Cuiabá, Quinta-Feira, 31 de Julho de 2025
ERRO ESTRATÉGICO
07.11.2010 | 08h48 Tamanho do texto A- A+

Wilson Santos admite erro ao renunciar a cargo

Tucano cita a falta de dinheiro como fator para a derrota

MidiaNews

Tucano revela os bastidores da campanha eleitoral

Tucano revela os bastidores da campanha eleitoral

ANA ROSA FAGUNDES
DIÁRIO DE CUIABÁ

Depois de amargar um terceiro lugar na eleição ao governo do Estado, o ex-prefeito de Cuiabá, Wilson Santos (PSDB), admite que não teria deixado a prefeitura se tivesse conversado com setores organizados da sociedade e percebido que população não queria que ele saísse do Alencastro para disputar o governo.

Na primeira entrevista que concede desde a eleição, o homem que administrou Cuiabá por seis anos abre o jogo. Ele diz que a explicação para o pífio terceiro lugar, inclusive na Capital, foi a rejeição por causa da saída da prefeitura. Cita ainda a falta de dinheiro como outro fator para a derrota.

Como exemplo, conta que em cidades do interior sua campanha era confundida com a de deputados estaduais, de tão fraca e pequena que foi. "Não conseguimos fazer uma campanha propriamente dita", disse.

Diante do montante arrecadado pelo concorrente, o governador Silval Barbosa, que declarou R$ 21 milhões de receita, Wilson reclama da desproporcionalidade do processo. Enquanto ele teve que deixar a prefeitura e "ir para as ruas de mão de abanando, Silval foi ascendido ao governo administrando bilhões".

Em 21 anos de carreira política, essa é a primeira vez que Wilson fica sem mandato. A falta do poder pesou sobre os ombros e ele descobriu que muita gente era amiga do prefeito e não de Wilson Santos. Para os próximos anos ele conta que pretende voltar a dar aulas e estudar. Ele quer estar preparado e atualizado para os próximos desafios da vida pública.

Diário de Cuiabá - Existe a informação de que a candidatura do PSDB nacional não enviou quase nada do que foi prometido. Afinal, quando o PSDB nacional lhe prometeu e quanto enviou?

Wilson Santos - Nosso gasto total foi de R$ 2,6 milhões. Desse montante, a contribuição partidária ficou em torno de R$ 600 mil. E o partido também assumiu uma dívida de pouco mais de R$ 650 mil. É claro que havia uma expectativa maior, mas como nós tivemos problemas com a candidatura do Serra no primeiro turno a captação acabou sendo menor em nível nacional. E eu não tenho do que reclamar, porque essa foi a realidade do PSDB nacional e nos estados, principalmente onde não tínhamos governador. Foi uma conjuntura e realidade. O partido nos ajudou dentro daquilo que foi possível.

Diário - Quem acompanhou a campanha de perto teve a impressão de que o senhor jogou a toalha bem antes de reconhecer publicamente a derrota. Em que momento o senhor viu que a batalha estava perdida?

Wilson - Não, em nenhum momento eu joguei a toalha, lutei até o final. Trabalhei até do dia da eleição visitando várias seções aqui na Lixeira, Pedra 90, Centro e no CPA. Eu lutei até o último minuto. Tanto é, que nas últimas duas semanas nós crescemos. Mas agora, com a prestação de contas, ficou clara a diferença da estrutura das outras duas campanhas sobre a minha. São candidaturas que gastaram dezenas de milhões de reais, e nós sequer gastamos R$ 3 milhões. E essa carência de estrutura material, sem dúvida, fez mesmo a diferença.

Diário - Mas não teve aquele momento em que o senhor via a situação complicada e pensou que não havia mais jeito?

Wilson - Não, eu vi que a situação era difícil, mas lutei com todas as forças, dei tudo de mim. Visitamos 118 municípios, participei de mais de 20 debates, percorri milhares de quilômetros a pé nos arrastões, visitas... Mas havia uma diferença extraordinária de estrutura. Enquanto eu tive que deixar a prefeitura, vir para a rua mãos de limpas e vazias, o Silval deixou a vice-governadoria e assumiu o governo do Estado, com uma arrecadação mensal que variava de R$ 800 milhões a um bilhão de reais. É claro que a diferença foi astronômica.

Diário - Lideranças do DEM parecem não ter se empolgado com sua candidatura. Algum democrata, em especial, fez menos do que prometeu em sua campanha?

