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GASTRONOMIA
03.09.2017 | 10h31 Tamanho do texto A- A+

Após 33 anos, empresário "Cacalo" deixa o ramo de peixaria

Empresário se diz realizado com negócio mas frustrado com situação do Rio Cuiabá

Alair Ribeiro/MidiaNews

José Carlos Jorge, o

José Carlos Jorge, o "Cacalo", que vendeu a peixaria para ex-funcionário

VINÍCIUS LEMOS
DA REDAÇÃO

Após mais de três décadas no ramo de peixaria, o empresário José Carlos Biancardini Jorge, o "Cacalo", de 64 anos, decidiu se retirar da atividade.

 

Ele acaba de vender a Cacalo Peixaria, um dos restaurantes mais tradicionais da Capital, para um antigo funcionário. A partir de agora o estabelecimento passa a se chamar Joelson Peixaria.

 

Cacalo se orgulha da história que construiu no estabelecimento, localizado na Avenida Antártica, no Bairro Santa Rosa. O restaurante foi inaugurado pelo empresário em 1984, após ele retornar de Brasília com a mãe e o irmão. O pai dele havia falecido havia pouco, por isso a família decidiu voltar ao Estado.

 

“Quando morava em Brasília, eu tinha um restaurante, no Lago Sul. Fiquei muitos anos por lá. Somente retornei quando meu pai faleceu. Logo que voltei, já tinha a ideia de montar um restaurante em uma região bem localizada, uma área que fosse frequentada por pessoas com poder aquisitivo mais alto”, disse.

 

O amor pelo comércio, segundo ele, vem desde a infância, pois os familiares sempre tiveram estabelecimentos.

 

“Fomos criados atrás de balcão de restaurante. Meus avós eram donos do Hotel Esplanada, onde funciona a Riachuelo. Meus outros parentes também tinham estabelecimentos. Isso tudo fez com que eu tivesse a ideia de trabalhar na área”, revelou.

 

Ao longo dos 33 anos, Cacalo ressaltou que sempre foi feliz no local e viveu momentos inesquecíveis.

 

Tive muitas experiências marcantes. Isso aqui foi uma vida para mim. Como eu sempre gostei de cozinha, fui muito feliz

“Tive muitas experiências marcantes. Isso aqui foi uma vida para mim. Como sempre gostei de cozinha, fui muito feliz. Recebi diversas personalidades, entre elas artistas como a Fernanda Montenegro, e três presidentes da República, entre eles o Lula”.

 

“A lista extensa que tenho é incalculável. Sou conhecido no Brasil todo. Graças a Deus, tive o privilégio de segurar o meu restaurante”, completou.

 

Ele garantiu que a decisão de deixar o estabelecimento em nada tem a ver com a crise econômica que atinge o Brasil. “Não teve nada disso. Eu cansei mesmo e tinha uma promessa de parar de trabalhar. A crise existiu, lógico, mas não foi isso que me motivou. É porque eu tinha essa meta de parar”.

 

O empresário relatou que sempre teve o objetivo de encerrar os trabalhos aos 50 anos. Porém, acabou estendendo o prazo. “Acabei postergando esse período até os 64. Mas agora decidi que era o momento, pois estou tranquilo. Criei minhas duas filhas, uma atualmente é médica e outra mora no Catar com o marido”.

 

Cacalo mudou-se para Chapada dos Guimarães, onde vive em um condomínio fechado, e há cinco anos mexia apenas com a parte administrativa da peixaria. O responsável por tocar o restaurante, durante todo esse período, foi Joelson Venega.

 

“O Joelson trabalhou 20 anos comigo. Ele tem uma noção do que é a Cacalo. Ele aprendeu a trabalhar nesse ramo comigo e ficou craque”.

 

O desempenho de Joelson à frente da peixaria foi aprovado pelo antigo proprietário, que decidiu vendê-la ao funcionário.

 

“Eu falei para ele que, se a qualidade for mantida, com certeza vai ter um bom desempenho. Agora, daqui pra frente, o Joelson é quem vai decidir o que vai fazer. Mas acredito que ele vai seguir na mesma linha”, contou.

 

O tradicional cardápio do restaurante, especializado em peixes da região, continuará o mesmo. Entre as opções, há pratos como peixes pantaneiros, piraputanga frita e assada, matrinchã, mujica, filé de pintado, farofa de banana tradicional, pacu assado e recheado com farofa de couve, entre outros.

 

“O restaurante vai continuar especializado em pratos com peixes da Grande Cuiabá, que considero suficientes. São peixes simples, não precisa mais que isso. Utilizamos apenas itens cuiabanos, não há motivos para sair disso”, comentou Cacalo.

