Cruz da Maria Mendes

O cuiabano, muitas vezes na pressa do dia a dia, acaba não reparando nos monumentos e estátuas que ornamentam praças e canteiros da Capital.
Assim, as histórias e significados de obras como a estátua de Maria Taquara e a homenagem aos "fundadores" da cidade passam despercebidos para a maioria.
Nesta semana, a reportagem do MidiaNews percorreu os principais monumentos de Cuiabá para contar um pouco da história de cada um.
Conheça:
Victor Ostetti/MidiaNews
Monumento foi inaugurado em 1993, na Avenida do CPA
Monumento Ulisses Guimarães
Quase um obelisco, porém deitado e com uma águia na ponta, a obra foi elaborada pelo artista Nikos Vlavianos, segundo Francisco Chagas, um apaixonado pela História da Capital e criador da página "Cuiabá-MT de Antigamente", no Facebook.
Chagas, que presenciou a inauguração do monumento em 1993, na Avenida do CPA, conta que a obra foi encomendada pelo então prefeito Dante de Oliveira em homenagem a Ulisses Guimarães, figura central da Constituição de 1988 e um dos líderes do movimento Diretas Já.
“A águia representa o voo em direção ao futuro e a liberdade dos estados em promover suas políticas. É a democracia alçando vôo”, conta.
Ulisses morreu em 12 de outubro de 1992 em um acidente de helicóptero em Angra dos Reis (RJ).
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Representando a injustiça social, estátua da deusa Thêmis fica na Praça da República
Estátua da Justiça
Esculpida pelo artista plástico Jonas Corrêa, em 1997, a estátua da deusa Thêmis, que representa a Justiça, está localizada na Praça da República.
Segundo Chagas, Jonas foi convidado a doar uma escultura para um evento em celebração à defesa dos Direitos Humanos. O artista, então, elaborou um monumento ressaltando a injustiça, sintetizando as impunidades do País.
Assim como na obra de Ulisses Guimarães, Francisco também esteve presente na colocação da estátua.
“É a deusa Thêmis vestida como uma prostituta. É vulgar, usa salto alto, é prepotente. Está sentada sobre as tábuas das leis e sobre os suplicantes por Justiça. É indiferente. Sua espada está em repouso, não ameaça ninguém”, interpreta.
“Na balança desequilibrada, pesa o ouro. É gananciosa. Sua base é a bandeira brasileira, atinge todo o País. Aos seus pés está um homem negro, velho e desesperançado e uma menina entregue à própria sorte. É indiferente. No colo repousa um índio morto”, completa.
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Obra faz homenagem aos três adolescentes que foram assassinados no Beco do Candeeiro
Estátua do Beco do Candeeiro
Chagas conta que chegou a conhecer dois dos três adolescentes assassinados a tiros no Beco do Candeeiro, no Centro de Cuiabá, em 1998.
“Na época eu morava na Catedral e eles me chamavam de padre e sempre me pediam uns trocados. Praticavam pequenos furtos e costumavam a cheirar esmalte e cola de sapateiro. Não existiam essas drogas fortes”, relembra.
Depois do crime, em 1999, o escultor Jonas Corrêa assinou a escultura em homenagem às vítimas Adileu Araújo, de 13 anos, Reginaldo de Magalhães, 16, e Edgar de Almeida, 12, que foi encomendada pelo Centro de Direitos Humanos Henrique Trindade.
Chagas revelou que, assim que soube do assassinato, ele tentou visitar os corpos dos adolescentes no Instituto Médico Legal (IML). Ele, então, conversou com um amigo que trabalhava no local e conseguiu entrar.
O que viu foi chocante e ficou marcado em sua memória para sempre.
“Eu vi os três numa espécie de mesa de cimento. Já estavam lavados e com a barriga costurada com linhas grossas. Nunca me esqueci do que vi”, relata.
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A escrava Maria Mendes foi assassinada durante um assalto
Monumento Maria Mendes
Na pequena Praça Sávio Brandão, em frente ao 44º Batalhão de Infantaria Motorizado, na Avenida Lava Pés, se destaca uma estátua de uma mulher sentada sobre um punho com uma pomba. A alguns metros, uma grande cruz branca acalanta a alma de Maria Mendes.
Uma pesquisa realizada pelo professor Francisco Alexandre Ferreira Mendes relata que a homenageada era uma escrava, já idosa, que guardava um lenço cheio de moedas de prata entre os seios. Com esse dinheiro, Maria Mendes pretendia comprar a sua liberdade.
Enquanto isso, ela juntava moedas cortando lenha para senhores e moradores de onde hoje é o Bairro Duque de Caxias.
A notícia de que ela levava consigo todo seu dinheiro se espalhou pela cidade e um dia ela acabou assassinada por um escravo. No entanto, o homem não encontrou as moedas e contentou-se em roubar a lenha.
Pouco depois, o criminoso tentou vender o produto para o próprio senhor da vítima, que reconheceu a corda que Maria utilizava para amarrar a lenha, segundo a pesquisa. Diante disso, o escravo foi denunciado, mas não se sabe o que aconteceu depois.
Porém, a memória de Maria foi honrada em uma cruz, que foi levantada no lugar do crime, na Avenida Lava Pés.
