A semana passada terminou com o cheiro da fumaça dos incêndios nos poderes Judiciário e Legislativo versus o Poder Executivo. Motivo: repasses de duodécimos em atraso.
Há mais em jogo do que reclamações e atrasos. Há muitas mágoas no meio dessa discussão. Vamos aos fatos.
O Tribunal de Justiça movimentou o sindicato dos seus servidores pra entrar com pedido de bloqueio de R$ 250 milhões dos cofres estaduais e garantir repasses atrasados de duodécimos do Poder Judiciário.
O presidente do Tribunal de Justiça, Rui Ramos, exigiu do governador Pedro Taques o pagamento em 48 horas, contando a partir do dia 31. Juntos, o sindicato classista e o TJ deram duro recado ao governo: estão dispostos ao confronto.
Porém, a cultura interna do Poder Judiciário não é de confronto. Está sendo interpretado que uma divisão interna entre desembargadores criou uma frente a favor e outra contra o confronto.
Logo, o final da ópera é sentarem-se com o governador e negociarem de novo os calendários de repasses. O TJ perdeu o espírito de corpo. Perda de poder.
Já a Assembleia Legislativa deu recado muito semelhante. Estranha-se que o portador do recado tenha sido o presidente Eduardo Botelho, aliado da primeira hora do governador Pedro Taques e do seu governo.
A Casa vem choramingando há semanas o atraso dos seus repasses. No fundo, também existe um outro pano de fundo: a pressão dos deputados estaduais pela liberação das suas emendas parlamentares.
Bom lembrar que a pobreza legislativa da Casa obriga os parlamentares se agarrem nas emendas como a fonte de sua sobrevivência.
Aqui de novo se registra o espírito do corpo motivado pelos interesses individuais dos deputados mascarados em aparente civismo.
Do ponto de vista da sociedade mato-grossense, o imbróglio todo se resume a duas coisas que pouco respeito lhe diz: politicagens ou corporativismo.
Nesse caso, a sociedade não guarda nenhuma simpatia pelos dois poderes nas suas reivindicações.
A distância entre eles o cidadão é enorme. No imaginário popular não passam de siglas perdidas no mar da burocracia.
No meio do caos, ainda resta o governador Pedro Taques, que atribui à crise econômica e fiscal os atrasos nos duodécimos.
Põe-se como vítima do contexto. Seus prejuízos políticos em ano eleitoral, por conta dos atrasos parece que não chegarão ao eleitor.
Na sexta-feira, participei de uma reunião de empresários que traduziram numa linguagem objetiva seu desinteresse com toda essa questão: “isso é briga palaciana. Não vai a lugar nenhum”.
ONOFRE RIBEIRO é jornalista em Mato Grosso.
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