Wilson - Não, todos trabalharam e se empenharam. Mas a questão estrutural foi decisiva e fundamental. Nós não tínhamos carro de som em mais de 130 municípios. Só tínhamos em sete ou oito cidades, como Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis Cáceres e mais alguns. O material, quando chegava aos municípios, era uma coisa muito pequena que era confundida com material de candidato a deputado estadual. Então, não tivemos condições financeiras e estruturais de fazer uma campanha propriamente dita. Não conseguimos contratar ao longo de toda a campanha mil pessoas.

Diário - O senhor tem dito em off que muitas pessoas eram amigas do prefeito e não de Wilson Santos. Explique melhor esta declaração.

Wilson - Eu, como professor de História, não me surpreendi com isso porque sempre lecionei sobre o poder, sobre os atores que compõem as diversas conjunturas, só que eu nunca tinha vivenciado na prática. Eu disputei oito eleições com sete vitórias, e na que eu perdi, em 2000, disputei no exercício do mandato de deputado federal. Então, terminou a eleição num dia e no outro eu reassumi meu mandato em Brasília. Eu não havia sentido ainda essa saída do poder. Mas isso faz parte da política e eu senti agora o que realmente acontece.

Diário - Foi difícil?

Wilson - Acho que a Adriana sentiu mais essa distinção que algumas pessoas fazem. A gente achava que muitos eram amigos da gente e na verdade eram amigos do deputado, do prefeito... Então eu sabia que isso existia, mas não tinha sentido ainda. Agora estou sentindo. Mas assimilo bem isso, é da natureza humana.

Diário - Após a eleição, muita gente falou que o senhor ia dar nome aos bois, ou seja, falar quem realmente o apoiou e quem virou as costas. Este é o momento de apontar quem fez corpo mole.

Wilson - Não... isso é passado, isso não contribui em meu aprendizado. Considero que não houve traição individual, coletiva e nem partidária, todos fizeram o possível dentro de uma estrutura precária, com o mínimo para se fazer uma campanha majoritária num Estado com enorme extensão territorial.

Diário - Já que o senhor não fala de quem não ajudou, fale de quem ajudou. Quem esteve do seu lado, mesmo com essa estrutura precária, a quem o senhor agradeceria?

Wilson - Primeiro agradeço a Deus, arquiteto do universo, que me permitiu conhecer todas as regiões do meu Estado de ter o privilégio como cidadão mato-grossense de vivenciar uma candidatura ao governo do meu Estado. Depois à minha esposa Adriana, que é uma mulher fantástica, virtuosa, companheira de todas as horas, especialmente as mais difíceis. Aos meus três filhos, que compreenderam esse embate. As agremiações partidárias que marcharam conosco nessa aliança. E aos quase 250 mil mato-grossenses que confiaram o voto na minha biografia, história e principalmente nas nossas propostas para fazer um Estado justo.

Diário - Como foi a participação do senador Jayme Campos?

Wilson - Profunda. Jayme foi firme, não titubeou, em nenhum momento ele fraquejou. O vice Dilceu Dal Bosco também trabalhou bastante, tanto que na cidade dele, Sinop, tivemos margem de votação maior que aqui.

Diário - Qual foi o grande erro estratégico de sua campanha?

Wilson - Eu acho que faltaram votos. Ficar aqui colocando culpa neste ou naquele não dá... Faltou voto. Eu tive sete vitórias e agradeço sinceramente ao povo que meu deu a honra de representá-lo de maneira consecutiva durante 21 anos e três meses. Mas na verdade, faltou voto.

Diário - Passado um mês da eleição, qual a avaliação que o senhor faz do processo em Mato Grosso?

Wilson - É um processo que precisa ser aprimorado, porque é desigual, desequilibrado, desproporcional. Quem está no poder dificilmente perderá uma eleição. A instituição da reeleição precisa ser repensada, porque ela leva a um desequilíbrio total. No meu caso eu tive que deixar a prefeitura, vir para as ruas de mãos vazias, enfrentar alguém que ascendeu ao poder Executivo, governando um orçamento de aproximadamente um bilhão de reais, distribuindo máquinas, caminhões, lançado obras e serviços. É algo extremamente desigual. O Congresso Nacional precisa debater e aperfeiçoar o instituto da eleição.

Diário - Depois dessas eleições, como fica o PSDB, qual a posição que o partido deve ter em Mato Grosso?

