26.08.2011 | 19h:00

EMPRESAS INOVADORAS


Alexandre Accioly: “Não cuido de nada, deixo tudo com meus sócios”

À frente da rede de academias Bodytech, empresário carioca quer se consolidar no mercado de São Paulo e diz que trabalhar é a maior diversão

Aos oito anos de idade, Alexandre Accioly resolveu investir a pequena mesada que ganhava da avó na compra de oito caixas de engraxar sapatos. Reuniu amigos e os convenceu a executarem o ofício numa praça do Leblon, bairro nobre da zona sul do Rio, enquanto ele supervisionava tudo de bicicleta - e ficava com metade do lucro. Às vésperas de completar 50 anos, e à frente de quatro empreendimentos como a rede de academias Bodytech, ele parece manter sua fórmula de sucesso: "Eu não cuido de nada, deixo tudo com meus sócios", conta horas antes do lançamento da marca em São Paulo, ocorrido na quinta-feira (25).

Accioly não esconde a receita da multiplicação. Ele só não menciona sua fração nos lucros. Depois de montar 38 academias (12 delas em fase de construção) para as classes A e B nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Bahia, e ainda em Brasília, ele agora mira na classe C. "Além da Bodytech somos donos da marca Fórmula, que está sendo estruturada para oferecer mensalidades de R$ 89. Começamos a oferecer franquias, que terão investimentos de R$ 700 mil", prospecta.

De infância humilde e com apenas o diploma do ensino fundamental obtido em escola pública, Accioly reconhece que, além de uma boa dose de coragem, ter se juntado "aos bons" o ajudou. Na ramo de fitness, por exemplo, se associou a João Paulo Diniz, da rede de supermercados Pão de Açúcar, e a Bernardinho, técnico da seleção masculina de vôlei. Na gastronomia, é sócio do empresário Rogério Fasano, com quem mantém três restaurantes no Rio de Janeiro; na área da comunicação, tem duas rádios, a Sul América Paradiso e a Mix, com Luiz Calainho. "Procuro pessoas que possam me fazer crescer. Não quero ninguém que me leve para trás", deixa claro.

Além de já ter feito sociedade com o apresentador Luciano Huck, o ex-jogador Ronaldo "Fenômeno" e o ator Rodrigo Santoro, Accioly - hoje casado com Renata Padilha - já ganhou as capas de revistas pela fama de conquistador. Namorou celebridades como a apresentadora Adriane Galisteu e a atriz Carolina Ferraz. "Fui um solteiro com ‘S' maiúsculo. Vivi intensamente todas as fases da minha vida, sou muito compulsivo e intenso", comenta, sobre seu passado. "Hoje posso dizer que tenho o melhor que um homem pode alcançar na vida, que é chegar na minha idade com um filho maravilhoso, uma mulher espetacular", pondera.

A seguir, ele fala sobre os planos para a expansão da rede Bodytech, de seu histórico empreendedor e da rotina com sua família:

iG: No ano passado, a rede Bodytech arrecadou R$ 129 milhões. Qual a expectativa para esse ano e para 2012?
Alexandre Accioly: Na época de nossos avós, os clubes eram as áreas de esportes e lazer, hoje essa prática é quase proibitiva. Ter o título de um clube é caríssimo. Temos academias de grande porte, em áreas superiores a 1,2 mil m², que foram criadas para ser uma espécie de novo clube. Esse ano a gente fecha a arrecadação em R$ 180 milhões, com 26 unidades e 53 mil alunos. A expectativa para o ano que vem é arrecadar R$ 260 milhões com um total de 42 unidades e 100 mil alunos. Mas o nosso forte serão as academias de bairro que estamos planejando.

iG: O investimento agora se concentra na classe C?
Alexandre Accioly: A Bodytech tem hoje um público diferenciado, nas classes A e B, e estamos em expansão. São academias próprias, em grandes espaços, com equipamentos e programas de ponta, que fazem com que nosso ticket (mensalidade) custe em média R$ 300. A gente quer oferecer um produto mais acessível e para isso investimos em uma segunda marca, que é a Fórmula. Serão microacademias, montadas em áreas de até 300 m², como salas comerciais e lojas, lançadas por meio de franquias.

iG: Com funciona o modelo de franquia da rede?
Alexandre Accioly: As academias instaladas em áreas acima de 700m² serão próprias (e terão mensalidades entre R$ 109 e R$ 159). As franquias serão para as unidades menores, de até 300 m², o que permite um baixo custo de operação (e mensalidades de R$ 89). Se o meu franqueado não tiver nenhuma outra atividade econômica, ele poderá entrar no Simples, do governo federal, e ter redução de 2/3 da carga tributária para faturamento global de até R$ 1,3 milhão. Com essa engenharia, será possível virar nosso parceiro a um custo de investimento de R$ 700 mil.

iG: Alguma já foi fechada?
Alexandre Accioly: Fechamos contrato com Virna, do vôlei. Ela vai abrir duas unidades em Campinas (SP). Mas temos neste momento 50 propostas em análise. A primeira Fórmula no Rio de Janeiro terá sede própria e será inaugurada em outubro. Projetamos 40 unidades próprias até 2015.

iG: Como você gerencia seus negócios? Cuida pessoalmente da administração?
Alexandre Accioly: Eu não cuido de nada, a gestão fica por conta dos meus sócios. A Bodytech é tocada pelo Luiz Urquiza, que trabalha comigo há 18 anos; o Fasano Rio, pelo Rogério, as rádios são tocadas pelo Luiz Calainho, que é do segmento da música há anos. Eu participo ativamente de tudo o que é mercado: vendas, expansão, projetos, planejamento estratégico de longo prazo.

