19.10.2009 | 10h:55

TRAGÉDIA NO GOIABEIRAS


"Parecia que Medeiros estava com o diabo no corpo"

Em depoimento, testemunha revela que agressores aparentavam estar drogados ou bêbados

Depoimentos sobre a morte o estudante Reginaldo Donnan dos Santos Queiroz, espancado brutalmente nas dependências do Goiabeiras Shopping Center, no final de agosto passado, revelam um comportamento inadequado por parte dos seguranças do estabelecimento.

Conforme relato de uma testemunha, aos quais MidiaNews teve acesso, os inspetores Jefferson Luiz Lima Medeiros, 24, e Ednaldo Rodrigues Belo, 29, aparentavam estar "bêbados" ou "drogados", no momento em que agrediram Reginaldo.

"Parecia que Medeiros estava com o 'diabo no corpo', possuído de ira... Era como se ele estivesse drogado", contou um dos seguranças externos do shopping, contratado por uma empresa terceirizada, cujo nome é mantido no anonimato. Ele viu Reginaldo desfalecido, com nariz e boca sangrando, dentro da sala da segurança. O segurança depôs na Polícia Civil.

Pelo crime, os quatro seguranças - Medeiros, Belo, Jorge Dourado Nery e Valdenor de Moraes - foram denunciados pelo Ministério Público Estadual (MPE), sob a acusação da prática de homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, com a utilização de meio cruel e sem que a vítima tivesse como se defender), furto qualificado, denunciação caluniosa e fraude processual.

No depoimento no Centro Integrado de Segurança e Cidadania (Cisc), do bairro Verdão, o segurança contou que, no dia 29 de agosto, estava entrando de serviço e foi até a sala para pegar seu armamento. Chegando ao local, notou que porta estava apenas encostada, bateu e pediu para entrar. Nesse momento, por uma frestra, ele viu Reginaldo desmaiado e ensanguentado. Vendo aquilo, disse para Medeiros e Belo: "Isso não é coisa de homem não, rapaz".

Ainda no diálog, a testemunha afirmou ter dito: "Pô, Medeiros, para que bater no rapaz? Isso é covardia. Dois batendo no rapaz!". Em resposta, Medeiros teria dito "Isso é manha". Segundo ele, em seguida, Medeiros deu um chute de baixo para cima no queixo de Reginaldo.

A testemunha contou que ajudou a empurrar o contêiner de carregar lixo no qual Reginaldo foi retirado da sala de segurança, já espancado, sem saber que a vítima estava dentro do veículo. Ele questionou Medeiros sobre o destino de Reginaldo, e o segurança respondeu: "Este filho da p... está aí dentro", referindo-se ao contêiner.

O segurança ainda contou que Medeiros abriu a tampa do contêiner e mostrou Reginaldo. Ele disse ter ficado assustado, surpreso e sem reação. Contou que se recusou a ajudar a empurrar e, até mesmo, a retirá-lo do carrinho para ser colocado na viatura. "Não vou pegar esse rapaz. Para mim, ele está morto". Medeiros e Belo nada responderam.

Nesse momento, o segurança sugeriu que Belo acionasse o Help Vida - empresa de saúde com a qual o Goiabeiras Shopping tem convênio para atendimento de emergência - para socorrer Reginaldo. "Belo disse que o Help Vida cobrava a quantia de R$ 300 para fazer um atendimento". Com a negativa, a testemunha pediu para acionar o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), quando Belo reafirmou que Reginaldo deveria ser levado para a delegacia, o que aconteceu de fato.

Ordem aos PMs

Na versão da testemunha, Medeiros e Belo "deram ordens" aos policiais militares - cabo Vanderley José Alves e o soldado José Aparecido Matias Vieira - para que levassem Reginaldo para o Cisc Verdão. "Quando fiquei sozinho com os policiais, pedi que levassem ele [Reginaldo] para o Pronto-Socorro (...), mas os policiais disseram que precisarima apresentá-lo na delegacia e, depois, o delegado plantonista autorizaria o encaminhamento ao Pronto-Socorro", contou.

Na semana passada, o Comando da PM, em inquérito administrativo, absolveu os dois militares que registraram a ocorrência, alegando que eles não foram omissos no socorro a Reginaldo. Gravações apreendidas pela Polícia Civil, divulgadas até no "Jornal Nacional", da TV Globo, mostraram PMs no momento em que Reginaldo era conduzido num contêiner para fora do shopping.

Como foi amplamente divulgado, os PMs elaboraram o Boletim de Ocorrência, no dia 29 de agosto, apenas com base em declarações de Jefferson Medeiros, que se apresentou como "vítima", enquanto Reginaldo, que fora brutalmente espancado, era o "acusado". Na prática, o "BO" era falso.

Entenda o caso

Reginaldo Queiroz entrou no Goiabeiras Shopping por volta das 16h30 do último dia 29 de agosto, para comprar ingressos de um evento e, depois, sentou-se na praça de alimentação para tomar um suco, acompanhado de duas amigas. Ele carregava vários porta-latinhas, trajava roupa simples e um chapéu de abas largas (tipo mexicano).

Segundo relatos, ele foi abordado na praça de alimentação por dois seguranças, que recolheram o material, além do seu chapéu. Momentos depois, ele foi imobilizado na loja Beto Esportes, onde tentava fazer uma compra, e levado pelos seguranças Jefferson Medeiros e Ednaldo Belo até a sala de segurança.

O estudante saiu da sala da segurança dentro de um contêiner de lixo já inconsciente e deu entrada no Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá, às 21 horas do sábado.

Na segunda-feira (31 de agosto), foram constatados indícios de morte cerebral, sendo mantido vivo com auxílio de aparelhos. Na terça-feira (1º de setembro), no final da tarde, Reginaldo morreu.


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