Conheça o mineiro que colore as ruas de Cuiabá há 40 anos

Munido de duas malas, passo acelerado e aperto de mão firme, o decorador Valdenir Gomes dos Santos, de 67 anos, chega ao Centro Histórico de Cuiabá já pronto para iniciar mais uma decoração de rua.

Qualquer tipo de decoração que você imaginar eu faço. Faço aniversário, casamento, qualquer tipo de decoração

De chapéu, gravata temática e pochete de couro presa à cintura, ele vai de um lado ao outro, conversa aqui e ali antes de atender à reportagem, sempre fazendo sinal de que está “quase pronto” para nos receber.

Abre uma das malas e mostra, com orgulho, centenas de bandeirolas já cortadas para o “Liquida Centro”. Logo acima de nossas cabeças, ainda pendurada nos postes e paredes dos lojistas, está a decoração anterior — a das festas juninas.

Na outra mala, lotada “até a tampa”, dezenas de produtos para revenda — de meias a acessórios — hábito que mantém desde os tempos em que trabalhava no comércio.

Valdenir é mineiro, nascido em Estrela de Jordânia, e veio para Cuiabá em 1988. Iniciou a carreira cerca de dez anos antes, como estoquista e depois vitrinista. Já foi dono de pet shop no bairro Carumbé e de outros tipos de loja, mas garante que nasceu para decorar.

“Desde criança comecei a decorar. Eu construía casa de brinquedo, fazia carro, carroça, patinete. Todo tipo de brinquedo que você imaginar eu fazia. Eu sou artesão. Eu nasci, graças a Deus, já com esse dom”.

Diz ter herdado o talento do pai: “Ele era marceneiro, carpinteiro e carapina, e eu também sou. Sou artesão, marceneiro, carpinteiro e carapina. Construo qualquer casa. Olho pra essa igreja [Matriz] e consigo fazer ela de madeira”, garante.

Com mais de 40 anos de carreira dedicados à decoração, Valdenir tira da pochete algumas dezenas de fotos — mostra, orgulhoso, imagens da família, de decorações feitas no Centro Histórico da Capital e até de cursos que já ministrou.

Victor Ostetti/MidiaNews

Valdenir mostrando os materiais para a próxima decoração

“Hoje eu trabalho como decorador. Sou autônomo. Trabalho por conta e não dependo de ninguém, graças a Deus. Só dependo dos lojistas que pagam pela decoração”.

Ele conta que é contratado pelo presidente do calçadão para iniciar os trabalhos e depois percorre as lojas oferecendo o serviço. Cada lojista colabora com a ornamentação da rua em frente ao seu empreendimento.

“Quase todas as lojas participam da decoração. O interesse é deles. É em frente à loja deles, e chama a atenção do cliente”.

Como bom vendedor, não perde a oportunidade de oferecer seu serviço. “Qualquer tipo de decoração que você imaginar eu faço. Faço aniversário, casamento, qualquer tipo de decoração. Decoração de Natal, Dia das Mães, Dia dos Namorados, Copa do Mundo, tudo”.

De Norte a Sul

Antes de se fixar em Cuiabá, Valdenir percorreu o Brasil decorando vitrines. Passou por Uberlândia (MG), Belo Horizonte (MG), Uberaba (MG), Rio de Janeiro, São Paulo, Belém (PA), Campo Grande (MS) e Goiânia (GO.

Hoje, mesmo morando em Belo Horizonte, segue com os pés fincados em Cuiabá, cidade que considera sua principal fonte de renda e para onde volta diversas vezes ao ano.

“Sou mineiro, mas tenho orgulho de ter morado em Cuiabá a maior parte da minha vida. Cuiabá é uma cidade calorosa, delícia demais de viver aqui. Eu amo Cuiabá”, disse.

“A melhor cidade do Brasil pra ganhar dinheiro é Cuiabá. Pra quem quer trabalhar. Pra preguiçoso, não”.

Por trás da beleza

Quem vê a cidade enfeitada não imagina o tamanho do trabalho e do risco. Só na última decoração, foram 14 quilômetros de ornamentação montada em duas semanas.

Victor Ostetti/MidiaNews

Centro de Cuiabá enfeitado para as festas juninas

“Eu faço rápido. Trabalho sozinho na maior parte das vezes. Em uma semana, decoro todo o Centro Histórico. Em 15 dias fiz 14 quilômetros de decoração, peguei da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), da rua das óticas, até o final, lá na 13 de Junho, de fora a fora. Quatorze quilômetros, não são 14 metros. É muita coisa”, disse.

Valdenir já sofreu diversos acidentes ao longo da carreira. Hoje tem oito parafusos na coluna, quebrou costelas e já teve até fratura na cabeça. “Já quebrei meu corpo todo”, conta.

Não tem rotina definida. Acorda cedo, dorme tarde e trabalha em qualquer horário. “Dia e noite, de madrugada... Tem vezes que eu penso que o dia tem 72 horas”.

Dentre todas as datas comemorativas, sua favorita é o Natal, com as luzes e o brilho. “Esse ano quero fazer um Papai Noel iluminado, por minha conta”.

Sorrir é terapia

Valdenir disse se emocionar quando vê seu trabalho alegrando o dia das pessoas. 

“Fico muito contente, muito alegre. É bom demais. É bom fazer as pessoas sorrirem. Existe coisa melhor do que sorrir? Existe terapia melhor do que sorrir?”, questiona.

“Decoração é a minha vida. Se Deus quiser, eu vou continuar. Só quando Deus me levar. Quando Ele me levar, eu vou lá pra cima decorar lá em cima. Mas, por enquanto, vou decorar aqui embaixo”.

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