Em recente evento social fui indagado, em tom meio de brincadeira, quanto tinha custado a minha vaga de Conselheiro Substituto no TCE-MT. Não fugi do tema. Refleti, fiz as contas e respondi: foi muito caro.
Para conseguir ser Conselheiro Substituto, tive que passar em concurso público de provas e títulos que atraiu centenas de candidatos de todo o país para apenas três vagas. Fiz provas de Controle Externo, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Civil, Orçamento e Contabilidade Pública, Legislação Especial, Auditoria, Finanças Públicas, Lei de Responsabilidade Fiscal e Língua Portuguesa. Todas as provas eram eliminatórias, exigindo-se pelo menos 50% de aproveitamento em cada uma.
Além disso, houve prova discursiva de cinco matérias, também eliminatória. Somente em livros dessas disciplinas apliquei cerca de R$ 3 mil. Calculo que outros R$ 3 mil foram investidos em cursos preparatórios e participação em eventos técnicos e científicos nessas áreas.
Para passar em um concurso desse nível, é preciso fazer vários. É como no esporte: ninguém chega ao pódio nas Olimpíadas sem disputar muitos campeonatos regionais, nacionais e continentais. No meu caso, participei de seis concursos ao longo de dois anos: para Ministro Substituto do TCU e para Conselheiro Substituto dos TCs de SC, SP, GO, AM e MT.
No TCU, fui muito bem, mas não fiquei entre os dez primeiros que passaram às etapas seguintes. Em SC e GO, cheguei até a segunda fase. Fui aprovado no Amazonas e em Mato Grosso. Em SP, estava muito bem classificado, mas desisti na terceira fase, pois já tinha decidido assumir o cargo em MT. Assim, estimo que gastei mais uns R$ 700,00 em taxas de inscrição e outros R$ 5 mil em passagens aéreas e hospedagem.
Ademais, foi exigido que apresentasse ficha limpíssima, a saber: além de cópias autenticadas de diplomas e documentos, também atestados médico e psiquiátrico e certidões da justiça eleitoral, justiça militar estadual e federal, e justiça comum estadual e federal, abrangendo todo tipo de ações penais e cíveis.
Cabe uma digressão, indagando se tais requisitos não deveriam também ser exigidos para outros cargos relevantes da República. O custo dos exames médicos e das cópias em cartórios excedeu R$ 500,00. Até agora, a soma ultrapassa R$ 12 mil.
O custo maior foi o do tempo. Nunca fui estudante profissional e, portanto, precisei estudar além da minha carga horária como auditor do TCU, invadindo o tempo reservado ao descanso, lazer, convivência familiar e outras atividades acadêmicas como professor.
Estimo que cada disciplina consumiu umas cem horas de estudo, totalizando 1.200 horas. Qual o valor de uma hora de sono quando se está cansado?
Qual o valor de uma hora no domingo de manhã em que você gostaria de levar a criança no parque, ou o valor de deixar de ir ao cinema com a esposa para ficar estudando em casa?
Sei que o cálculo é subjetivo, mas posso garantir que é alto o valor de cada uma dessas horas. Posso comparar pelo valor das aulas que deixei de ministrar em cursos de pós-graduação de várias universidades pelas quais recebia em média R$ 200,00/hora. Assim, numa estimativa conservadora, teríamos mais de R$ 200 mil.
Não acabou. As provas de títulos são importantes na classificação final do concurso e eu possuo títulos de especialista, mestre e doutor, além de autor de livros técnicos e artigos publicados em revistas científicas no Brasil, Portugal, México e EUA.
Qual o custo desses títulos que me ajudaram a ser o primeiro entre os empossados? De novo: milhares de horas de estudo e leitura de dezenas de livros. Um custo muito alto.
Assim, serenamente respondi à pergunta: foi muito caro tornar-me Conselheiro Substituto, mas tenho orgulho de cada passo desta trajetória.
Afinal, minha vaga não foi comprada, alugada ou negociada: foi conquistada!
Se você, leitor, estiver disposto a pagar esse preço, há vagas de conselheiros substitutos em diversos TCs e haverá novos concursos em breve. Bons estudos e boa sorte!
LUIZ HENRIQUE LIMA é Conselheiro Substituto do TCE-MT.
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9 Comentário(s).
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WILLIAN 16.01.19 18h30 | ||||
Brilhante resposta professor. Poderia dar uma dica para quem deseja se preparar para os concursos do TCE. Em meu estado terá concurso para Procurador em breve, mas não sei por onde começar acerca das disciplinas específicas. Controle externo, é claro, já li seu livro. | ||||
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Michel 17.04.18 09h59 | ||||
Acompanho há um tempo o trabalho do Luiz (livros, artigos, etc) e sem dúvida é admirável. Sem querer de forma alguma diminuir o mérito de tal conquista, eu trocaria o trecho da última frase "estiver disposto a pagar esse preço" para "tiver oportunidade de pagar esse preço". Sabemos bem que a realidade do Brasil não é aquela em que basta estar disposto para se conquistar determinadas posições na sociedade. | ||||
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Francisco 15.04.18 07h26 | ||||
Parabéns Dr. Luiz Henrique! É bem verdade que foi conquistada com sacrifício de vida; com dedicação, persistência e honra. | ||||
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Aparecido Chagas 14.04.18 15h02 | ||||
Fico feliz de ler estas explicações, ainda que entenda desnecessárias, visto que as mesmas poderão incentivar como foi ao final a interessados lutar para conquistar, e saber, que há um custo em verdade, mas não aquele de "comprar" com o em principio se imaginaram. | ||||
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Paulo Mattos 14.04.18 14h33 | ||||
Tenho a maior honra em compartilhar este artigo do Luiz Henrique, um homem competente, digno, honesto e fiel cumpridor de seus deveres e das leis que nos regem. Na verdade os Tribunais de Contas deveriam possuir pessoas da qualidade intelectual e moral do Luiz, o conhecimento que ele possui, a capacidade de exercer a função com diligência, determinação e ampla capacidade técnica e científica. Parabéns, amigo Luiz, confio e muito em seu trabalho e espero que num futuro bem próximo as vagas de Conselheiros dos Tribunais sejam preenchidas por pessoas de sua qualidade. Um grande abraço. | ||||
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