Cuiabá, Sábado, 5 de Julho de 2025
LAÇO DE AMOR
25.12.2018 | 09h52 Tamanho do texto A- A+

Mãe e bebê prematura celebram o primeiro Natal: "Só gratidão"

Filha de publicitária nasceu com 31 semanas; mãe relata "maratona hospitalar" e comemora vitória

Divulgação

Andreia Aparecida Reis e a filha, Ana Beatriz:

Andreia Aparecida Reis e a filha, Ana Beatriz: "Ela veio para me 'serenizar'"

DA REDAÇÃO

O Natal deste ano tem um signficado especial para a publicitária Andreia Aparecida Reis, de 42 anos. Será o primeiro que passará com a filha Ana Beatriz, que venceu todos os obstáculos após um nascimento prematuro, ainda na 31ª semana de gestação. Para a mãe, a data tornou-se sinônimo de conquista e gratidão. 

   

“Só tenho a agradecer. Toda a equipe do hospital foi importante nessa jornada – sempre com um sorriso no rosto e uma palavra de carinho. Quando você passa pela UTI Neonatal, nasce uma outra mãe. Você desacelera. Não tem pressa para levar seu filho embora para casa, o que quer é levá-lo saudável. Em casa, você nem liga de acordar de noite, só agradece. A  Ana Beatriz veio para me ‘serenizar' e aprender a ver tudo de forma diferente. Minha maior reflexão”, afirmou, emocionada.

  

A vitória de Ana Beatriz representa uma evolução importante no cuidado com prematuros em todo o mundo. Na década de 1990, apenas 60% dos bebês nascidos antes de completar 37 semanas de gestação conseguiam sobreviver. Hoje, esse número já alcança 95%, segundo a pesquisa Born Too Soon da Organização Mundial da Saúde (OMS), com base em dados de 184 países.

 

No Brasil, aproximadamente 10% dos bebês nascem antes do tempo, ou seja, com menos de 37 semanas de gestação, segundo dados do Ministério da Saúde. Ou seja, um a cada 10.

 

Prevista para nascer no dia 24 de outubro deste ano - quando completaria 40 semanas de gestação -, a pequena Ana Beatriz deu um susto na mãe após apenas 31 semanas de gestação. A publicitária relata que a gravidez foi inesperada e a antecipação da data do parto fez com que ela e o marido, Benedito Alves Ferraz Jr., embarcassem em uma montanha russa de emoções – passando da alegria mais transbordante até o abismo mais inquietante.     

 

Divulgação

Andreia Aparecida Reis

Andreia conta que descobriu a gravidez inesperada já na 8ª semana de gestação

“Minha gravidez foi de susto. Uma crise de enxaqueca me levou ao Pronto Atendimento no meu aniversário e, lá, descobri que estava de oito semanas. A gestação em si foi tranquila até que, quando comecei a entrar no terceiro trimestre, uma leve dor de cabeça me fez ligar o sinal de alerta. Por desencargo, aferi minha pressão – que sempre foi baixa – e ela estava alta", disse.

 

Maratona hospitalar

 

Com a pressão em 17 por 11 detectada na triagem, Andreia deu início à uma série de exames – entre eles, a ultrassonografia.

 

“Fui internada em regime de urgência para não correr riscos com a minha vida e a da bebê. Estava com um quadro de pré-eclâmpsia com início de derrame placentário. Eu não entendia o que era isso e por qual motivo não tinha sintomas. Mas, tinha percebido que minha barriga e a bebê tinham parado de crescer”, lembrou.   

  

“Tivemos que internar a Andreia, pois a pressão estava descontrolada. Por conta desse quadro, tínhamos a perspectiva de que o bebê iria nascer antes do tempo ideal”, explicou a pediatra neonatologista Paula Gattass Bumlai, gestora médica da UTI Neonatal do Hospital Santa Rosa, em Cuiabá, onde a publicitária ficou internada.
  
Foram 30 dias de hospital entre repouso absoluto, maratonas de exames e aplicações de injeções de corticoide para amadurecer o pulmão de Ana Beatriz. Até que, no dia 28 de agosto, o coraçãozinho da pequena emitiu um alerta: a bebê estava entrando em sofrimento fetal.

 

“Percebi que o semblante da médica mudou com o exame. Fiquei apreensiva. Ela ia nascer. Depois, recebi a notícia de que estavam aguardando uma vaga na UTI Adulta para realizarem o parto. Por conta da pressão alta, havia risco para mim”, recordou Andreia.  
  
A publicitária logo mobilizou o marido para que, durante o parto, permanecesse atento à bebê, pois a orientação era de que ela iria nascer e seguir direto para a UTI Neonatal.

 

“Alertaram que a Ana Beatriz poderia nem passar por mim, nem choraria – poderia ter que ir direto para a incubadora para ser intubada por conta da prematuridade. No entanto, ao contrário do que se esperava, ela chorou. Bastante e alto. Eles a trouxeram para me ver. Ela conseguia respirar sozinha. Foi um sonho”, disse.     

Quando você trabalha a gravidez na sua cabeça, imagina que seu bebê irá nascer igual na fotografia do pacote de fraldas. Certo? Mas, ao chegar lá e me mostrarem ela, era a menor

Semanas na UTI

 

Entrar pela primeira vez em uma UTI Neonatal se tornou o próximo desafio para os pais. A mãe contou que ficou com a imagem da filha na incubadora gravada a memória.

