O policial civil Jeovanio Vidal Griebel, que matou o idoso João Antônio Pinto, de 86 anos, no dia 23 de fevereiro passado, em Cuiabá, é cunhado do suposto grileiro que invadiu parte de uma área que pertencia à vítima, na região do Contorno Leste, no Bairro Jardim Imperial, em Cuiabá.
A informação é da advogada Gabriela Zaque, que atua na defesa da família do idoso.
Segundo ela, João Pinto foi morto após uma discussão com o suposto posseiro, identificado como Elmar Soares Inácio, por causa de uma cerca erguida na propriedade.
A advogada relatou que, logo após o desentendimento, Elmar Soares ligou para o policial, que em pouco tempo chegou à propriedade.
“O senhor João Pinto teve a sua terra invadida por grileiros há muito tempo. E ele vinha lutando para conseguir a reintegração de posse da propriedade, que foi determinada para abril deste ano”, explicou.
Ela contou que, após a ligação de Elmar ao seu cunhado policial, três viaturas descaracterizadas chegaram na propriedade da vítima, cerca de meia hora depois, e entraram sem autorização judicial.
“Eles não tinham autorização para entrar lá, não havia prévia investigação, não tinha nada. Foram lá porque o cunhado de um deles ligou falando que o senhor João Pinto o ameaçou. Eles invadiram a propriedade e gritaram: ‘Polícia! Polícia’. Logo em seguida ocorreu o fato”, disse.
O desentendimento
A versão apresentada pelos policiais foi a de que o idoso foi morto após reagir à abordagem policial. A família discordou, e apontou inconsistências.
Segundo a defesa, na manhã do dia em que João foi morto, o cunhado do policial se desentendeu com ele.
“O senhor João passou lá, de manhã, e viu esse homem construindo uma cerca. O clima deve ter esquentado na hora, ele mandou retirar a cerca e mostrou que estava armado. Isso é o que está no inquérito policial”, diz a advogada.
Reprodução
Área onde aconteceu a morte do idoso
Segundo Gabriela, o idoso tinha porte de arma. “Esse possível grileiro ficou ofendido, se estressou e ligou para o cunhado dele, que é policial. Mas foi tudo muito estranho, porque ele ligou e, em meia hora, os policiais invadiram a propriedade”, disse.
Os policiais abordaram os seguranças que o idoso tinha contratado. Logo em seguida a vítima foi morta.
“Os policiais alegam que foi em legítima defesa, que o senhor João Pinto estava armado e eles atiraram. Mas não existe legítima defesa, para isso eles teriam que estar dentro da lei, e não estavam, eles invadiram a propriedade”, disse a advogada.
João estava no hangar da propriedade, na companhia de um caseiro. Segundo a testemunha, os policiais chegaram gritando, ele tentou avisar o idoso mas não sabe se ele ouviu, pois apesar da boa saúde, tinha problemas auditivos.
O caseiro disse ter se escondido e apenas ouvido os tiros que mataram seu patrão.
João Antônio foi morto no dia do aniversário da esposa e, conforme Gabriela, a família ainda está abalada com tudo o que aconteceu. O casal completava 50 anos juntos.
"Corporativismo"
A advogada explicou que até agora constam no processos os interrogatórios dos autores e das testemunhas. Os resultados periciais ainda não ficaram prontos.
Gabriela disse que já entrou com um requerimento junto à Corregedoria da Polícia Civil, para averiguar se foi instaurado um procedimento de investigação para apurar a conduta dos policiais. “Eles me responderam que não. E que não vão entrar com nenhum procedimento até que o inquérito seja concluído. Mas o inquérito pode levar anos. Isso é revoltante”, disse.
“A gente confia no trabalho da polícia, mas o corporativismo não pode prevalecer”, afirmou.
“João Antônio confiava no Estado para garantir o seu direito de propriedade. O Estado não garantiu, permitiu que esses grileiros tomassem conta. E, então, além de violar a propriedade dele, um agente do Estado tirou a sua vida”, disse.
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