Em vídeo que integra as investigações da Operação Ventríloquo, o advogado Julio César Rodrigues, lobista e novo delator do esquema, reclamou ao também advogado e delator Joaquim Mielli, que o deputado estadual Romoaldo Junior (PMDB) estaria lhe cobrando um valor indevido no esquema.
A gravação da reunião, ocorrida no dia 5 de maio de 2014, foi feita pelo próprio Julio César e entregue ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado,
como parte do acordo de colaboração premiada firmado entre eles. Já Mielli poderá ter a delação anulada por tentar ocultar a participação do deputado.
O esquema apura suposto desvio de R$ 9,4 milhões da Assembleia Legislativa, ocorrido em 2014 por meio do pagamento de uma dívida de um seguro contraído pelo órgão com o antigo banco Bamerindus – atual HSBC. A maior parte do montante teria “retornado” aos membros da organização criminosa.
Na conversa com Joaquim Mielli, Julio César reclamou que, além dos R$ 590 mil combinados, Romoaldo queria receber mais R$ 200 mil do esquema. Conforme o lobista, se isso ocorresse, teria que retirar o dinheiro do lucro dele para passar ao deputado (veja o vídeo abaixo)
O advogado Julio César Rodrigues, lobista e novo delator do esquema
Julio César: “Num tá certo esse negócio. Então o negócio é o seguinte: eu num vou pagar essa conta sozinho [...] Você vai me dar o papel, eu vou me sentar na frente do [José] Riva e vou fechar os 45% com ele.
Joaquim Mielli: “Fecha isso com ele”.
Julio César: “E se ele perguntar ‘e o restante’, eu vou falar que o restante eu já entreguei para o deputado [Romoaldo], já entreguei na casa, aí o senhor se acerta com ele”.
Joaquim Mielli: “Sei não, aí você me joga em um fogo cruzado de um e de outro lá”
Julio César: “Não, o fogo sou eu. Esses caras eu conheço eles há mais de dez anos. O Romoaldo é um tremendo de um picareta há mais de 10 anos. Eu conheço esses caras e sei como se lida com eles. Se eu deixar ele toma do senhor, igual ta querendo tomar o meu. E já levou, e não levou pouco”.
Joaquim Mielli, todavia, pede para Julio César ponderar sobre essa decisão. Ele se referiu aos deputados Riva e Romoaldo como “bandidos” e “malfeitores”.
O lobista, na conversa, mantém a convicção e ainda afirma desconfiar que o assessor de Romoaldo, Francisvaldo Pacheco, o “Dico”, estaria passando parte do dinheiro ao deputado Mauro Savi.
Já Mielli recomenda que Julio César continue a negociar e tente dar uma “canseira” em Romoaldo, porque é Mielli quem possui o dinheiro.
O deputado Romoaldo Junior, criticado por advogados em gravação
Joaquim Mielli: “A minha ideia é você ir lá, entra num consenso, diz que o Joaquim está inseguro, que ta errado isso aí e que ele não vai passar. Entendeu, vamos fazer isso, a minha parte é essa, ta ái o que vocês merecem, combinado? Negocia Julio, dá canseira, dá canseira, entendeu”.
Julio César: “Entendi”.
Joaquim Mielli: “Aí eu tenho como me segurar e você tem como se segurar, entendeu”
Julio César: “Aí o senhor me complica 100%”.
Joaquim Mielli: “ E eu não quero que você se ferre, ta, nunca quis que você se ferrasse”
Em outro trecho da gravação, Joaquim Mielli também reclama de sua fatia no esquema pois, a princípio, pensava em faturar pelo menos R$ 1,2 milhão.
Joaquim Mielli: “Eu tinha a perspectiva de ganhar aqui, Julio, R$ 1,2 milhão, no começo. Puta perspectiva do caramba, e você tinha R$ 1 milhão, que você me falou ‘quero R$ 1 milhão nesse negócio’, mas não, tanto pro cliente, quanto pros dois lados [...] To até com vontade de peitar esses caras [...] Não é nossas expectativas, não é nada, mas é dinheiro, quis ganhar um pouco mais que isso, mas não consegui”.
De acordo com Mielli, o principal problema ocorrido nas tratativas foi a exigência do deputado José Riva em receber 45% do montante. Após, ele disse que não tinha entendido que Romoaldo queria R$ 200 mil a mais e ficou enfurecido com a descoberta.
Joaquim Mielli: “Além dos R$ 550 [mil] tem mais R$ 200 [mil]?
Julio César: “É”
Joaquim Mielli: “Vai se ferrar, não”
Julio César: “Riva é R$ 590 mil, restante dos 45%, certo? Romoaldo ainda quer, meu, 200 pau, juntando ele, Dico e secretário”.
Joaquim Mielli: “Do seu?”.
Julio César: “É”.
Joaquim Mielli: “Ce num paga ué, pronto, ce num paga, porque ce vai pagar? Esses R$ 200 mil a mais aí atrapalha o nosso negócio”.
Outro lado
A asessoria do parlamentar informou que o deputado Romoaldo Junior só irá se manifestar quanto tiver conhecimento do teor da denúncia.
Confira a gravação da conversa entre Julio César e Joaquim Mielli:
A nova denúncia
Na nova denúncia, o MPE afirma que no período compreendido entre os anos de 2013 e 2014, os acusados, bem como outros agentes e Parlamentares Estaduais, "constituíram uma organização criminosa estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com o fito de saquear os cofres públicos, notadamente os recursos públicos da Assembleia Legislativa".
Os promotores esclareceram que os "investigados teriam ocultado e dissimulado a natureza e a origem dos valores provenientes de infração penal (lavagem de capitais)".
Com relação aos parlamentares, as investigações estão em andamento no Tribunal de Justiça, em razão do foro por prerrogativa de função.
O MPE também disse na denúncia que, logo após a deflagração da primeira fase da Operação Ventríloquo, em julho de 2015, já sabendo que tinha sido expedido em seu desfavor mandado de prisão preventiva, Julio Cesar tentou extorquir Romoaldo Júnior a lhe entregar a quantia de R$ 1 milhão, mediante ameaça de entregar à Justiça o áudio de uma conversa mantida entre ambos.
Segundo o apurado, no dia 7 de julho de 2015, por volta das 14 horas, Julio Cesar encaminhou um SMS de seu celular para o telefone do irmão de Romoaldo, Juliano Jorge Boraczynki, exigindo a entrega de dinheiro, sob pena de entregar o áudio ao Gaeco.
Conforme a denúncia, a mensagem encaminhada foi a seguinte: “Tenho seu mano gravado várias vezes...Quero um milhão para segurar a bronca toda..Vocês têm 3 dias”. Logo em seguida encaminhou outra com os seguintes dizeres: “Sim ou não?”.
De acordo com os integrantes do Gaeco, as razões apontadas para embasar o pedido de prisão preventiva de Francisvaldo também se aplicam a Romoaldo e Mielli, já que o "falseamento da verdade com vistas a prejudicar as investigações se deu em conluio e conjugação de esforços dos acima nominados".
No entanto, com relação a Mielli, segundo o Gaeco, é necessário que ocorra o "reconhecimento judicial de causa rescisória da colaboração premiada (já requerido pelo Gaeco e Naco)".
Já em relação a Romoaldo, cuja investigação corre em segunda instância, por força de foro por prerrogativa de função, a legislação proíbe a decretação de prisão preventiva de parlamentar estadual, motivo pelo qual os promotores pediram apenas a decretação da prisão preventiva de seu chefe de gabinete.
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