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26.03.2018 | 15h18 Tamanho do texto A- A+

Delegada diz que ouviu interceptações da ex-amante de Paulo

Alana Cardoso disse que dividiu trabalho de ouvir interceptações com Stringueta

Alair Ribeiro/MidiaNews

A delegada Alana Cardoso, que presta depoimento sobre esquema

A delegada Alana Cardoso, que presta depoimento sobre esquema

LUCAS RODRIGUES E JAD LARANJEIRA
DA REDAÇÃO

A delegada Alana Cardoso prestou depoimento na tarde desta segunda-feira (26) na ação penal que apura os crimes militares relativos ao esquema de interceptações clandestinas que operou no Estado.

 

Ela afirmou que chegou a ficar responsável por ouvir as conversas captadas no celular da publicitária Tatiana Sangalli (ex-amante do ex-secretário Paulo Taques), enquanto o delegado Flávio Stringueta ouvia as interceptações de outros alvos.

 

A audiência foi conduzida pelo juiz Murilo Mesquita, da 11ª Vara Criminal de Cuiabá. Alana chegou a pedir para não ser ouvida, sob o argumento de que já é investigada em procedimento sigiloso no Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas o Conselho de Sentença - formado pelo juiz e por quatro coronéis - rejeitou o requerimento.

 

São réus do esquema o ex-comandante da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa; os coronéis Evandro Alexandre Lesco e Ronelson Barros, ex-chefe e ex-adjunto da Casa Militar, respectivamente; o coronel Januário Batista; e o cabo Gérson Correa Júnior.

 

O esquema funcionava por meio da tática de “barriga de aluguel”, quando números de pessoas que não têm qualquer relação com investigações policiais são inseridos de maneira disfarçada – sob outras identificações –, em pedidos de quebra de sigilos telefônicos feitos à Justiça.

 

Na investigação, Alana foi citada por ter participado da Operação Forti, ocasião em que foram incluídos indevidamente nos pedidos de interceptação de pessoas ligadas ao ex-secretário chefe da Casa Civil, Paulo Taques: Tatiana Sangalli Padilha (ex-amante) e Caroline Mariano dos Santos (ex-assessora).

 

Ela também denunciou ter sido interrogado de forma ilegal pelo então secretário de Estado de Segurança Pública, Rogers Jarbas, que é investigado por ter tentado atrapalhar as investigações. Segundo ela, o objetivo de Rogers era obter informações para atingir o promotor de Justiça Mauro Zaque – ex-secretário de Segurança e autor da denúncia sobre a existência de grampos em Mato Grosso.

 

Delegada evita detalhes (atualizada às 15h24)

 

O advogado Thiago Abreu, que faz a defesa do cabo Gérson Correa, perguntou se foi pedida a interceptação de Tatiana Sangalli e Caroline Mariano na Operação Forti. Porém, a delegada preferiu se reservar ao direito de ficar em silêncio.

Nós trabalhamos juntos: o Dr. Flávio acompanhou uns números e eu outro. Eu ouvi na primeira semana a Tatiana Sangalli

 

A defesa também questionou se houve a chamada Operação Pequi, que teria dado continuidade às interceptações da Forti. 

 

"Esta pergunta faço questão de responder. Isso não aconteceu desta maneira. O que houve foi de conduta minha. Eu pedi para a equipe técnica da Coordenadoria de Inteligência Tecnológica que me informasse se havia alguma forma de preservar alguns números para que fosse direcionados nas listas. Porque tecnicamente o que eu sei é o que interessa na parte operacional, porque eu sempre trabalhei como usuária. Quando uma operação ela é implantada, todos os analistas têm acesso a todos os numeros, então por questão de zelo, eu pedi que prevervasse, para que somente alguns analistas tivessem acesso".

 

"A solução técnica só descobri depois que a investigação iniciou. Eles me disseram que tinha uma solução e fizeram assim, assim e assim... a equipe técnica são servidores da Diretoria de Inteligência".

 

Ouviu interceptações com delegado (atualizada às 15h38)

 

Alana afirmou que trabalhou em conjunto com o delegado Flávio Stringueta na Operação Querubim. Essa operação investigou a suspeita de que Tatiane Sangalli estaria envolvida com o ex-chefe do crime organizado no Estado, João Arcanjo, e que a dupla estaria tramando contra o governador PedroTaques, com a ajuda de Caroline Mariano.

 

Posteriormente, Stringueta afirmou ter descoberto indícios de que a história teria sido inventada por Paulo Taques para poder grampear a ex-amante e a assessora. 

 

"Eu e o Dr. Flávio trabalhamos em conjunto, pois era muito perigoso pra nós e era um assunto muito sério. Era uma ameaça ao governador Pedro Taques, ele havia acabado de tomar posse, e qualquer atentado contra ele seria algo que abalaria tudo".

 

A delegada disse que ela e Stringueta, na primeira quinzena das investigações, dividiram os trabalhos de ouvir as conversas dos alvos.

 

"Nós trabalhamos juntos: o Dr. Flávio acompanhou uns números e eu outro. Eu ouvi na primeira semana a Tatiana Sangalli".

Ela [Selma] fala que eu era subordinada ou ligada ao secretário, o que não era verdade, e o teor daquele ofício me chocou. Eu era subordinada ao Dr. Adriano Peralta

 

"Eu só acompanhei o áudio nos primeiros dias, quando ainda estávamos sob o entendimento de que havia uma ameaça à integridade física do governador e do chefe da Casa Civil. A partir do momento que vi que não havia, eu falei para o Dr. Flávio que não ia mais acompanhar, porque eu estava acumulando dois cargos pesadíssimos dentro da Inteligência".