Wilson - Em nível nacional o PSDB sai fortalecido, pois foi o partido que mais elegeu governadores. O partido vai governar os grandes estados. Saltamos de seis governadores para oito. Houve uma razoável diminuição da representação parlamentar em nível nacional. Aqui em nível estadual nós tínhamos uma cadeira de federal e renovamos: sai a Thelma e entra o Nilson Leitão. Em nível estadual tínhamos uma cadeira e foi renovada com o deputado Guilherme Maluf.

Diário - Mas o PSDB acabou ficando sem a prefeitura de Cuiabá, a mais importante do Estado.

Wilson - É, mas ainda temos uma participação importante na administração do prefeito Chico Galindo, temos quatro vereadores na Câmara Municipal. Nas eleições municipais o PSDB tende a crescer nos estados onde elegeu governador. Acho que a Dilma não é o Lula, ela não vai fazer o mesmo sucesso que ele. E com certeza a sociedade já vai estar mais madura para uma alternância. Eu não tenho dúvida de que a bola da vez em 2014 é o PSDB e Aécio Neves, meu candidato. Já estou trabalhando para ele, estive com ele em outubro. Trabalho para que ele assuma a direção nacional do PSDB e que a gente possa definir o mais cedo possível nosso candidato.

Diário - No diretório estadual, o senhor tem interesse? Quem será o novo presidente aqui?

Wilson - A Thelma fez um ótimo mandato dentro das limitações. Mas o nome que surge naturalmente, de consenso e que pode aglutinar o partido, é o do deputado Nilson Leitão. Ele tem todos os predicados, transita com tranquilidade entre as lideranças do partido. Nilson Leitão, de maneira espontânea e natural, deverá ser o novo presidente do PSDB no Estado.

Diário - O senhor deixou a prefeitura de Cuiabá com um índice de aprovação baixo. Em nenhum momento o senhor pensou em desistir de se candidatar e salvar seu mandato?

Wilson - Não... Eu tenho pesquisa na época que mostram que eu deixei o mandato entre ótimo, bom e regular com 60%, somando esses três itens.

Diário - Mas o senhor foi o candidato com a pior votação justamente em Cuiabá.

Wilson - Foi um conjunto de fatores. O primeiro é que a população de Cuiabá não aceitou a minha saída, isso ficou claro durante a campanha e esse foi um dos erros que eu cometi, não ter ampliado o grupo de discussões sobre sair ou não da prefeitura. Se eu tivesse feito uma discussão mais ampla, com o máximo de segmentos organizados da sociedade, talvez eu pudesse ter ficado na prefeitura. Mas o grupo no entorno do prefeito precisava de alguém que avançasse com o projeto partidário, para ajudar o Serra no Estado. Nem sempre você impõe sua vontade pessoal, muitas vezes você tem que ceder ao coletivo, a um projeto maior. E nós tínhamos um, que era eleger o Serra. Ele precisa ter alguém em Mato Grosso. Em novembro de 2009 nós conversamos e ele pediu minha candidatura. A base do partido queria voltar a governar Mato Grosso. Havia um ambiente bastante simpático. Mas a população cuiabana em si não queria minha saída e durante a campanha deixou claro que foi um erro da minha parte ter deixado a prefeitura de Cuiabá. Eu reconheço isso, que se tivesse ouvido amplamente a população cuiabana saberia com mais profundidade que ela queria minha permanência.

Diário - O senhor teria ficado, então?

Wilson - Eu deixei pelo meu amor a Cuiabá. Na condição de governador, eu tenho certeza de que poderia fazer muito mais, resolver problemas que se arrastam há décadas e que os prefeitos não resolverão, porque a cidade está com baixíssima capacidade de investimento próprio, depende muito dos governos estadual e federal. A cidade tem uma dívida impagável com a União. O indexador leva a um regime escravocrata de dependência permanente. Uma das propostas que eu falei com o Chico é ver se o Estado assume essa dívida. Mas se eu tivesse ampliado a discussão, visitado umas instituições e entidades importantes, tenho certeza de que eu captaria com mais precisão o sentimento que só foi exposto nas urnas.

Diário - Se o senhor estivesse na prefeitura, acredita que o Estado assumiria?

Wilson - Claro que não. Eu sempre fui visto como o adversário a ser batido. Desde a minha posse eu fui visto assim. Então, eu sofri toda espécie de ataques. O Estado agiu de todas as formas para atrapalhar a gestão, para não permitir que eu tivesse sucesso.

