Cuiabá, Sábado, 2 de Agosto de 2025
URGÊNCIA AMBIENTAL
13.10.2024 | 11h00 Tamanho do texto A- A+

Estiagem no Pantanal piora o clima em Cuiabá, diz pesquisador

Professor da UFMT Pierre Girard diz que é preciso fazer algo para reverter processo na região

Victor Ostetti/MidiaNews

Pesquisador Pierre Girard, coordenador de congresso que será realizado em Cuiabá

Pesquisador Pierre Girard, coordenador de congresso que será realizado em Cuiabá

ANDRELINA BRAZ
DA REDAÇÃO

Com as discussões sobre o futuro do Pantanal ganhando força por causa da seca e das queimadas, o pesquisador e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Pierre Girard, chama à atenção para a importância da conservação do bioma.

O clima é importante para nós, e o Pantanal regula nosso clima, provendo umidade

 

Conforme o pesquisador, a estiagem prolongada, além de provocar queimadas, prejudica o clima em regiões como a Baixada Cuiabana, já que, com maior volume de água, o Pantanal tende a amenizar o calor e a baixa umidade até em Cuiabá.

 

“É preocupante que, com a secagem, estamos enfrentando problemas. O que está acontecendo com as pessoas que têm dificuldades respiratórias? E com as crianças, que muitas vezes enfrentam mais dificuldades com o ar quente e seco, cheio de poeira? O clima é importante para nós, e o Pantanal regula nosso clima, provendo umidade”.

 

Em conversa com o Midianews, o pesquisador, que é o coordenador do V Congresso Brasileiro de Áreas Úmidas, que acontece nesta semana em Cuiabá, abordou ainda as consequências da má gestão dos recursos hídricos em períodos de estiagem. 

 

O pesquisador também falou sobre o impacto que o desmatamento na Amazônia pode gerar no Pantanal e a gestão de recursos hídricos no agronegócio mato-grossense.

 

 

Confira os principais trechos da entrevista 

 

MidiaNews - A ministra Marina Silva afirmou recentemente que o Pantanal corre o risco de desaparecer até o fim deste século. Em sua análise, existe realmente esse risco?

 

Pierre Girard - Eu penso que a fala da ministra Marina é para ressaltar a urgência de fazer alguma coisa para o Pantanal. Se não for feita alguma coisa para conservar a água do Pantanal, o Pantanal vem a sofrer. Eu penso que é uma força de expressão, mas que o Pantanal está sofrendo, está.

 

MidiaNews - E quais são os impactos que este sofrimento do Pantanal pode ocasionar no meio ambiente?

 

Pierre Girard - Para a fauna, para a flora e para quem precisa da fauna ou da flora. O Pantanal movimenta um turismo gigantesco anualmente. Muita gente vem visitar o Pantanal e isso traz muitos recursos. O Pantanal também é um lugar onde muitas pessoas vivem de uma forma tradicional. Aí se o Pantanal acaba, eles acabam também. A gente vai perder um lugar único no Mundo. Se a gente quer cuidar da vida na Terra, de uma forma mais ampla, tem que cuidar da vida no nosso quintal, que é a vida do Pantanal.

 

MidiaNews - Tivemos em 2020 e 2024 dois anos de muitas queimadas no Pantanal. Quais são as consequências do fogo para o bioma?

 

Pierre Girard - Tem impacto sobre a fauna, todo mundo viu as imagens. E tem o capital do turismo. Os incêndios estão destruindo o capital natural do Pantanal que é a base do turismo.

 

MidiaNews - Com a mudança no Pantanal, há essa possibilidade de danos e desastres ambientais aqui na região de Cuiabá? 

 

Pierre Girard -  A água entra e inunda uma grande área. Essa água evapora, e o que evapora regula o clima. Como o Pantanal está seco, nos últimos anos, temos sentido que o Pantanal está mais seco. Se o Pantanal estivesse mais cheio no momento de cheia, o clima - quando as águas vazam, o Pantanal permanece úmido - o clima ficaria melhor na seca.

 

É preocupante que, com a secagem, estamos enfrentando problemas. O que está acontecendo com as pessoas que têm dificuldades respiratórias? E com as crianças, que muitas vezes enfrentam mais dificuldades com o ar quente e seco, cheio de poeira? E as pessoas mais idosas, que estão sentindo o mesmo? O clima é importante para nós, e o Pantanal regula nosso clima, provendo umidade.

 

Se a água passasse diretamente pelo Pantanal, em outro lugar iria inundar. Essa é uma das razões pelas quais enfatizamos a importância do Pantanal: ele também serve para mitigar inundações em outras áreas mais rio abaixo.