iG: Você controla seu dinheiro?
Alexandre Accioly: Eu diria que quem controla meu dinheiro são meus sócios, porque meu dinheiro está todo investido nos meus negócios (risos).

iG: Mas você sabe quanto tem na sua conta bancária?
Alexandre Accioly: Eu sei quanto quero ter, quanto quero levar meus negócios a valerem. Hoje o que eu tenho é tudo papel.

iG: E quanto você quer ter?
Alexandre Accioly: Quero ter realização. Há 11 anos, vendi minha empresa de telemarketing, a QuatroA. Estava absolutamente consolidado, testado e aprovado profissionalmente, poderia ter optado por viver de renda. Mas resolvi me colocar em xeque. Entrei para o ramo de academia há seis anos, quando nem se pensava em ter uma Copa do Mundo ou Olimpíada no Brasil. Hoje estou com quatro frentes abertas, gerando com elas 3.500 empregos - só na Bodytech são 2.600 funcionários. É isso que quero, investir e correr riscos, porque acredito no Brasil.

iG: Do investimento nas caixas de engraxate até a QuatroA o que aconteceu?
Alexandre Accioly: Muita coisa. Ainda criança, pegava revistas velhas nos prédios do Leblon e as vendia nas calçadas. No fim do ano, cortava pinheiros e vendia árvores de Natal. Tive empresa de eventos, de figurantes para TV, de publicidade... Até montar um jornal, um classificado de automóveis. O mercado ia muito bem até o Plano Collor deixar todo mundo com R$ 50 na carteira. Ninguém comprava mais carro, claro, e eu tive de fechar o jornal. Acumulava um monte de dívidas e me restavam apenas 20 linhas telefônicas, que naquela época valiam dinheiro, algo como US$ 4 mil. Vendi 14 linhas para pagar o que devia e com o restante montei a QuatroA.

iG: Como surgiu a ideia de trabalhar com telemarketing?
Alexandre Accioly: Um amigo sugeriu que eu investisse na venda de assinatura de revistas por telefone. Comprei uma edição da revista "Veja" e vi no expediente que o responsável por essa parte era um cara chamado Paulo Vasconcelos. Passei dois meses ligando diariamente para ele até ser atendido. Fui para São Paulo e ele falou: "Você quer fazer o nosso telemarketing?". E eu, que nunca tinha ouvido falar nessa palavra, respondi: "Fazer o quê?" Bom, saí de lá com o negócio fechado. Aí começa a história da QuatroA que todo mundo conhece; vendemos a empresa em 1999 para o grupo Telefónica.

iG: Dizem que seu lucro na venda foi de US$ 80 milhões. É verdade?
Alexandre Accioly: Ai, não me faz essa pergunta, não... (risos). Foi um bom negócio para todos, ponto. Você quer saber quanto eu botei no bolso? Ah, pelo amor de Deus (risos).

iG: Segundo seu relato, você ficou rico investindo US$ 24 mil, resultado da venda de seis linhas telefônicas. Hoje, em que você investiria com esse dinheiro?
Alexandre Accioly: Com esse valor eu investiria tudo em estudo.

iG: Mas você não fez faculdade...
Alexandre Accioly: Não fiz, mas sou exceção. Porém, a faculdade me fez muita falta até hoje. Apesar de toda a experiência que adquiri, afirmo que, se tivesse tido um embasamento acadêmico, estaria hoje dez anos à frente do que estou.

iG: Como você lida com o luxo? Gosta de roupas de marcas, carros importados?
Alexandre Accioly: Já tive minha fase de querer ter um Porsche, roupas de grife.... Passou. Não sou consumista e não tenho paciência para lojas. Faço compras duas vezes por ano. Se gosto de uma camisa compro várias da mesma cor.

iG: E vaidoso? Você já chegou a pesar 112 quilos. Como cuida da aparência?
Alexandre Accioly: Nenhuma vaidade. Talvez isso seja um grande problema.

iG: Você é glutão? Gosta de beber, tem algum vício, como cigarros?
Alexandre Accioly: Fumei dos 15 aos 20 anos, depois parei. Odeio cigarro. Nunca gostei de beber, sempre gostei de ficar bêbado (risos). Agora estou entrando numa fase de aprender a tomar vinho. Com drogas nunca me meti.

iG: Você é pai de Antônio, de 6 anos, e em outubro nascerá sua segunda filha, Maria Carolina. Como descreve a paternidade?
Alexandre Accioly: Infelizmente, não tive meu pai presente. Carreguei a vida inteira todas as carências que isso causa. Por isso, tudo que me faltou não faltará nunca para meu filhos. Tenho uma única preocupação: quero que meus filhos tenham muito orgulho do pai e que tenha uma vida pautada na vida do pai, porque acho que tenho uma história de luta, de garra.

iG: Como imagina a vida de um "cinquentão"? Tem medo da idade?
Accioly: Aprendi a planejar tudo o que quero fazer, coloco tudo no papel. Mas na vida pessoal, só planejo o futuro do meu filho, que é educação, educação e educação. A minha vida mesmo vivo cada dia intensamente, sem planos. Da idade eu não tenho medo, não, só não gosto de solidão. Nunca consegui ir a um cinema sozinho


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