“Deus me deu uma nova oportunidade de viver”. Essas foram as primeiras palavras da estudante Jaqueline Gandra, 19, em entrevista exclusiva ao
MidiaNews. A garota sobreviveu a um grave acidente, na Avenida Beira-Rio, após um jogo da Copa do Mundo, em Cuiabá, em julho.
Já em casa, após ter ficado 120 dias hospitalizada, sendo mais de 70 na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Jaqueline contou sobre a tristeza de ter perdido uma amiga no acidente e a sensação de impunidade, pelo fato de que o autor do crime não foi localizado até hoje.
Abraçada pelos familiares, a caçula de dona Janete Gandra ainda estava muito abalada com assunto, mas conseguiu relembrar e contar alguns detalhes do acidente, que segundo ela, nunca será apagado de sua memória.

"Uma caminhonete que estava correndo muito ‘patrolou’ a gente. Passou em cima da cabeça da Karol e nos arrastou"
“Nós estávamos passando pela Beira-Rio, quando, ao chegarmos perto da Unic, minha amiga (Karoline) diminuiu a velocidade da moto na qual estávamos. Nisso, uma camionete que estava correndo muito ‘patrolou’ a gente. Passou por cima da cabeça da Karol e nos arrastou. Depois disso, só lembro que tentei socorrer minha amiga, mas não conseguia me mexer, só me arrastar”, lembrou a jovem.
A amiga a quem Jaqueline se refere é Karoline Oliveira, 20, que estava pilotando uma moto Biz, que ficou completamente destruída com o choque com a picape.
O acidente aconteceu no dia 4 de julho, algumas horas após o jogo entre Brasil e Colômbia pela Copa do Mundo. As jovens estavam vindo da casa de uma amiga, quando foram atropeladas.
Jaqueline sofreu duas fraturas expostas na perna esquerda e uma fratura no fêmur direito.
Além disso, ela lesionou o quadril, o pulmão, o coração, o fígado e passou por duas cirurgias na cabeça. Por conta disso, ficou 120 dias internada e hoje já consegue caminhar sozinha.
A mesma sorte não teve sua amiga, que, uma hora após o acidente, acabou morrendo na Sala Vermelha do Pronto-Socorro de Cuiabá.
Tony Ribeiro/MidiaNews
|
 |
Abraçada pelos familiares e amigos, Jaqueline se recupera em casa, após grave acidente
|
Jaqueline não sabia do falecimento de Karoline até o dia em que deixou o hospital.
“Por aconselhamento médico, nós evitamos lembrá-la da Karol. O médico disse que era melhor evitar que ela passasse algum tipo de estresse ou, até mesmo, entrasse em depressão por conta da notícia. Então, deixamos para contar quando ela deixou o hospital”, disse a mãe de Jaqueline, Janete Gandra.
“Eu não acreditava na notícia que elas me deram. Eu achava que Karol não ia me visitar porque não queria me ver no hospital, mas jamais pensei que ela tivesse morrido... Eu a conhecia há 10 anos e era minha melhor amiga”, afirmou.
Jaqueline acha que sobreviveu à tragédia por conta de uma nova oportunidade dada por Deus.
“Deus me deu uma nova oportunidade de viver. E vou fazer valer a pena esse sopro de vida”, disse.
Dias de tensãoJanete Granda, quando foi entrevistada pelo
MídiaNews há 40 dias, disse que a sua filha iria se salvar.
“Deus é muito forte e salvador. Ele tirou a Jaqueline dos meus braços por alguns dias e me devolveu com vida e saúde. Sou muito grata a tudo que Deus faz mim. Ele foi o médico que a salvou. Os médicos do hospital desenganaram ela mais de duas vezes e Deus não deixou ela morrer”, enfatizou a mãe.
Para Janete, foram dias de penitência e de paciência, mas também de muita dor.
Tony Ribeiro/MidiaNews
|
 |
"Ela foi operada muitas vezes, inclusive da cabeça e continuou viva. A vontade de viver dela e minha fé ajudaram na recuperação", diz Janete, mãe de Jaqueline
|
“Eu sofri muito. Nós sofremos muito, até a notícia de que ela deixaria a UTI e ficaria em tratamento no quarto. Ela operou muitas vezes, inclusive da cabeça e continuou viva. A vontade de viver dela e minha fé ajudaram na recuperação”, afirmou.
PesadeloO único pesadelo para a mãe, até agora, é saber que o autor do crime não foi identificado e nem o crime foi desvendado.
“Por enquanto, ainda temos que viver com isso. O causador do acidente que matou uma pessoa e por pouco não mata a outra está solto e ninguém sabe quem é. Ainda é um pesadelo, mas procuro nem pensar nisso, já que minha filha está de volta”, disse.
"Quero vê-lo"
Bastante emocionada, mas ciente do que dizia, Jaqueline afirmou quer conhecer o autor do acidente, que, por enquanto, não foi localizado pela Delegacia de Delitos de Trânsito, da Polícia Civil.
“Eu sei que um dia ele vai aparecer. Quero que ele fique preso, mas, antes, quero vê-lo e dizer que ele deve pagar pelo que fez. Ele ou ela, não sei, deve pagar sim. Uma pessoa morreu e eu estou viva é com a graça de Deus”, disse Jaqueline.
Sem soluçãoO delegado responsável pelo caso, Cristian Cabral, disse que, por enquanto, o caso está incompleto por se tratar de um crime muito complexo.
“Não temos uma prova para indiciar ninguém. Nem a placa ou modelo do carro nós sabemos. Afirmo que não vou arquivar o caso, mas é um caso muito complexo”, disse o delegado.
Leia mais sobre o assunto:
Jovem atropelada deixa a UTI; caso continua sem solução
Tragédia provoca comoção e família pede Justiça