A estrutura do Ministério da Saúde, em Brasília, é impressionante. Além do prédio do ministério e seus anexos, que parecem não ter fim, quando começamos a compreender a complexidade do SUS e seus subsistemas, é difícil para quem vai começar a trabalhar ali não ficar com um frio na barriga.
Em abril de 2016 comecei a trabalhar na Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), a convite do então empossado secretário Rodrigo Rodrigues. O desafio me pareceu sem limites, já que a função da Sesai é cuidar da atenção à saúde dos indígenas do Brasil inteiro. Vinha a minha cabeça o quanto de diferenças existem, seja no aspecto cultural, étnico e epidemiológico, entre os 225 povos que vivem no Brasil.
Mas o secretário não apresentava qualquer sintoma de medo. O Rodrigão não mudou em nada seu comportamento da velha Cuiabá para o centro do poder em Brasília. Demorou um pouco, mas eu comecei a perceber o que o secretário compreendeu logo de cara: Aquele cargo, além de toda burocracia, é cercado por uma carga muito grande do misticismo dos indígenas.

Por isso ele conduziu a Sesai dialogando com os indígenas, recebendo no seu gabinete ou viajando por todo país, como se estivesse conversando com os velhos amigos de Cuiabá ou Alto Araguaia.
O secretário rompeu as barreiras de quem não acreditava que um secretário, não sendo médico ou antropólogo, pudesse conduzir a Sesai. O fenômeno, no entanto, é de simples explicação: os indígenas se viram representados nele. Tive a oportunidade de ouvir de diversas lideranças indígenas a importância do diálogo claro, ou seja, o Rodrigão não vendeu ilusão.
Na prática, no curto período do Rodrigo na Sesai, foram feitas muitas ações inovadoras e outras estão em gestação. Certamente porque ele também teve a sorte de contar com uma equipe bastante experiente e apaixonada pela causa indígena, como a Verbena, a Regina e a Vera, além dos coordenadores dos 34 distritos espalhados pelo Brasil, e uma rede de profissionais, que se embrenham pelo interior do Brasil, às vezes ficando por dias em barcos sem conforto, pra chegar às aldeias remotas.
Bom, mas tiraram o Rodrigo da Sesai. Se não se mexe em time que está ganhando, concluo que a explicação para a mudança de secretário é que ele não cooperou para um dos propósitos principais do ministro atual, que é desmontar a estrutura da Sesai. Com o Rodrigo o subsistema se fortaleceu e empolgou os indígenas. Veritatis simplex oratio, ou a verdade dispensa enfeites.
Maurício Munhoz é economista.
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5 Comentário(s).
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| Adauto 23.02.17 07h21 | ||||
| Enquanto houver aldeia e parques indígenas, haverá preservação ambiental, princípio básico para a vida. | ||||
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| Luis Carlos 22.02.17 18h56 | ||||
| A saúde indígena é especial porque cuida de pessoas de uma cultura diferente dos centros urbanos. Qualquer crítica aos cuidados com a saúde dos povos indígenas só mostra um enorme preconceito e muita ignorância. Tiraram o Secretario do cargo por barganha política. | ||||
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| roberto 22.02.17 16h06 | ||||
| TEM DE POR ESSES INDIOS PRA TRABALHAR....TAMOS NO SÉCULO 21...CHEGA DE IMPOSTOS IR PELO RALO | ||||
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| Chacal 22.02.17 15h02 | ||||
| Parabéns pela forma simples e coesa ao tratar desse assunto. | ||||
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| jose A Silva 22.02.17 13h44 | ||||
| O governo, nem hoje e nem nunca gosta de quem faz ou tenta fazer coisas que a ele desagrada! Governo não tem intenção séria de cuidar de indio (e concordo)! Indio não é do mato? Não que terras que dizem ser suas? Por que quer medicina de branco? Indio, quanto menos, melhos! | ||||
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