O Natal deste ano tem um signficado especial para a publicitária Andreia Aparecida Reis, de 42 anos. Será o primeiro que passará com a filha Ana Beatriz, que venceu todos os obstáculos após um nascimento prematuro, ainda na 31ª semana de gestação. Para a mãe, a data tornou-se sinônimo de conquista e gratidão.
“Só tenho a agradecer. Toda a equipe do hospital foi importante nessa jornada – sempre com um sorriso no rosto e uma palavra de carinho. Quando você passa pela UTI Neonatal, nasce uma outra mãe. Você desacelera. Não tem pressa para levar seu filho embora para casa, o que quer é levá-lo saudável. Em casa, você nem liga de acordar de noite, só agradece. A Ana Beatriz veio para me ‘serenizar' e aprender a ver tudo de forma diferente. Minha maior reflexão”, afirmou, emocionada.
A vitória de Ana Beatriz representa uma evolução importante no cuidado com prematuros em todo o mundo. Na década de 1990, apenas 60% dos bebês nascidos antes de completar 37 semanas de gestação conseguiam sobreviver. Hoje, esse número já alcança 95%, segundo a pesquisa Born Too Soon da Organização Mundial da Saúde (OMS), com base em dados de 184 países.
No Brasil, aproximadamente 10% dos bebês nascem antes do tempo, ou seja, com menos de 37 semanas de gestação, segundo dados do Ministério da Saúde. Ou seja, um a cada 10.
Prevista para nascer no dia 24 de outubro deste ano - quando completaria 40 semanas de gestação -, a pequena Ana Beatriz deu um susto na mãe após apenas 31 semanas de gestação. A publicitária relata que a gravidez foi inesperada e a antecipação da data do parto fez com que ela e o marido, Benedito Alves Ferraz Jr., embarcassem em uma montanha russa de emoções – passando da alegria mais transbordante até o abismo mais inquietante.
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Andreia conta que descobriu a gravidez inesperada já na 8ª semana de gestação
Maratona hospitalar
Com a pressão em 17 por 11 detectada na triagem, Andreia deu início à uma série de exames – entre eles, a ultrassonografia.
“Fui internada em regime de urgência para não correr riscos com a minha vida e a da bebê. Estava com um quadro de pré-eclâmpsia com início de derrame placentário. Eu não entendia o que era isso e por qual motivo não tinha sintomas. Mas, tinha percebido que minha barriga e a bebê tinham parado de crescer”, lembrou.
“Tivemos que internar a Andreia, pois a pressão estava descontrolada. Por conta desse quadro, tínhamos a perspectiva de que o bebê iria nascer antes do tempo ideal”, explicou a pediatra neonatologista Paula Gattass Bumlai, gestora médica da UTI Neonatal do Hospital Santa Rosa, em Cuiabá, onde a publicitária ficou internada.
Foram 30 dias de hospital entre repouso absoluto, maratonas de exames e aplicações de injeções de corticoide para amadurecer o pulmão de Ana Beatriz. Até que, no dia 28 de agosto, o coraçãozinho da pequena emitiu um alerta: a bebê estava entrando em sofrimento fetal.
“Percebi que o semblante da médica mudou com o exame. Fiquei apreensiva. Ela ia nascer. Depois, recebi a notícia de que estavam aguardando uma vaga na UTI Adulta para realizarem o parto. Por conta da pressão alta, havia risco para mim”, recordou Andreia.
A publicitária logo mobilizou o marido para que, durante o parto, permanecesse atento à bebê, pois a orientação era de que ela iria nascer e seguir direto para a UTI Neonatal.
“Alertaram que a Ana Beatriz poderia nem passar por mim, nem choraria – poderia ter que ir direto para a incubadora para ser intubada por conta da prematuridade. No entanto, ao contrário do que se esperava, ela chorou. Bastante e alto. Eles a trouxeram para me ver. Ela conseguia respirar sozinha. Foi um sonho”, disse.
Semanas na UTI
Entrar pela primeira vez em uma UTI Neonatal se tornou o próximo desafio para os pais. A mãe contou que ficou com a imagem da filha na incubadora gravada a memória.
“Quando você trabalha a gravidez na sua cabeça, imagina que seu bebê irá nascer igual na fotografia do pacote de fraldas. Certo? Mas, ao chegar lá e me mostrarem ela, era a menor. Toda ‘transparente’, com as veias aparentes, os dedinhos extremamente finos e os pés magrinhos – só pele e osso. Ao respirar, dava pra ver a costela. Tinha 900 gramas e 32, 5 centímetros – quando o normal seria 2.500 gramas e 50 centímetros”, relembrou.
