Cuiabá, Terça-Feira, 23 de Setembro de 2025
RENATO GOMES NERY
15.08.2018 | 23h02 Tamanho do texto A- A+

O homem que amava os cachorros

Biografia romanceada de Leon Trotski traça perfil de um dos períodos mais pungentes da história da humanidade

"O Homem Que Amava Os Cachorros" (Editora Boitempo, 2015) é o título do livro do consagrado escritor cubano Leonardo Padura Fuentes. É uma biografia romanceada do revolucionário russo Leon Trotski (Liev Davidovich Bronestein), onde traça perfil de um dos períodos mais pungentes da história da humanidade.

 

O livro é a história da ascensão e do fracasso da utopia. A Revolução Russa de 1917 é uma das tentativas fracassadas da imposição pela força da utopia igualitária para atingir os fins transformadores da ditadura do proletariado que resultou num saldo assombroso de expurgos, torturas, confinamentos, desterros, coletivizações forçadas, fuzilamentos e "gulags". É o traço cego da Revolução Comunista que sacrificava, sem limites, o individual em prol de um pretenso triunfo do coletivo.

Uma leitura inquietante, densa, esclarecedora e fascinante que ilumina muitos acontecimentos controversos do turbulento século XX

A vida de Trotski e a de seus seguidores foram sacrificadas no altar das distorções de preceitos de uma ditadura sangrenta chefiada por Stalin, denominado de "Coveiro da Revolução", onde "os homens que viveriam com medo de dizer uma única palavra em voz alta, de ter uma opinião, e que seriam obrigados a rastejar, olhando em cima do ombro para vigiar a própria sombra" (pg. 77).

 

Trotski, após ser expurgado e expulso da URSS, tenta no exterior pregar e restabelecer os preceitos iniciais que ele defendia da Revolução de Outubro de 1917, mas os braços longos do pretenso Protetor do Proletariado Mundial - após perseguições/peregrinações sem tréguas por diversos países - acaba por alcançá-lo e ceifar a sua vida quando estava exilado no México. E não o poupa dos desatinos e exageros revolucionários nem o biografado: "que quando esteve no poder arrancou a cabeça de sei lá quantos...."(pg. 578)

 

A Guerra Civil Espanhola é tratada na trajetória de Ramón Mercader, o assassino por encomenda do líder russo, treinado com este propósito e que fiel e obediente à disciplina partidária, não hesita em tirar a vida do ex-revolucionário, consolidando de vez Stalin como líder máximo do proletariado de todo o mundo. E, ao fim e ao cabo, expressão muito usada pelo autor, tudo era feito para a manutenção pura e simples do poder totalitário absoluto e incontestável.

 

Relata, também, a penosa realidade da vida em Cuba, onde reside o autor do livro, e se vive à beira de penúria com um severo racionamento e um salário médio de U$ 30,00. Perguntado ao autor, por um jornalista, por que ele vive na ilha se tem cidadania espanhola, ele respondeu: "... que lá ele é quase invisível.... e que todo escritor tem que ter um lugar. E o seu é Havana".

 

Fica aqui a sugestão para quem gosta de romances históricos. Vai ter uma leitura inquietante, densa, esclarecedora e fascinante que ilumina muitos acontecimentos controversos do turbulento século XX.

 

RENATO GOMES NERY é advogado em Cuiabá

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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Renato Gomes Nery  15.08.18 09h15
Fico lisonjeado com os meus artigos publicados neste site, pelo cuidado se tem com eles no destaque de trechos mais expressivos. Meus cumprimentos. Muito obrigado
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