A cuiabana Rita de Cássia Lopes, de 51 anos, tem chamado a atenção nas ruas da Capital com adesivos ousados pregados ao seu Volkswagen Fox. O que poucos sabem é que por trás dos polêmicos adereços a instrutora de autoescola e educadora do trânsito, com mais de 20 anos de carreira, tem uma nobre missão.
Há sete anos desempenhando a função de personal driver, ela se dedica a pessoas já habilitadas que, por alguma razão, não conseguem estar na direção de um veículo. Seu objetivo a longo prazo é trabalhar exclusivamente com PCDs (Pessoa com Deficiência).
Os adesivos vão desde um: “Não buzine, aluno em treinamento”, a “Antes de colocar o dedo na buzina enfia o dedo no Ú e cheira”. Esse último ainda tem a variação em que o Ú é substituído pelo desenho de um macaquinho com o ânus a mostra.
“As pessoas são muito mal educadas no trânsito e esse foi o jeito que encontrei de expressar a minha ira. Não posso sair do meu carro e falar aquilo, não sei como a pessoa saiu de casa, se ela tomou medicação, se está armada”, afirmou.
Rita conta que precisou tirar um de seus adesivos mais polêmicos, porque ele teve o efeito contrário. Ele dizia: “Aluno em treinamento, não buzine. Se buzinar você é um corno e se continuar, além de corno é analfabeto”.
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Rita ao lado de seus adesivos "polêmicos"
O sucesso do adesivo se reverteu em ainda mais buzinas. “Descobri que 70% da população de Mato Grosso é corna, porque eles passavam por nós e ‘bibi’, ‘eu’, ‘estou sendo agora’, ‘eu já fui’. Aí tirei”.
O vídeo de seu carro viralizou nas redes e dividiu opiniões. Se por um lado a maioria amou a abordagem, por outro teve quem dissesse que ela era ineficaz e deselegante. Mas Rita disse não se importar com as críticas e até convidou quem a chamou de “boca suja” a passar um dia com ela na função.
Divisor de águas
Há cerca de 15 anos a instrutora foi acometida por uma estafa mental. “Comecei a tremer do nada, a ter espasmos, era como se eu tivesse mal de Parkinson”. Após o episódio, quando pegou o carro pela primeira vez, ela simplesmente havia “esquecido como se dirigia”.
“Eu fui pedir auxílio para as pessoas e elas riam de mim, eu senti vergonha e não tinha coragem de dizer a elas que eu tinha esquecido”.
Rita reaprendeu a dirigir com uma amiga instrutora que lhe ensinou tudo desde o começo e, hoje, é a necessidade de seus alunos que a motiva na função. “A palavra ‘eu preciso’ mexe muito comigo”, diz.
Perfil do aluno
Rita conta que 70% da sua clientela são de mulheres, em geral viúvas ou divorciadas, que estão com o carro parado na garagem, que tiraram a carteira, mas nunca dirigiram ou não praticam há muito tempo.
Ela atende também pessoas idosas entre 70 e 80 anos, e PCDs, pessoas com dislexia, TDH, nanismo, entre outros. Apenas 10% dos seus alunos são de recém-habilitados.
A quantidade de aulas varia muito de caso para caso e são inteiramente feitas no trânsito. Rita tem alunos que contrataram em torno de seis aulas, mas também tem aqueles que contratam seus serviços por um semestre inteiro com aulas diárias.
Segundo a personal, a maior queixa dos alunos é a loucura do trânsito. “As mudanças de tráfego, se alguém vir pra cima o que vão fazer, o que acionam primeiro. Dizem que o maior medo é do trânsito e de machucar alguém”.
Apesar do discurso dos alunos, Rita alega que em seus 20 anos de carreira não encontrou ninguém com fobia do trânsito.
“Eu só encontrei pessoas com falta de habilidade e, por isso, para mim é tão fácil encaminhá-las para o trânsito, porque é só mostrar a máquina, a direção defensiva e as normas”, disse.