Logo, a incubadora se converteu numa extensão do útero materno. “E há todo um processo de conscientização. De receber as notícias: as primeiras 24 horas, depois as primeiras 48 horas e os primeiros sete dias. É uma fragilidade sem fim. Máquinas apitando aos montes, sondas, tubos, medicações sendo aplicadas e gramas evoluindo e regredindo. Você passa a agradecer por cada dia. Por cada conquista. Ouvir que não houve ‘intercorrência’ ou piora se torna incrível”, ressaltou.
Ao longo dessa experiência assistida por médicos e enfermeiros, Andreia comenta que assumiu o papel de "super-heroína" pelas duas.
“Uma das piores coisas que te perguntam nesse período é: ‘quando você vai levar seu bebê para casa?’. Não há previsão até que aconteça. É preciso ter fé. Confiar nos profissionais e em Deus. Se fosse pra chorar, que fosse do lado de fora da UTI. Ali, precisava ser forte por ela. Levar toda a alegria do mundo. Falar para ela lutar por nós”, ponderou.
A publicitária, sem hesitar, sabe listar em ordem cronológica todos os procedimentos realizados nesse percurso.
“Para deixar o clima mais leve falava que, se o parto dela estava previsto para acontecer em 24 de outubro, daria dois dias de tolerância. E não é que a Ana Beatriz, mesmo com contratempos, foi ganhando peso e evoluindo. Com 30 dias na UTI, as enfermeiras me surpreenderam: além dela estar sem o tubo de oxigênio na incubadora decorada para o ‘mêsversário’ [algo que já representava puro carinho e cuidado], eu a pegaria no colo pela primeira vez. Foi a maior emoção do mundo. Ao completar dois meses exatos, no dia 28 de outubro, ela teve alta – quase como ‘determinei’”, contou.
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Andreia ao lado do marido, Benedito Alves, e com a filha, Ana Beatriz: "Só tenho a agradecer"
Escola da maternidade
Durante o período de internação, Andreia ressaltou ter entrado em um "microcosmo particular de aprendizado".
“Com toda a paciência, médicas e enfermeiras, bem como tantas outras profissionais, te orientam a pegar o bebê no colo, a ordenhar o seio de forma correta para tirar o leite, amamentar certinho, trocar fralda, limpar, fazer a higienização do bebê, dar banho corretamente, desobstruir a narina e por aí vai. É uma escola. Você sai de lá apta a cuidar do seu filho com mais tranquilidade. Entre as mães de UTI, também se cria uma corrente do bem. Uma auxilia e acalma a outra”, enfatizou.
Segundo a médica Paula Bumlai, que acompanhou todo o processo, apesar do lado "assustador", a UTI Neonatal também tem seu lado positivo.
"Além da fase de amadurecimento que as mães passam, elas encaram dias de treinamento para aprender a lidar com esses prematuros. Um preparo que é intenso depois da fase crítica. A equipe de profissionais oferece todo o suporte pré-alta para que as famílias saiam da UTI confiantes, com a maior segurança possível”, reforçou.
A médica complementa que "quanto maior ou menor a idade da mãe, os extremos de idade materno, maiores as chances de prematuridade".
"Gestações gemelares também apresentam uma pré-disposição. Infecções durante a gravidez, problemas ginecológicos, alterações no organismo são outros fatores. Mas, a maioria pode ser prevenido com acompanhamento médico. Por isso, a importância em fazer um pré-natal desde o início, estar bem informada e com as vacinas em dia – seguindo sempre as recomendações médicas", pontuou.
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2 Comentário(s).
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DANIELA DAIANE DE SOUZA PINHEIRO 26.12.18 12h15 | ||||
Realmente emoções a mil............ Já passei por isso por duas vezes.... e nunca me deixei abalar, sempre crendo em DEUS e o apoio de toda familia. Hj a minha vitória se chama DEUS, Davi e Maria Isis... MEUS ETERNOS AMORES. | ||||
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Mário Márcio da Costa e silva 26.12.18 08h54 | ||||
Parabéns aos pais e principalmente a cuiabaninha Ana Beatriz muitas felicidades a nova geração de guerreiras . | ||||
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