Foi-se a época em que brechó era associado a traças, roupas velhas, quinquilharias e mofo. A reinvenção do conceito de brechó tornou-se sinônimo de economia, acessibilidade e, principalmente, sustentabilidade.
Reutilizar e ressignificar um sentido consciente ao uso de roupas, além de construir novas histórias e personalidade para aquelas peças, provam que moda e sustentabilidade combinam muito bem – e é um formato de negócio que rende.
Exemplo disso é iniciativa da empresária Denise Vachetini, que, após trabalhar oito anos como consultora de médias e pequenas empresas no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), reuniu todo seu conhecimento e experiência na área e decidiu investir no seu próprio negócio, de viés sustentável.
O brechó itinerante “Coisas da Dê”, que acontece todo início de mês, no Espaço Magnólia, na Rua 24 de Outubro, no bairro Goiabeiras, em Cuiabá, une o conceito de boutique e renda extra para quem colabora – as pessoas que doam as roupas recebem 70% do valor da venda.
“No Senai, eu era consultora de empresas pequenas e médias e lá trabalhei até 2007, que foi quando iniciei um projeto de sustentabilidade. Como já era consultora, eu via o problema de muita gente, que abria empresas e quebrava muito rápido. Para mim, eu queria alguma coisa bacana e eu sempre gostei de brechó. Sou do Paraná e lá isso é uma coisa muito comum. Aqui é diferente: você fala em brechó e o povo pensa: ‘Nossa! Coisa encardida, trem feio, velho’. E eu respondo: ‘Alto lá! Nem tudo que é velho é feio’”.
“Quando eu desenvolvia o processo de levar solução para empresas, omecei a criar muitas soluções para várias coisas. E eu acho que solução para roupa usada também existe. Você ajuda um monte de gente”, disse.
No primeiro dia do brechó, realizado em casa, Denise desocupou seu armário, tirou o acúmulo de roupa das parentes, improvisou umas araras e convidou amigos para celebrar a pechincha.
O trabalho, que começou com 400 peças, atualmente arrecada em torno de 1200 roupas, com as quais Denise enche sete malas e as leva para o Espaço Magnólia. A iniciativa deu tão certo que levantou R$ 8 mil iniciais.
“No começo, catei toda a minha roupa, porque o brechó, no meu conceito, você não compra roupa nova, você tem que vender as usadas em bom estado. Catei todas minhas roupas, meus calçados, catei tudo da minha mãe, irmã, das minhas amigas e fiz um negócio enorme. Liguei o ‘arzão’ aqui e providenciei uma arara e falei: ‘Vamos fazer um brechó’. Sei que a gente movimentou uns R$ 8 mil, todo mundo e pensei: ‘Cara, isso dá certo’”.
“Peguei o projeto com meu esposo, que é analista financeiro. Começamos a fazer as contas e ele viu que rendia. Abri uma empresa MEI, que é microempreendedor, porque eu queria uma coisa que não precisasse ficar alugando, já que o aluguel é caro. E ainda veio a crise em 2007, muita gente quebrou e fechou empresas, e as pessoas não se conscientizaram. Então, pensei em trabalhar com reuso e comecei a fazer o processo das roupas. Comecei em condomínios, por exemplo. Você vai à casa de uma colega, junta 30 amigas, cata as malas e fazia o brechó em casa”, contou.
Alair Ribeiro/MidiaNews
Acervo de Denise começou com 400 peças; hoje, a empresária arrecada em torno de 1200
O processo de criação do acervo mensal ainda acontece em casa, onde Denise recebe as peças e realiza uma triagem.
Quebrando o preconceito de que brechó só tem roupa velha e sem condições de reuso, a empresária arruma defeitos mínimos, além de mandar para a lavanderia. A intenção é que a pessoa chegue, leve a roupa e já saia com ela, sem se preocupar com costureira depois, por exemplo.
“Fico o mês todo recebendo. Chega a roupa, conto as peças, junto com o cliente. No decorrer dos dias, a gente faz uma triagem das roupas, porque nem tudo passa. Tem roupa que tá furada, zíper que não funciona. E o conceito que eu falo de boutique é vestir e sair, sem ter que ir lá na costureira botar um zíper. É inteiro, uma roupa bacana. Se tiver um descosturadinho, a gente coloca ‘com defeito’ e bota R$ 10, R$ 5. Feita a triagem, nós etiquetamos, colocamos sua sigla e o preço. O que estiver sujo vai para a lavanderia. Lavou, passou, está pronta pra vender”, disse.
“Quando fiz esse processo de trabalhar de uma forma diferente, peguei esse acervo e levei pro Espaço Magnólia, onde loco todo mês e fico por dois dias e coloco tudo à venda. Antes, era só “Brechó Coisas da Dê”, mas hoje virou ‘Brechó Coisas da Dê", com conceito de boutique. Porque as roupas são novas e seminovas, o que chamamos de usado novo”, explicou.