Diário - Quais são seus planos para os próximos anos? O senhor pretende se candidatar nas próximas eleições? Para que cargo?

Wilson - Vou dar uma resposta curta. O meu futuro a Deus, só a ele, pertence.

Diário - Quando o senhor vai inaugurar seu escritório de consultoria?

Wilson - É este aqui em que você está. Já estou dando a entrevista nele. Tenho alguns pré-clientes. Estou animado com essa possibilidade, já há bons sinais, estou sentindo que vai ser uma boa linha de trabalho. Sou proprietário dessas duas salas aqui no Centro Empresarial Paiaguás há 11 anos. Sempre funcionou meu escritório político como deputado federal e também como prefeito. Já tenho mantido alguns contatos com prefeitos do interior, com governadores do PSDB eleitos e reeleitos. Afinal de contas, eu fui vice-presidente da Frente Nacional de Prefeitos, então conheço aí quase mil prefeitos Brasil afora. Tenho muito espaço para trabalhar.

Diário - Para sala de aula o senhor não volta?

Wilson - Vou revezar também. Faço questão de, a partir do ano que vem, voltar a lecionar. Adoro, é minha paixão. Tem muito cursinho, faculdades, já tenho recebido algumas sondagens. Estou pensando em fazer uma especialização, quem sabe um mestrado? Quero conciliar trabalho e estudo. Reciclar, me preparar e, quem sabe no futuro?, num novo chamamento, nova convocação, eu esteja mais atualizado e preparado para novos desafios na vida pública.




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Deise Maria  15.11.10 23h40
Wilson,nem um politico consegue anda sozinho.Você tem o seu voto,e mais nada!Por isso, a necessidade de ser mais humilde,deixar de ser autoritário,caso contrário,é esse o fim de todos os politicos.Olha bem para o vereador.Antônio fernandes,é um mandato só.Mau começou,e já vai acabar,quer pagar prá ver....
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ronaldo araujo  11.11.10 10h23
E EX- prefeito vc agora apreende a fazer acordo com o povo e mostrando trabalho, se bem que agora fica sem graça bate em vc, pois não e mais nada.
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REYNALDO JUNIOR  08.11.10 08h29
NAO FALTOU DINHEIRO E SIM COMPETENCIA POIS FALA O Q NAO CUMPRE SEUS MELHORES ALIADOS JOGOU AO VENTO PLANTOU E COLHEU TINHA EMOÇAO E NAO RAZAO P SER GOVERNADOR DE MT AI SIM IA SUBIR P CABEÇA SEU DEMAGOGO.A SUA TEIMOSIA E NAO OLHAR EM SEU REDOR FEZ Q TUDO ISSO VIESSE A TONA JA O SEU GRUPO HEIN ANTERO,CARLAO,AVALONE,ZE ROSA,THELMA SAO UM BANDO DE CORJA ENTREGOU A PMC A GRUPO Q JA VINHA COLOCANDO AS UNHAS DE FORA PERANTE AOS SERVIDORES DE CARREIRA ESTAO SE ACHANDO Q PARA TODA VIDA ESSES 2 ANOS...
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Wantuil Fabiano Franco de Menezes  07.11.10 18h30
Muito bem Wilson. Vamos esperar agora que ele, ouvindo os setores organizados da sociedade e a população cuiabana de uma maneira geral, atenda o desejo de todos de que ele nunca mais se candidate a cargo eletivo nenhum para o bem de Mato Grosso e de Cuiabá.
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Zé Mendes  07.11.10 18h28
WS, você pecou não só deixando a prefeitura, para candidatar ao governo do MT, foi por altos preços da passagem nos transportes populares "transportes coletivos", na epoca você ficou do lado dos empresários dos transportes, a população que dar votos, o que você fez, deu as costas e denfendeu seus entereços junto oe poderossos do transporte, você abandonou as ruas e população ficou com os buracos, não falando no lixo, você quis permanecer com uma empresa viciada em licitações para coleta de lixo, e o que deu, CUIABÁ foi transformada em só lixo, o pronto socorro foi só problema na sua gestão......na distribuição das casa popular, pela prefeitura foi só problema nada sério na distribuição, WS, VOCÊ É BOM COMO LEGISLADOR, PORQUE FALA SEM RESPONSABILIDADE, E COMO EXECUTIVO VOCÊ É UM ALASTIMO DE
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