O advogado Julio Cesar Domingues Rodrigues, novo delator da Operação Ventríloquo, entregou ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado Gaeco (Gaeco), vídeo de uma gravação de uma reunião feita com o deputado estadual Romoaldo Junior (PMDB) no dia 6 de maio de 2014.
Na reunião, eles conversam sobre o “retorno” de parte dos R$ 9,4 milhões pagos pela Assembleia Legislativa ao HSBC, em 2014, valor relativo a uma dívida do órgão sobre o seguro saúde dos servidores (confira no vídeo abaixo).
Em sua delação, Julio Cesar diz que houve divergências sobre os repasses dos valores combinados no esquema: 45% ao deputado José Riva, R$ 1 milhão para Romoaldo e mais 1% para o chefe de gabinete de Romoaldo, Francisvaldo Pacheco, o “Dico”.
Em razão disso, ele foi conversar com Romoaldo para esclarecer que “a conta não fechava”, mas o parlamentar teria se alterado.
Julio César: “Então não sou eu deputado, eu queria muito sabe assim... queria ter te dado um milhão, um milhão e meio”.
Romoaldo: “Acertado é acertado”.
Na conversa, o advogado disse que nunca passou por esse tipo de situação e que sempre cumpriu com o combinado nos negócios que firmou. Porém, Romoaldo reclamou da situação.
“Romoaldo: "Primeiro que a gente fez... você não está cumprindo o acordo. Porque pra mim não foi orientado pra isso ou pra aquilo”.
Julio Cesar: “O senhor entende a minha situação? Não sou eu”.
Romoaldo: “E é eu?”
Discussão
O advogado, que confessou ter atuado como “lobista” do esquema, tentou se justificar ao deputado, mas não teve sucesso.
Julio Cesar: “Então não sou eu deputado, eu queria muito sabe assim... Queria ter te dado um milhão, um milhão e meio [...] Que cabo eleitoral traz para o senhor quatro pau e meio?”.
Romoaldo: “Você não tem que pensar assim, ta [...] Pra mim não, não é assim não, cara, aí é um colegiado que todo mundo”.
Julio Cesar: “Eu sei, eu sei disso, deputado”.
Romoaldo: “E isso não está em discussão, e nunca vai poder estar porque você está quebrando uma regra muito importante. Não importa para onde foi e para que foi, o combinado”.
Julio Cesar: “Para mim também não interessa para que é“.
Romoaldo: “Então não tem o que conversar, ta”.
Pouco depois, Julio César disse que ainda tinha pouco mais de R$ 300 mil para repassar e questionou como faria, momento em que Romoaldo se irritou com a informação.
Julio Cesar: “Eu tenho trezentos e seis mil para passar para vocês”.
Romoaldo: “Trezentos e?”
Julio Cesar: “Seis mil. E eu preciso das contas para passar”.
Romoaldo: “Nunca mais faço negócio com você, ta, nunca mais faço negócio com você. Você vai procurar o Zé Riva e se acerta com ele [...] Palavra é palavra, Julio”.
Ao final da conversa, Romoaldo confirma que o advogado está "dispensado" assim que pagar a parte dele.
Romoaldo: "Faz de conta que não me conheceu".
Julio César: "Sim senhor".
Romoaldo: "Faz de conta que você nunca me viu [...] Vocês vão lá no Riva e acertam isso, eu fiz pra ajudar e tomei no c*".
Veja o vídeo com a conversa:
A nova denúncia
Na nova denúncia, o MPE afirma que no período compreendido entre os anos de 2013 e 2014, os acusados, bem como outros agentes e Parlamentares Estaduais, "constituíram uma organização criminosa estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com o fito de saquear os cofres públicos, notadamente os recursos públicos da Assembleia Legislativa".
Os promotores esclareceram que os "investigados teriam ocultado e dissimulado a natureza e a origem dos valores provenientes de infração penal (lavagem de capitais)".
Com relação aos parlamentares, as investigações estão em andamento no Tribunal de Justiça, em razão do foro por prerrogativa de função.
O MPE também disse na denúncia que, logo após a deflagração da primeira fase da Operação Ventríloquo, em julho de 2015, já sabendo que tinha sido expedido em seu desfavor mandado de prisão preventiva, Julio Cesar tentou extorquir Romoaldo Júnior a lhe entregar a quantia de R$ 1 milhão, mediante ameaça de entregar à Justiça o áudio de uma conversa mantida entre ambos.
Segundo o apurado, no dia 7 de julho de 2015, por volta das 14 horas, Julio Cesar encaminhou um SMS de seu celular para o telefone do irmão de Romoaldo, Juliano Jorge Boraczynki, exigindo a entrega de dinheiro, sob pena de entregar o áudio ao Gaeco.
Conforme a denúncia, a mensagem encaminhada foi a seguinte: “Tenho seu mano gravado várias vezes...Quero um milhão para segurar a bronca toda..Vocês têm 3 dias”. Logo em seguida encaminhou outra com os seguintes dizeres: “Sim ou não?”.
De acordo com os integrantes do Gaeco, as razões apontadas para embasar o pedido de prisão preventiva de Francisvaldo também se aplicam a Romoaldo e Mielli, já que o "falseamento da verdade com vistas a prejudicar as investigações se deu em conluio e conjugação de esforços dos acima nominados".
No entanto, com relação a Mielli, segundo o Gaeco, é necessário que ocorra o "reconhecimento judicial de causa rescisória da colaboração premiada (já requerido pelo Gaeco e Naco)".
Já em relação a Romoaldo, cuja investigação corre em segunda instância, por força de foro por prerrogativa de função, a legislação proíbe a decretação de prisão preventiva de parlamentar estadual, motivo pelo qual os promotores pediram apenas a decretação da prisão preventiva de seu chefe de gabinete.
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