Uma pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, constatou que um em cada três brasileiros (35%) conhece alguém que foi assassinado.
De acordo com o estudo, a região Centro-Oeste é a que tem a taxa de vítimas de violência mais alta. São 65% das pessoas que já teriam sofrido algum tipo de violência.
Em Cuiabá e Várzea Grande, desde o início do ano, a Secretaria de Estado de Segurança já registrou 66 casos de homicídio e 5 de latrocínio (roubo seguido de morte).
Estes dados refletem uma realidade que é sentida por muitos cuiabanos. É o caso do advogado João Gabriel Silva Tirapele, de Cuiabá, que teve uma prima assassinada em janeiro de 2014.
Segundo ele, a família ficou desestabilizada com o incidente.
“Chocou muito toda a família. O marido e os filhos dela se mudaram de Cuiabá. A mãe dela já estava ruim antes, havia sofrido um AVC e estava de cama. Aí, quando ficou sabendo do assassinato, só foi piorando até morrer. Morreu uns 6 meses depois da filha”, disse o advogado.
Andrea Canuto Tirapele Carreira da Silva, na época com 41 anos, foi encontrada morta em seu carro na Comunidade de Passagem da Conceição, em Várzea Grande, em 31 de janeiro de 2014. Ela foi estuprada e assassinada por Antônio Gouveia, que era seu inquilino em uma quitinete.
“Ela foi encontrada dentro do porta-malas do carro dela, em um terreno baldio. Quando ela ia sair do veículo, tomou uma pancada violenta na cabeça, ficou totalmente desacordada e foi levada para outro lugar em que foi feito o ato com ela, Depois, ele esfaqueou minha prima, sendo que uma das perfurações atingiu o coração. Ela morreu por uma hemorragia interna. Não satisfeito, na hora de desovar o corpo, ainda cortou o pescoço dela, para ter certeza de que ela não iria sobreviver”, contou.
O crime só começou a ser resolvido após aparecerem contradições nos depoimentos.
“O rapaz que a encontrou, furtou o celular dela, que estava dentro da bolsa no carro. Ele foi preso temporariamente. No depoimento, disse ter cruzado com o inquilino da Andrea, que foi quem matou ela. Este inquilino, no depoimento no começo das investigações, disse que não estava lá. Então, aí começaram as contradições”, afirmou.
O inquilino de Andrea foi preso, acusado de ter cometido o assassinato, por conta do depoimento do rapaz que encontrou o corpo.
Entretanto, para provar o estupro, a família teve que esperar a chegada de um reagente utilizado na realização de exame de DNA.
“Quando esse bendito reagente chegou, aí, sim, podia ser feito o exame. Mas, nesse período, ele já tinha sido solto. Então, ficávamos acompanhando o processo, olhava aonde que foi o último endereço dele. Enfim, ele foi a júri popular e condenado a 22 anos de reclusão em regime fechado”, afirmou.
João Gabriel acredita que o crime só foi solucionado porque ele, como advogado, sabia os caminhos que deveria percorrer para pressionar as investigações.
“No caso da minha prima deu certo porque tinha um advogado que era primo, eu, que queria que a investigação andasse. Fiz plantão na porta da delegacia, fiz plantão na Politec, mandei ofício para um monte de gente, fiz pressão”, contou.
Burocratização
Para ele, o que acontece em muitos casos é a burocratização do sistema de investigação.
“Comparando com outros países, nos Estados Unidos, por exemplo, o delegado tem liberdade para investigar. Aqui no Brasil, se é preciso fazer uma quebra de sigilo telefônico, o delegado não faz, ele tem que pedir para o juiz, e isso demora. Se é preciso adentrar na casa de um suspeito, investigando, não pode", explicou.
Mesmo enxergando falhas no sistema, o advogado disse confiar na Justiça e que ela é uma forma de trazer conforto às famílias.
“Para a família, a questão do sentimento é terrível, uma sensação de total omissão, de impotência. E este tipo de demora compromete a apuração do crime. Então, se você der estrutura para a polícia trabalhar, estabelecer metas e prazos para eles, a coisa muda. Assim, mais crimes seriam solucionados e menos famílias teriam o sentimento de impunidade”, disse Tirapele.
Ele acredita que as delegacias precisam ter mais autonomia para fazer investigações.
“Tinha que dar autonomia ao delegado fazer a investigação sem limites. Eu advogo para 40 delegados, praticamente nenhum está satisfeito com a gestão, por questão salarial ou por autonomia. Não pode ter excessos, mas tem que mudar", afirmou.
"A perícia também precisa ter mais estrutura, porque no caso da minha prima, que foi estuprada e assassinada, deram prazo de 6 meses a 1 ano para fazer o exame que comprova se ela foi submetida ou não a essa situação. Isso é inconcebível”, disse.
Gabriel recomenda que famílias que passam pela mesma situação que a dele procurem um advogado.
Alair Ribeiro/MidiaNews
Prima de João Gabriel foi estuprada e assassinada em 2014, com sua ajuda o caso foi resolvido
“Se você teve alguém na tua família que foi assassinada, contrate um advogado, um que vai pressionar, porque senão o caso vai cair no esquecimento”, afirmou.
Pesquisa sobre violência
A pesquisa da campanha Instinto de Vida, feita pelo Instituto Datafolha, foi feita através de 2.065 entrevistas, com pessoas de todo o País. Segundo o estudo, essa amostra permite a leitura dos resultados no total do Brasil.
Segundo os dados, 52% dos brasileiros adultos declararam já terem sido vítimas de violência ou que conhecer alguém que já foi.
Na região Centro-Oeste, 65% dos entrevistados responderam que já sofreram ou conhecem alguém que foi vítima de violência, sendo a maior taxa do Brasil.
As maiores vítimas são homens (59%) que se denominam de cor preta ou parda.
De acordo com a pesquisa, nove em cada dez brasileiros adultos (94%) avaliaram como alto o nível de homicídios no Brasil.
Ainda segundo os dados, 96% dos entrevistados dizem que os governos precisam se unir para diminuir o crime no país e também 96% concordam que a Polícia deve preservar a vida acima de tudo.
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2 Comentário(s).
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Robson Cuiabano 28.05.17 19h33 | ||||
Caro Dr. João Gabriel, sou leigo na área jurídica, mas o sr. como um bom advogado que é, como demonstrou ao afirmar que advoga para mais de 40 delegados e acredito que deves ter muitos outros clientes importantes. Sugiro ao Sr. que conhece todos os tramites legais de um processo judicial para investigação até o julgamento de um criminoso e sabe de todos os empecilhos para o bom andamento (agilidade) do processo, que juntamente com os delegados para os quais o sr. advoga, reúna com eles e faça um projeto de Lei popular voltado para esse assunto e protocole essa alteração na Lei e utilizando-se da mídia para fazer conhecimento da população a nível nacional, creia será de interesse para todos assinarem esse projeto. Entendo que se depender dos nossos representantes isto jamais acontecerá, tendo em vista o interesse deles por causa próprias. Valeu Dr. Fica a dica! | ||||
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PACHECO 28.05.17 16h14 |
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