Um abaixo-assinado que pede a mudança do nome da Praça Rachid Jaudy para Oito de Março provocou um debate sobre a preservação de memória de figuras públicas em Cuiabá.
A praça fica na Avenida Isaac Póvoas, esquina com a Rua Comandante Costa, no Centro da Capital.
A proposta de alteração veio a público na terça-feira, 8 de março - Dia Internacional da Mulher. Um coletivo de mulheres colheu assinaturas para levar à Câmara Municipal a ideia de alteração do nome.
No dia 8 de fevereiro, uma adolescente de 14 anos foi estuprada na praça por dois moradores de rua. Desde então houve no local manifestações contra a violência de gênero.
Enquanto no dia do protesto as ativistas reuniam assinaturas para submeter o projeto à Câmara, nas redes sociais houve um movimento de repúdio, especialmente por parte dos cuiabanos mais tradicionais.
Lia Pompeu de Campos, que cresceu com a família próximo à praça e conheceu José Rachid Jaudy, é contra a alteração. Ela lamentou a proposta e a classificou o ato como “insensato”.
“Espero que essa empolgação de mudança não seja aceita pela Câmara”, afirma a antiga moradora, que ainda hoje tem uma propriedade nas redondezas da praça.
O memorialista Francisco Chagas, administrador do grupo do Facebook “Cuiabá de Antigamente”, também se posicionou contra a proposta e relembrou a contribuição do homenageado.
“As mulheres merecem todas homenagens. Porém a praça já tem nome e foi uma justa homenagem a José Rachid Jaudy, que muito contribuiu para o desenvolvimento de Cuiabá”, diz em uma postagem.
Quem foi o homenageado
O comerciante José Rachid Jaudy nasceu no Líbano e fincou raízes em Cuiabá, onde tinha loja de vestuários.
Na Casa Rachid, as roupas finas e alinhadas com a moda da época faziam sucesso entre os cuiabanos.
Além de comerciante, a personalidade do libanês é lembrada por ser uma pessoa pacífica e com muito apreço pela família.
“Era uma pessoa passiva, educada, uma pessoa muito carinhosa. Seu José viveu para a família e para o comércio”, lembra a Lia.
A lembrança que a cuiabana tem ao pensar no antigo morador é de vê-lo com as filhas. “A distração dele era sentar na porta de casa, em uma cadeira de balanço, com a família”, conta.
Segundo a antiga moradora, a indignação em alterar o nome da praça se deve ao fato de que o homenageado fez muito por Cuiabá.
A praça
A praça, à época chamada de Santa Rita, era um campo grande usado pelas crianças e jovens para soltar pipa e jogar futebol.
Aos finais de semana, o ambiente era tomado pelas banquinhas com diferentes tipos de tendas para uma grande feira.
Reprodução
Praça foi reinaugurada em 1970
Segundo os registros, uma iniciativa do médico naturalista Antônio L. Patrício da Silva Manso fez jardins botânicos em Cuiabá e a atual Praça Rachid Jaudy foi um desses pontos.
Tempos depois, o espaço virou a Praça Santa Rita. Em 1970, o espaço foi novamente renomeado para Praça Rachid Jaudy, em homenagem ao antigo morador e à colônia sírio-libanesa.
Durante a Copa do Mundo, em 2014, o local funcionava como um Centro de Atendimento aos Turistas (CAT), que orientava os estrangeiros e demais visitantes com informações sobre a Capital.
Palco de estupro
A praça tem sido alvo de protestos por mais segurança pública e revitalização após ser palco do estupro de uma adolescente de 14 anos.
Segundo o registro da polícia, dois homens em situação de rua abordaram a menina que saía de um curso e cometeram o abuso.
Apesar de gritar por socorro, ninguém ouviu e apareceu para socorrer a menor. Depois do estupro, ela ficou imobilizada por um tempo, até conseguir sair do local e pegar o ônibus.
Um suspeito foi preso dois dias depois do ato. Ele também foi apontado com autor de outro estupro um dia antes de ser preso, na região do Centro.
Diante da situação, mulheres de diferentes coletivos começaram a realizar protestos na praça. Os atos tiveram como pauta chamar a atenção para a violência contra a mulher nos espaços públicos da cidade e cobrar segurança para esses ambientes.
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5 Comentário(s).
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Fernando Augusto De Lamonica Freire 14.03.22 15h39 | ||||
Essa medida não é tão fácil assim, porque a troca de nome de um logradouro público gera despesas aos comerciantes junto à Junta Comercial do Estado, que têm que fazer a alteração de endereço do comércio. | ||||
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Evandro Balena de Brito 14.03.22 09h13 | ||||
Sou absolutamente contra a mudança de homenagem já concedida a Rachid Jaudy. Tem tantos lugares pra se homenagear ou fazer alusão ao 8 de março. O fato de ter acontecido o episódio do estupro é pelo total abandono que se encontra a praça e tantas outras. Não basta fazer é preciso manter. Melhor do que trocar o nome, porque não se constrói um monumento, obelisco, etc..... tire aquele biombo que não serve pra nada e construa no lugar um obelisco dando o título "8 de março". Assim a praça continua com o nome e ainda ganha um monumento. Que se faça com arte e de concreto de forma que não precise de manutenção para os próximos 50 anos. | ||||
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Paulo 13.03.22 17h34 | ||||
Rapaz...mas é muita falta do que fazer mesmo desse povo.....pra que essa discussão agora sobre isso (?!) sem sentido mudar o nome da praça, totalmente......tanta coisa pra homenagear as mulheres, daí inventa isso aí...peloamor, vão caçar o que fazer.... | ||||
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Jeves Bejame 13.03.22 14h21 | ||||
Essa atual administração tá com essa mania de trocar nomes tradicionais. Aqui no Nova Esperança tem uma Av. Sebastião Gomes Guimarães que fora trocado de nome por um sujeito desconhecido José Darcy Kunh que ninguém conhece, nunca fora visto na região, mas que agora traz uma série de transtorno para os moradores. Atenção aí Câmara Municipal, fiscalização! | ||||
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auremacio carvalho 13.03.22 11h19 | ||||
É desmerecer a memória desse ilustre cuiabano. Povo sem memória não é povo, é massa de manobra. Injustificável e inaceitável. A família e Cuiabá não merecem essa afronta. | ||||
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