 

“Quando você trabalha a gravidez na sua cabeça, imagina que seu bebê irá nascer igual na fotografia do pacote de fraldas. Certo? Mas, ao chegar lá e me mostrarem ela, era a menor. Toda ‘transparente’, com as veias aparentes, os dedinhos extremamente finos e os pés magrinhos – só pele e osso. Ao respirar, dava pra ver a costela. Tinha 900 gramas e 32, 5 centímetros – quando o normal seria 2.500 gramas e 50 centímetros”, relembrou.
  
Logo, a incubadora se converteu numa extensão do útero materno. “E há todo um processo de conscientização. De receber as notícias: as primeiras 24 horas, depois as primeiras 48 horas e os primeiros sete dias. É uma fragilidade sem fim. Máquinas apitando aos montes, sondas, tubos, medicações sendo aplicadas e gramas evoluindo e regredindo. Você passa a agradecer por cada dia. Por cada conquista. Ouvir que não houve ‘intercorrência’ ou piora se torna incrível”, ressaltou.   
  
Ao longo dessa experiência assistida por médicos e enfermeiros, Andreia comenta que assumiu o papel de "super-heroína" pelas duas.

 

“Uma das piores coisas que te perguntam nesse período é: ‘quando você vai levar seu bebê para casa?’. Não há previsão até que aconteça. É preciso ter fé. Confiar nos profissionais e em Deus. Se fosse pra chorar, que fosse do lado de fora da UTI. Ali, precisava ser forte por ela. Levar toda a alegria do mundo. Falar para ela lutar por nós”, ponderou.   
  
A publicitária, sem hesitar, sabe listar em ordem cronológica todos os procedimentos realizados nesse percurso.

 

“Para deixar o clima mais leve falava que, se o parto dela estava previsto para acontecer em 24 de outubro, daria dois dias de tolerância. E não é que a Ana Beatriz, mesmo com contratempos, foi ganhando peso e evoluindo. Com 30 dias na UTI, as enfermeiras me surpreenderam: além dela estar sem o tubo de oxigênio na incubadora decorada para o ‘mêsversário’ [algo que já representava puro carinho e cuidado], eu a pegaria no colo pela primeira vez. Foi a maior emoção do mundo. Ao completar dois meses exatos, no dia 28 de outubro, ela teve alta – quase como ‘determinei’”, contou.   
  

Divulgação

Andreia Aparecida Reis e o marido

Andreia ao lado do marido, Benedito Alves, e com a filha, Ana Beatriz: "Só tenho a agradecer"

Escola da maternidade

 

Durante o período de internação, Andreia ressaltou ter entrado em um "microcosmo particular de aprendizado".

 

“Com toda a paciência, médicas e enfermeiras, bem como tantas outras profissionais, te orientam a pegar o bebê no colo, a ordenhar o seio de forma correta para tirar o leite, amamentar certinho, trocar fralda, limpar, fazer a higienização do bebê, dar banho corretamente, desobstruir a narina e por aí vai. É uma escola. Você sai de lá apta a cuidar do seu filho com mais tranquilidade. Entre as mães de UTI, também se cria uma corrente do bem. Uma auxilia e acalma a outra”, enfatizou.

 

Segundo a médica Paula Bumlai, que acompanhou todo o processo, apesar do lado "assustador", a UTI Neonatal também tem seu lado positivo.

 

"Além da fase de amadurecimento que as mães passam, elas encaram dias de treinamento para aprender a lidar com esses prematuros. Um preparo que é intenso depois da fase crítica. A equipe de profissionais oferece todo o suporte pré-alta para que as famílias saiam da UTI confiantes, com a maior segurança possível”, reforçou. 

 

A médica complementa que "quanto maior ou menor a idade da mãe, os extremos de idade materno, maiores as chances de prematuridade".

 

"Gestações gemelares também apresentam uma pré-disposição. Infecções durante a gravidez, problemas ginecológicos, alterações no organismo são outros fatores. Mas, a maioria pode ser prevenido com acompanhamento médico. Por isso, a importância em fazer um pré-natal desde o início, estar bem informada e com as vacinas em dia – seguindo sempre as recomendações médicas", pontuou.

Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).




Clique aqui e faça seu comentário


COMENTÁRIOS
2 Comentário(s).

COMENTE
Nome:
E-Mail:
Dados opcionais:
Comentário:
Marque "Não sou um robô:"
ATENÇÃO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. Comentários ofensivos, que violem a lei ou o direito de terceiros, serão vetados pelo moderador.

FECHAR

DANIELA DAIANE DE SOUZA PINHEIRO  26.12.18 12h15
Realmente emoções a mil............ Já passei por isso por duas vezes.... e nunca me deixei abalar, sempre crendo em DEUS e o apoio de toda familia. Hj a minha vitória se chama DEUS, Davi e Maria Isis... MEUS ETERNOS AMORES.
3
0
Mário Márcio da Costa e silva  26.12.18 08h54
Parabéns aos pais e principalmente a cuiabaninha Ana Beatriz muitas felicidades a nova geração de guerreiras .
3
0