Aula personalizada
Além de uma boa didática, para Rita é fundamental a sensibilidade com o aluno. “Eu o estudo e sei do que ele precisa. Ele vai conversando comigo e se soltando. É como se o meu carro fosse um divã”, afirmou.
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Rita cria e comercializa os adesivos
A personal diz que cada pessoa desenvolve sua própria maneira de dirigir e ela não interfere nisso. “Tem gente que fala que você tem que fazer assim, colocar o pé desse jeito, acelerar de outro. Você não tem não, você tem seu jeito de dirigir. Eu vou te falar como é a máquina e você se vira com ela”, disse.
Segundo Rita, o maior erro de outras autoescolas está em não preparar o futuro motorista para as ruas.
“Enquanto o Detran não mudar a ideia de que não se está dando aula para direção e sim para manobristas, vai continuar assim”, disse.
Mudando vidas
A gastrônoma Tatiane Costa Barreto, de 38 anos, aluna de Rita, conta que era habilitada desde 2005 e nunca havia conseguido dirigir por medo. “Já tinha tentado aulas com outros instrutores e mesmo assim continuava sem perder o medo. Esse ano coloquei como meta”, disse.
Ela contratou cerca de 20 aulas, mas logo nas primeiras já sentiu a diferença. “O serviço é tão personalizado que nas primeiras quatro aulas consegui começar a dirigir com mais confiança e superar o pânico”.
“Ela estudou o meu caso, o meu medo, como eu me portava diante do trânsito, qual era a minha habilidade com o carro e a partir daí que fomos tendo as aulas no meu carro e tirando aos poucos as inseguranças que eu tinha”, afirmou Tatiane.
Com a representante comercial Suziane Souza Soares, de 38 anos, não foi diferente. Ela também já era habilitada, mas só conseguia pilotar motocicletas.
“Já ando de moto há muito tempo e percebi que o medo tinha tomado conta de mim. Já era tarde pra seguir sozinha novamente. Hoje tudo mudou. Me sinto mais útil agora que posso me descolar com a minha filha com mais segurança e conforto. Tô amando!”, disse.
Para Sônia, encontrar Rita foi a “melhor coisa que aconteceu na vida no final do ano passado”. Ela, que não conseguia sequer sair de sua garagem, agora vai para todos os lados. “Cada dia eu estou melhor”.
“Já consigo ouvir uma música, trocar a rádio, colocar um sonzinho. No começo eu nem ligava a rádio. Foi realmente um diferencial na minha vida, foi fundamental”.
Atualmente a personal é formada em pedagogia, tem diversos cursos na área, dentre eles em mecânica e agora, para trabalhar melhor os traumas dos alunos, ela está concluindo a faculdade de Psicologia.
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3 Comentário(s).
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Ercilio Zamar 10.04.23 18h29 | ||||
João Messa. 7 bilhões de pessoas no mundo, 9 planetas, 1 galáxia toda, e ninguém te perguntou absolutamente nada! Deixa a instrutora ser feliz, e releia um adesivo da esquerda. | ||||
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João Moessa de Lima 09.04.23 16h32 | ||||
Complementando o comentário anterior esqueci de citar a legislação que proibi então digo agora o artigo 111 do CTB proíbi este tipo de inscrição e a multa grave está prevista no artigo 230 inciso XV. Concordo cam a falta de educção dos motoristas porém a forma de protestar é muito pior que a falta de educação sendo uma profissional do ramo deveria conhecer a legislação. | ||||
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João Moessa de Lima 09.04.23 16h27 | ||||
Apenas um lembrete apesar de ter um propósito justo adesivo do tipo que Ela colocou É PROIBIDO está cometendo infração de trânsito. Mensagens na parte trazeiro de veículos só é permitida aquelas que estão listada na legislação e essas não estão sendo uma instrutora que comete infração de trânsito fico um pouco fora do esquadro. | ||||
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