 

Decepção com cuidados ambientais

 

Nos últimos anos, Cacalo relatou que um dos itens que o desestimularam a continuar com a peixaria foi a falta de preservação dos peixes da região. Segundo ele, há descaso do poder púbico com o assunto.

Alair Ribeiro/MidiaNews

Cacalo 30-08-2017

Cacalo e Joelson Venega, ex-funcionário que agora é dono do restaurante

 

“De 1986 pra cá, muita coisa mudou. Vinte anos atrás, Cuiabá não era o que é hoje. Havia fartura de peixes, mas hoje não há mais e isso me deixa muito preocupado. Eu fui desgostando. Fui um cara que vestiu a camisa da preservação do Rio Cuiabá e dos peixes, mas nunca fizeram nada, o governo nunca ajudou”.

 

“Hoje o Pantanal está virando uma grande fossa cuiabana e ninguém fala nada. Os esgotos estão caindo no Rio Cuiabá, sem tratamento”, lamentou.

 

Ele comparou a atual situação dos peixes do Estado com décadas atrás. “Antes, era possível comprar pintado de 50 a 70 quilos. Hoje não acha mais. A qualidade do peixe foi caindo. A fartura não existe mais. Isso tudo foi me deixando desgostoso”, explicou.

 

Cacalo foi um dos responsáveis por liderar a campanha “Pantanal pede socorro”, porém, ele comentou que o movimento nunca teve resultados.

 

“Encampei a campanha com vários políticos, mas nada foi atendido. Hoje não há nenhuma preservação nos rios”, asseverou.

 

Seguindo em frente

 

O empresário afirmou estar tranquilo com o futuro da peixaria que fundou. “Há clientes meus que chegam para mim, há anos, e dizem: ‘Cacalo, não precisa mais vir aqui, pode ficar onde está, porque a casa está muito bem tocada pelo Joelson’. Isso é muito bonito. Ele teve essa qualidade e manteve o padrão”.

 

O novo proprietário do local agradeceu a confiança do antigo patrão e prometeu que irá honrar o legado de mais de três décadas. “Vou dar continuidade ao serviço. Vamos honrar o que ele fez durante esse tempo e vamos tentar melhorar ainda mais”, comentou Joelson.

 

Cacalo pretende frequentar sazonalmente o lugar, que permanece no mesmo endereço. Desta vez, ele será apenas cliente. Para o futuro, pretende aproveitar a fase de aposentado ao lado da família, que comemorou a decisão dele de vender a peixaria.

 

“Vou visitar a minha filha no Catar, passarei dois meses com ela. Não tenho mais nenhum estabelecimento. Encerrei o expediente. Trabalhei muito ao longo da vida, já fiz o que tinha que fazer”, concluiu.

 

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Cacalo 30-08-2017

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Cacalo 30-08-2017

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Cacalo 30-08-2017

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Cacalo 30-08-2017




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13 Comentário(s).

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Marcelino D. Gutierrez  04.11.18 10h19
Tive uma empresa em Cuiabá de 89 a 93. Atendi muitas vezes o Restaurante quando solicitado e fiquei conhecido do Cacalo. Achava o máximo encontrá-lo sempre muito cedo no Mercadão do Porto, escolhendo os melhores peixes. Todas as vezes que fui ao restaurante sempre fui muito bem atendido, parabéns ao Cacalo. Que Deus guie seus passos nesta nova etapa da sua visa.
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Natasha martins  08.09.17 11h10
Que triste ...cacalo vai ficar pra história 😢
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Julio Jose de Campos   05.09.17 07h59
Quero cumprimentá-lo pelo excelente trabalho que fez pela preservação da qualidade e gostosura da peixada cuiabana e pela defesa do nosso legendário Rio Cuiabá nesses mais de 30 anos da sua vida. Saudades do seu saudoso pae Douglas, um abraço na querida Catarina..e a certeza de que você deixa um exemplo para todos nós. Abraços
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Natasha martins  04.09.17 13h16
Que triste ...cacalo vai ficar pra história 😢
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Jota Alves  04.09.17 09h40
Nos três anos no governo de MT a peixaria e o Cacalo foram ponto de apoio,conselhos, reuniões.Caminhava de minha casa Rua Alemanha 181 para o uísque noturno e grandes papos cuiabaníssimos. Falamos ate em abrir uma Peixaria Cuiabana em Nova York. Cacalo, descanse, mas, não pare, defenda seu novo lar, Chapada dos Guimarães. Good luck to you!
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