 

MidiaNews - Recentemente o climatologista Carlos Nobre afirmou que o período de estiagem na Amazônia está durando quase um mês a mais, entre 4 a 5 semanas. No Pantanal isso também já está ocorrendo? 

 

Pierre Girard - Nós já tivemos assim de 2023 para 2024 uma cheia bem pequena. Então as águas baixaram rápido e já faz praticamente quatro meses que a gente não tem chuva grande. Então, sim, a estiagem está se prolongando. 

 

MidiaNews - Moradores da Baixada Cuiabana, especialmente Várzea Grande, reclamam da falta de água nas torneiras, mas culpam basicamente o poder público por isso. A culpa é mesmo dos políticos ou da escassez cada vez maior? 

 

Pierre Girard -  O problema da distribuição da água, muitas das vezes é uma questão de gerência da água, realmente. Não está bem manejado.  Agora, o fato de não chover aumenta esse problema. Se tem uns que são privilegiados por essa má gestão e outros que são desfavorecidos quando tem muita água, imagina quando tem pouca. Quando falta água, falta para todos, mas não falta de forma igual.

 

 

MidiaNews - O pesquisador Pedro Cortês relatou em uma publicação da USP que até o ano de 2050 o Brasil passará por um processo de savanização. O Pantanal pode ser atingido por essa tranformação?

 

Savanização da Amazônia seria dramática para a economia brasileira

Pierre Girard - o Pantanal é uma savana alagada. Esse processo de savanização foi para a Amazônia e essa savanização da Amazônia seria dramática para a economia brasileira, porque a gente está falando da chuva do Brasil. Uma grande parte da chuva do Brasil, do Centro-Oeste, do Sudeste, é gerada na Amazônia.

 

MidiaNews - Em Mato Grosso, a agricultura é muito forte. Em muitos lugares utiliza-se a irrigação. Qual o impacto que a utilização de irrigadores pode trazer ao meio ambiente? E haverá água suficiente para irrigar tanta lavoura?

 

Pierre Girard  - O Brasil tem um dos maiores aquíferos do Mundo, que é o aquífero Guarani, e tem reservas muito grandes de água. Agora, para a agricultura não se pode utilizar qualquer água. O melhor é utilizar uma água que tem uma característica perto da água de chuva para evitar a salinização dos solos. 

 

Outra coisa é, que para extrair a água subterânea, precisa de energia. E no Brasil a energia depende dos rios. Então, tenho uma questão toda que se avoluma, que é a questão da energia do Brasil. A chuva cai, você não precisa pagar um centavo para a chuva cair. Agora pensar em um pivô, pegar uma bomba, mesmo que seja no rio... A gente começa a pagar. 

 

 

 

MidiaNews - Vocês está realizando em Cuiabá o Quinto Congresso Brasileiro de Áreas Úmidas. Qual a importância deste evento neste momento?

 

Pierre Girard  -  Essas áreas úmidas promovem vários serviços para nós. Essas áreas controlam as cheias e a qualidade da água que chega aos rios. Essa função é muito importante porque, se as eliminarmos, teremos que buscar alternativas. Elas armazenam água durante períodos de seca, e se as retirarmos, teremos que construir reservatórios. 

 

Então esse congresso tem interessado em todas as áreas úmidas do Brasil. Eles [pesquisadores] vão falar sobre o que eles estão estudando dessas áreas, como que elas funcionam, como que elas preservam a biodiversidade, como que elas regulam o clima, como que elas provêm esses serviços para a população daqui, de Cuiabá, de Mato Grosso, do Brasil. 

Serviço: O V Congresso Brasileiro de Áreas Úmidas será realizado no Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP), na UFMT,  durante os dias 16 e 18 de outubro. Neste ano, o tema do encontro será: O Destino das Áreas Úmidas no Antropoceno: Impactos Humanos em Tempos de Crise Climática. 

 

 

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Robélio Orbe  14.10.24 07h45
O clima no planeta Terra é ciclico desde sua fundação e nos dias atuais, é regulado pelo aquescimento das águas do Oceana Pacífico que alimenta o EL niño e o La Niña. Este casal simpático é independente e regula o clima em todos oc continentes. O que existe é muita falácia dos terrorista do clima que usam da ignorância da grande massa para manipulá-los em deterimento de seus benefícios financeiros. O fenômeno que viemos hoje, já ocorreu na década de 20. o que era o Brasil na década de 20 à esquerda da linha do Tratado de Tordesilhas? Como diria uma o Nico&Lau "pega inteligência".
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