O novo custo da passagem será decidido pelo Conselho Municipal do Transporte, que é presidido pelo secretário Municipal de Mobilidade Urbana de Cuiabá, Thiago França.
A correção na passagem é feita anualmente com base nos custos das empresas com veículos, salários dos funcionários, desgaste dos pneus, valores das peças de reposição e insumos básicos.
Surpreso com o valor que a passagem de ônibus pode atingir, o pedreiro Euclides Ferreira lamenta a situação. Ele mora no bairro Jardim Vitória, em Cuiabá, e conta que tem dificuldades com o transporte.
“Esse valor é um roubo, porque onde moro, sempre temos que deixar os primeiros ônibus passarem, porque normalmente eles estão lotados e não cabe mais ninguém”, diz.
Os problemas ocasionados pelo transporte público acabam afetando a vida do pedreiro, conforme relata.
“Atualmente, o transporte em Cuiabá é uma vergonha. Mesmo acordando no horário certo, você chega atrasado no serviço por causa dos ônibus”, conta.
Na Grande Cuiabá, conforme a Associação Mato-grossense dos Transportadores Urbanos (MTU), cerca de 280 mil pessoas utilizam o transporte público diariamente. Na região, circulam 450 veículos para atender toda a população.
A Capital possui três empresas de transporte público: Integração, Pantanal e Norte Sul.
A auxiliar de serviços gerais, Andréa Neves, utiliza ônibus todos os dias. Ela não concorda com o aumento, pois condena a qualidade do serviço.
“É um absurdo esse aumento no preço da passagem. Os ônibus não têm segurança, estão velhos e, mesmo com esse aumento, não devem ter melhorias. Esse preço não corresponde à qualidade apresentada”, diz.
No final do ano, o prefeito Mauro Mendes (PSB) já havia adiantado o reajuste.
“A tarifa segue modelo nacional e de uma planilha que já foi auditada pelo Ministério Público. O valor do combustível aumentou e muito, manutenção aumentou, tudo aumentou. Ninguém pode imaginar que a tarifa vá continuar a mesma em Cuiabá e nem em lugar nenhum do Brasil”, disse, à época.
Empresas alegam dificuldades
As empresas têm alegado que não conseguem quitar as despesas de pessoal, nem arcar com os gastos realizados com combustíveis e manutenção da frota, informou a MTU.
Marcus Mesquita/MidiaNews
Estudante conta que o transporte público em São Paulo é caro, porém, tem mais qualidade
Os empresários também argumentam que o cancelamento, pelo Governo do Estado, da isenção da cobrança do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o valor do óleo diesel é mais um dos fatores que influenciam no aumento.
O Governo do Estado informou, na última terça-feira (12), por meio da Secretaria de Fazenda (Sefaz), que não vai abrir mão da cobrança do ICMS, uma vez que a lei que dava isenção era ilegal.
A Agência Municipal de Regulação de Serviços Delegados de Cuiabá (Arsec) publicou, na quinta-feira (14), uma planilha sobre o novo valor da tarifa.
Segundo o documento da Arsec, feito a partir de gastos apresentados por empresários do setor, caso fosse mantida a isenção do ICMS, a tarifa do ônibus seria reajustada para R$ 3,63.
O estudante Kauê Cruz é usuário frequente do transporte público da Capital e diz que costuma enfrentar problemas nos veículos da Capital.
“Eu acho esse valor bem caro, porque os ônibus estão em péssimas condições. Hoje mesmo, estava em um veículo que quebrou e fiquei quase meia-hora esperando outro”, argumenta.
O rapaz nasceu em São Paulo e conta que a região paulista possui transporte com mais qualidade e conforto que a capital mato-grossense.
“A situação em Cuiabá poderia melhorar, sim. Eu sou de São Paulo e o transporte público lá também é caro, mas os ônibus são muito melhores. Aqui tem pouca linha para muita gente”, pontua.
Segundo informações da MTU, os horários com mais fluxo nos ônibus são, no período da manhã, das 6h às 7h30. Durante a noite, o momento de pico é das 17h30 às 19h30.
Durante os períodos com maior fluxo, há mais veículos nas ruas. As frotas recebem, nesses horários, acréscimo de 60% em seu contingente.
Ar-condicionado
A estudante Ana Paula de Lara reclama do calor que enfrenta diariamente nos veículos. A superlotação dos ônibus também colabora para esquentar o clima dentro do transporte.
“Esse aumento é um absurdo. Os ônibus estão ruins, não têm nem ar-condicionado. Eles sempre quebram e muitas vezes acabo chegando atrasada no serviço”, diz.
Ela contou que uma das principais medidas deveria ser melhorar a climatização dentro dos carros.
“Em vez de colocarem ar-condicionado, que tem mais a ver com o clima de Cuiabá, colocaram umas televisões que nem sei pra que servem”, comenta.
A MTU informa que Somente 15% de toda a frota que circula na Grande Cuiabá possui ar-condicionado.
Os empresários do setor alegam que a falta de refrigeração nos veículos ocorre em razão do encarecimento dos custos, que seriam inflacionados com a implantação de aparelhos de ar condicionado.
Protesto
Um grupo de ativistas sociais está organizando um ato contra o aumento nas passagens de ônibus de Cuiabá. O evento está marcado para 26 de janeiro, na Praça Alencastro.
Marcus Mesquita/MidiaNews
Usuários acreditam que novo valor da tarifa não corresponde ao que é oferecido pelas empresas de transporte
Em diversos pontos de Ônibus da Capital, há panfletos anunciando a ação. Nas redes sociais, também há pessoas se mobilizando para o evento.
Conforme representantes da manifestação, o principal objetivo do ato é conseguir impedir o reajuste.
Investigações
O Ministério Público Estadual (MPE) possui um inquérito em andamento apurando a qualidade do transporte coletivo em Cuiabá. O órgão, porém, não deu detalhes sobre a investigação.
Ainda conforme o MPE, em 2008 foi proposta uma Ação Civil Pública com o objetivo de impedir que houvesse alteração nos preços das passagens de ônibus em Cuiabá sem que fossem regularizados os cálculos tarifários.
O MP perdeu a ação na primeira instância e recorreu no Tribunal de Justiça. O caso ainda não foi julgado e aguarda decisão.
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22 Comentário(s).
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Felipe 19.01.16 09h03 | ||||
Pensamento de um político..."relaxa a população vai resmungar no começo, mas depois de uma semana,eles estarão aceitando o ferro" | ||||
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ranyer amaro 19.01.16 08h34 | ||||
todos para as ruas dia 17/01 mostrar a cara e a força | ||||
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Marcos Vincius 19.01.16 02h15 | ||||
Transporte publico? eu pago então é transporte coletivo. | ||||
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Rodrigo Rocha 19.01.16 01h37 | ||||
Esse pessoal pensa da seguinte forma: "precisamos subir para uns R$ 3.60, mas se anunciar isso de cara teremos uma grande muvuca. Vamos apresentar um valor mais alto: R$ 3.80, dai a gente diz que vai repensar e abaixa então para R$ 3.60, que é o que queremos". E a muvuquinha acha que saiu vitoriosa. Precisamos ser colonizados pelo Japão, só vejo essa salvação para tanta pilantragem e corrupção, meu irmão. Não quis rimar, não. | ||||
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brasileiro 18.01.16 18h37 | ||||
como é engraçado! só não pode aumentar o preço do onibus, mas o resto pode! bando de hipócritas | ||||
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