 

Mais silêncio (atualizada às 16h06)

 

A defesa do coronel Januário Batista questionou o porquê das escutas contra Tatiane Sangalli e Caroline Mariano terem sido estendidas, mas a delegada novamente decidiu ficar em silêncio.

 

Alana afirmou que prefere não falar em razão de as operação Forti e Querubim ainda estarem sob sigilo. 

 

"Chocada" (atualizada às 16h13)

 

Alana relatou que após o esquema dos grampos ter vindo à tona, no ano passado, foi atacada até pelo então secretário de Segurança Pública, Rogers Jarbas.

 

"Eu contei 22 reportagens sobre isso, aí entrei em contato com a Dra. Alessandra Saturnino, porque estávamos sendo acusadas de fatos horríveis, e nós procuramos o Dr. Mauro Zaque para entender o que estava acontecendo".

 

"Eu fiquei chocada, isso causou uma devassa na minha vida pessoal".

 

A delegada questionou o teor do ofício da juíza Selma Arruda, em que era apontada uma suposta relação de subordinação dela com Mauro Zaque.,

 

"Ela [Selma] fala que eu era subordinada ou ligada ao secretário, o que não era verdade, e o teor daquele ofício me chocou. Eu era subordinada ao Dr. Adriano Peralta. Eu ocupei uma função de diretora de Inteligencia e eu nem via o secretário de Segurança, imagina os demais". 

 

Alana disse não se lembrar do que conversou com o promotor Mauro Zaque quando foi pedir auxílio. Ela criticou o fato de ter sido coagida a prestar depoimento a Rogers Jarbas.

 

"Eu fui pega tão desprevenida, que eu estava até sem advogado, porque eu fui atacada. Eu fui realmente ao Dr. Mauro Zaque pedindo ajuda, para que os meus direitos fundamentais fossem preservados. Fui obrigada a prestar um depoimento, questionada sobre coisas que não sabia, fui rechaçada na imprensa, eu fui atacada, e eu vi que tinham também o interesse de atacar o Mauro Zaque".

 

Início da operação (atualizada às 16h48)

 

De acordo com Alana, a notícia sobre o suposto plano contra Pedro Taques, investigada na Operação Querubim, foi relatada a ela pela delegada Alessandra Saturnino.

 

"A Dra. Alessandra me disse que o então chefe da casa civil, Paulo Taques, contou que ele tinha um relacionamento extra conjugal e que ele tomou conhecimento que essa pessoa [Tatiana Sangalli] estava se envolvendo com um desafeto do governador, que seria uma pessoa com muito poder, o senhor João Arcanjo Ribeiro. Ela disse que ele estava muito preocupado, pois essa pessoa seria capaz de cometer um atentado contra a vida dele ou do governador e mencionou que ele tinha percebido que a agenda dele vazava e que ele estava suspeitando de uma pessoa do gabinete que estaria em contato com esta mulher, que seria a Caroline".

 

Alana disse que foi pesquisar a situação de Arcanjo e checou que o mesmo na época estava em um presídio federal e quase tinha voltado para Mato Grosso por conta de um pedido de transferência. 

 

"Naquela pesquisa nós identificamos que naquele final de semana ele [Arcanjo] iria receber uma visita, e aí diante disso havia urgência de tomar providências, ate para saber se essa moça iria visitá-los. Fizemos essas checagens e também investiguei fontes abertas, como Facebook, para saber se havia uma relação entre as duas [Tatiana e Caroline]".

 

Questionada sobre a Operação Pequi, Alana disse que já explicou o caso no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

 

"Eu gostaria muito de responder e esclarecer, mas eu já esclareci no inquérito que está no STJ. Então vou exercer meu direIto de ficar em silêncio".

 

Relatório incompleto (atualizada às 17h10)

 

Alana defendeu que não houve ilegalidade nas escutas feitas nos números de Tatiana e Caroline.

 

"O principal alvo era o reeducando [Arcanjo], não elas, só que não havia contato direto com ele, só com familiares, então nós identificamos que não havia interesse na operação Forti pra prorrogação. Eu fui conversar com o delegado para dar continuação porque havia suspeitas na conduta das mulheres. Chegando lá o Dr. Flávio disse que já havia recebido essa informação através de denúncia anônima".

 

"Esses dois números foram ouvidos só numa quinzena, mas nem todos foram ouvidos, então não há nada de ilegal nesse trabalho".

 

A defesa do coronel Evandro Lesco perguntou o porquê de os números de Tatiana e Caroline não terem constado no relatório de inteligência da operação. Todavia, Alana preferiu ficar em silêncio.

 

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3 Comentário(s).

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nilton  27.03.18 10h22
incrível que um simples CABO seja o autor intelectual disso tudo. Só em Mato Grosso para isso existir.
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Roberto  26.03.18 19h40
Só nos resta saber quem esta falando a verdade, a Juíza Selma Arruda ou a delegada Alana sobre as barrigas de aluguel, pelo visto não eram apenas alguns policiais Militares, alguns delegados também!
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marcos  26.03.18 15h41
parabéns pela postura Dra. Sabemos de vossa competência e seriedade. Em nada se comprara o que a PM que querem atribuir a Sra.
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