Além de receber as roupas de amigas e parentes, Denise também criou parcerias e ainda pratica a garimpagem, típica de quem é “brechozeiro” e gosta de economizar com qualidade.
Ela adquire mais peças de desfiles e grandes promoções, e um botão caído ou um descosturado não a impede de somar mais um item a coleção, evitando também o desperdício generalizado.
“Peguei minhas parentes do Paraná que têm loja e, às vezes, em seu depósito ou armazém, fica uma peça que encalha e não vende por preço nenhum. Põe R$ 70, R$ 50 e ainda fica lá. Ai eu vou lá e consigo com até 90% do preço e vendo. Se tem um desfile, por exemplo, em Campo Grande (MS) eu participo. Nesses desfiles, chega uma saia da John John e ai cai um botão, a modelo veste e cai uma etiqueta, um paetê... Você acha que a boutique vende, já que a saia é R$ 200? Não, não vende. Ai a dona da loja pega essa peça e fala: ‘Dê, vende isso aqui, vamos baratear esse negócio’. E, pra mim, se não tiver uma etiqueta, um paetê, tá ótimo! Só não vale furada”, acrescentou.
O brechó ainda trabalha com todas as de propostas de roupas - para crianças, homens, adultos, plus size -, recebendo peças mais simples e até grandes marcas, com faixa de preços acessíveis – de R$ 5 até R$ 200.
Marcas como Diesel, Calvin, Zara e Dudalina, por exemplo, podem sair à R$ 50.
“Trabalho com todas as marcas, tudo que vier é aceito. Renner, C&A, Riachuelo, Oba Oba... Se a pessoa tiver estilo, tudo vale! É você saber comprar. Não precisa comprar um vestido de R$ 1.600, quando você pode comprar um de R$ 100 e ficar tão linda quanto. Mas tem público e mercado pra todo mundo. Eu abri o brechó para facilitar, para as pessoas poderem ter acesso e comprar também as grandes marcas. Porque sabemos que não é fácil. Fiz com esse propósito, de trabalhar com algo diferente e para que todos tenham acesso, inclusive eu”, completou.
O evento
Em agosto, o brechó está marcado para os dias 11 e 12, no Espaço Magnólia. Quem for as compras e levar sua própria sacola, recebe ainda mais 5% de desconto.
“Tudo aquilo que você faz uma reutilização, você já está ajudando bastante, até o meio ambiente. Primeiro que roupa você não precisa jogar fora, você dá um aproveitamento dela para outra pessoa. Antes de vender, vê se seu irmão não quer, sua irmã, sua tia... Vê primeiro dentro de casa. Não serviu, ninguém quis? Vem pro brechó. Essa é a possibilidade de você fazer um reuso, de não precisar comprar tanto, de mais pra menos. Tem a sacola também. Por exemplo, eu não tenho e não uso. Se você faz uma compra no brechó, leva sua sacola e ainda ganha 5% de desconto. Pode ser de plástico, mas a preferência, é pra papel. Porque eu penso assim: se a boutique gastou uma fortuna para fazer a sacola, você vai jogar fora? Não precisa disso”, afirmou.
“O brechó é isso, um reuso, utilizar algo que ainda está inteiro. Porque assim não está furado, está? A pessoa usou e pra ela já deu. Ai eu uso com cuidado e depois que não quiser mais, posso vender. O povo diz que a gente tá enlouquecendo de tanto comprar, não é. Eu uso essa calça, lavo e coloco no brechó. Imagina quanta gente não vai usar. Eu, você, o outro”, completou a empresária.
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14 Comentário(s).
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Dê Martins 13.08.18 06h13 | ||||
Pessoal O brechó trabalhada somente com roupas e bolsas(calçado só novo). Não compro peças, aqui é somente consignados. Obrigada Dê | ||||
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Dê Martins 13.08.18 06h06 | ||||
Olá pessoal, sou Denise Martins a proprietária do brechó. Quem puder seguir pelo face ou Instagram, ficará melhor pra responder. brechoboutiquecoisasdade Abraço Dê Martins | ||||
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Simone de Barros Garcia Carvalho 01.08.17 18h07 | ||||
Gostaria de entrar em contato com fornecedores trabalho com roupas masculina, feminina e infantil e acessórios. | ||||
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Sheila Bertolaci 31.07.17 21h24 | ||||
Olá sou do litoral paulista Estou vendendo acessórios e roupas Me chame 13981156233 Aguardo | ||||
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Francisca Breunig Fernandes 31.07.17 17h30 | ||||
Tenho muitas roupas e calçados, novos e semi-novo a para negociar. | ||||
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