O episódio do domingo (28) de "Game of Thrones" foi criticado por alguns fãs por ser "escuro demais". Quem viu (ou melhor, tentou ver) a aguardada Batalha de Winterfell relatou nas redes sociais que foi complicado entender.
Para tentar esclarecer o terceiro capítulo da oitava e última temporada da série da HBO, o G1 conversou com diretores e especialistas. Em geral, todos concordaram em dois pontos:
A escuridão foi uma opção estética de fazer uma batalha em que os fãs se sentissem no escuro, perdidos e desesperados como os personagens. Eles não sabiam exatamente quem havia morrido. E você também não
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- A transmissão em alta resolução da HBO foi criticada pela falta de qualidade de imagem, com cenas menos nítidas e até pixeladas. Isso prejudica ainda mais a exibição de cenas mais escuras e com mais movimento
- Iluminador cênico e professor de iluminação da SP Escola de Teatro, Francisco Turbiani explica que tanta escuridão nas cenas fez parte da construção da simbologia da chegada do inverno: "Faz muito sentido que essas figuras cheguem e a luta ocorra em uma noite escura, fria e com neblina."
O iluminador diz que, em sua área, sempre se discute até que ponto você deve prejudicar o entendimento de cenas em troca de mais escuridão. Vale a pena ter uma luz impactante, mas que te impede de ver ações e rostos dos personagens? "É uma escolha estética, de linguagem. Não existe certo e errado. Está dentro do conceito da obra."
Da guerra ao terror
Renné França, professor de cinema do Instituto Federal de Goiás, define o episódio como um filme de terror de uma hora e 20 minutos.
França sabe bem como um produto audiovisual precisa de cuidados quando a escuridão faz parte da estética. Ele dirigiu o terror "Terra e Luz" , sobre criaturas vampirescas em um sertão pós-apocalíptico. Como o filme era muito escuro, conta que teve problemas com a qualidade da exibição em festivais brasileiros e internacionais.
"O episódio usa a escuridão para criar confusão, a gente fica desnorteado como os personagens estão. O Sam é eleito como o representante do público, uma pessoa comum no meio de pessoas extraordinárias. Ele está totalmente perdido, não sabe para onde ir", explica.
Para ele, a série fascina tanta gente por saber misturar gêneros como romance histórico, narrativa épica, drama político e fantasia: "Mas o que é comum em todas as temporadas é o aspecto de terror, de filmes B de zumbi." Miguel Sapochnik, diretor de "Game of Thrones", havia dito à revista "Entertainment Weekly" que a ideia era filmar um "terror de sobrevivência".
E quais os problemas vieram com toda essa escuridão? "Você tem que lidar com o contraste. Na tela, funciona ou não... O som foi fundamental no episódio. A ambientação sonora de escutar o barulho das figuras chegando, os passos. Trabalhou uma experiência sensorial".
Para ele, quem reclamou deve dar outra chance ao episódio, nem que seja quando esta temporada for lançada em blu-ray ou para download em alta resolução. "Vai ter um contraste muito melhor, mais adaptado às TVs."
Aly Muritiba, diretor dos filme "Ferrugem" e "Para Minha Amada Morta", vai além e vê a história de "Game of Thrones" como a história da civilização. "É a história da violência, de grupos humanos lutando e matando uns aos outros. Nessa temporada, a barbárie dá lugar a algo muito mais forte, que é o medo. O medo da morte, de ser extinto".
Outra coisa a se levar em conta, segundo ele, é a verossimilhança. "Estamos falando de uma batalha em tempos em que não havia eletricidade. Não fazia sentido iluminar com super refletores. O mais legal é que nos coloca na pele das pessoas que estão ali defendendo Winterfell. Estamos ali também morrendo de medo", completa Muritiba.
O cineasta Fellipe Barbosa é menos taxativo ao falar do episódio. "Não sei se foi opção estética, se foi erro (talvez eles tenham ido longe demais), ou se foi estratégico", diz o diretor dos filmes "Casa Grande" e "Gabriel e a montanha".
"A estética alimenta essa confusão. Já que é confuso, vamos confundir mesmo. A escuridão te deixa assim, no escuro. Então, talvez contribua pra tensão. Fiquei tenso vendo", lembra Barbosa.
Afonso Poyart, diretor de filmes como "Aldo ‑ Mais Forte que o Mundo" e "2 coelhos", concorda que o episódio entregou o que fãs queriam, mas entende a reclamação geral.
"Eu gostei do episódio mesmo tendo uma expectativa alta. Foi um pouco escuro demais e a batalha dos bastardos foi melhor. Mas a escuridão é um componente dramático, causa essa desorientação proposital", explica Poyart.
Divulgação/HBO
Cena de Game of Thrones com Samwell Tarly, vivido por John Bradley-West
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