Caminhando pelos corredores do Shopping Orla, no Bairro do Porto, em Cuiabá, um estabelecimento salta aos olhos. Alguns segundos observando os relógios centenários pendurados na parede e tem-se quase que uma experiência de viagem no tempo.
Tenho vários relógios que me orgulho de ter consertado, pois foram heranças de família e estavam há muito tempo parado
Com 39 anos de profissão, Marcos Vinícius Guimarães, de 54, mantém viva a arte da relojoaria em Cuiabá. Hoje ele é referência no ramo e trabalha com marcas de peso, como Champion, Magnum, Citizen, Yankee Street e Cosmos.
De longe é possível ver Marcos trabalhando em uma de suas encomendas. Concentrado, com a lupa sobre os óculos, ele manuseia peças minúsculas com todo o cuidado.
Entre as relíquias penduradas na parede, mostras três exemplares do final do século 19, que estão para ser entregues aos clientes: o relógio Gravata Qtz, o Igrejinha de duas cordas e um em Formato 8, também de duas cordas.
“Há vários relógios que me orgulho de ter consertado, pois foram herança de família e estavam há muito tempo parados. Após o conserto, as pessoas se emocionam ao vê-los funcionando. Isso me deixa feliz”, conta.
Nascido em Cuiabá, filho de descendentes de portugueses e indígenas parecis, Marcos entrou na profissão meio que por acaso.
“Comecei em 1984 trabalhando com um vizinho. Ele precisava de um office boy. Com o tempo começou a me ensinar o ofício e com a dedicação logo eu estava fazendo alguns reparos”.
Apesar dos avanços tecnológicos que permitem que hoje se possa ver as horas na tela do celular, computador e outras dezenas de meios, Marcos não crê que a profissão esteja com os dias contados.
Liz Brunetto/MidiaNews
Marcos trabalhando em uma de suas encomendas
“O celular veio para ajudar, mas não tomou o espaço dos relógios”, diz. Para Marcos, mais do que funcional, o objeto confere status. “Ele tem seu espaço por trazer certo glamour de marcas e modelos”.
Para o relojoeiro, os projetos que mais o desafiam são os melhores. “Sempre digo que gosto do impossível. Quando chegam a mim e ninguém conseguiu fazer o conserto, dá mais prazer em trabalhar”, garante.
“Até hoje estou aprendendo com as mudanças e tecnologias. Estou na profissão que amo, me deu muitos amigos nesse longo tempo, é uma alegria a cada restauração”, diz.
Durante a sua trajetória, Marcos trabalhou por mais de uma década na Casa do Relojoeiro. Já restaurou relógios antigos com mais de 100 anos como os do Colégio Coração de Jesus, do Sesc, entre muitos outros.
Primeiro e talvez único
Marcos é casado há 25 anos, tem dois filhos e três netos, mas nenhum deles, por ora, decidiu seguir os seus passos.
“Um filho se mudou para Portugal, outro mora em Sinop. Nenhum seguiu a profissão”, conta.
Liz Brunetto/MidiaNews
Marcos mostrando alguns dos relógios que estão para ser entregues aos clientes
Firme em meio ao caos
O relojoeiro instalou seu negócio há um ano no Shopping Orla, por indicação de amigos que tinham estabelecimentos no local e pela localização privilegiada, ao lado da Feira do Porto e com o Rio Cuiabá ao fundo.
O centro comercial, no entanto, vive momentos de crise à espera da promessa de uma grande reforma, ainda para este semestre.
“Como já tenho muitos anos na profissão e um determinado número de clientes, além de fazer assistência de algumas marcas de relógios e lojas em Cuiabá e no interior, sempre tenho serviço”, afirma.
“Mas realmente, não tem movimento e todos os meus clientes que começaram a vir aqui não conheciam esse espaço. Apesar dele já existir há dez anos, muita gente em Cuiabá não conhece”.