Muitos anos depois, a cruz foi realocada para a praça e, mais tarde, a vítima ganhou uma estátua do artista Joilson Santana.
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Mãe Bonifácia ficou conhecida por ajudar escravos fugitivos
Estátua de Mãe Bonifácia
Inaugurada em 2006, a estátua em homenagem à Mãe Bonifácia se impõe em meio às árvores do parque que também ganhou o seu nome, na Avenida Miguel Sutil.
Escrava alforriada, Mãe Bonifácia ganhou fama por proteger e acobertar escravos que fugiam dos seus senhores no século XIX.
A curandeira controlava o acesso aos quilombos e morava onde hoje é o parque, inaugurado em 2000.
De acordo com a pesquisa do professor Francisco Alexandre Ferreira Mendes, Mãe Bonifácia morreu de varíola após a epidemia assolar a cidade em 1867.
Muito acometida pela doença, a curandeira decidiu ir até a cidade em busca de ajuda médica. Porém, conforme o professor, ela morreu ignorada em local indefinido.
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Doutor Alberto Novis foi o primeiro otorrino do Estado
Busto do doutor Alberto Novis
Contruída no mesmo lugar onde foi a casa da primeira mulher comerciante de Cuiabá, no final do Beco do Candeeiro, a Praça Doutor Alberto Novis homenageia o primeiro otorrinolaringologista da Capital.
“Apesar de surdo, foi o primeiro médico otorrinolaringologista com especialização em Mato Grosso, prestando grandes serviços à população cuiabana. Ele também foi deputado de 1908 a 1912 e publicou diversos artigos, sendo reconhecido também como jornalista”, afirma Francisco Chagas.
No local da praça existia o casarão da Dona Euphrosina Hugueney de Mattos, que vendia produtos importados. Depois foi sede do jornal “O Social Democrata” e era o local onde o então ministro e senador Filinto Müller atendia a população quando vinha a Cuiabá.
“No espaço, também funcionou o Armazém Amui e outros estabelecimentos comerciais. Em 1970, a casa ficou abandonada e, com o passar dos anos, começou a ruir, dando surgimento à pracinha”, relembra.
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Homenagem ao presidente Emílio Garrastazzu Médici
Homenagem ao presidente Médici
Na BR-163, na saída de Cuiabá para Rondonópolis, a imponente estátua do presidente da Ditadura Militar Emílio Garrastazu Médici chama a atenção.
De acordo com Francisco Chagas, seu Governo fez o asfalto que liga Cuiabá a Brasília, em 1973. Por conta disso, os mato-grossenses ergueram a estatua em sua homenagem no km 9.
Monumento da Cidade
No final da Rua Coronel Escolástico, no Bairro Bandeirantes, está o Monumento da Cidade, uma homenagem à figura do bandeirante, negro e índio.
Os três personagens marcaram a história de Cuiabá e ajudaram a construir a Capital. A obra foi construída em comemoração aos 250 anos de fundação de Cuiabá, em 1969.
Alto, esguio e imponente, a figura do meio retrata Pascoal Moreira Cabral, o bandeirante que encontrou ouro no lugar que mais tarde se transformaria em Cuiabá.
O indígena representa as tribos de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia. Enquanto o negro relembra os escravos que serviram de mão de obra no Estado.
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A escultura em homenagem à Maria Taquara, na região central
Maria Taquara
Maria Taquara, lavadeira negra que viveu na década de 40, desperta a curiosidade e seu mistério fomenta lendas entre os cuiabanos.
A história oficial conta que, de origem pobre, Maria andava pelas ruas da Capital com uma trouxa de roupa suja na cabeça. Ela lavava as roupas em córregos da cidade.
Maria Taquara ficou conhecida por ser a primeira mulher a usar calças na cidade, peça de vestuário que era usada apenas por homens na época.
A lavadeira ainda tinha o hábito de frequentar bares e possuía um barraco no Bairro Goiabeiras. Por ser próximo do Batalhão da Laguna, ela sempre era vista com soldados.
Devido a essa postura "à frente do seu tempo", ela chegou a ganhar fama de prostituta e ainda foi associada à sugestiva frase: “De dia Maria Taquara, de noite Maria Meu Bem”.
Em 1989, a lavadeira ganhou uma homenagem do artista plástico Haroldo Tenuta. Sua estátua foi colocada na praça que também ganhou o seu nome, na região central de Cuiabá.
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6 Comentário(s).
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Benedito Levino 13.01.20 16h05 | ||||
Muito oportuna essa reportagem, porque serve de inesgotável fonte de pesquisa para as gerações mais atuais de nossa cidade. Sou jornalista em Cuiabá e um apaixonado por nossa cultura, volto a dizer, riquíssima e mal divulgada. | ||||
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Angelo Falcao de Figueiredo 13.01.20 07h47 | ||||
Parabens ă Midia New por essa especial homenagem à nossa querida Cuiabá, afinal relembrar é viver. | ||||
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Gustavo 12.01.20 22h41 | ||||
" Ditadura Militar Emílio Garrastazu Médici".... REGIME MILITAR | ||||
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Marcus Galérius Aquino 12.01.20 21h21 | ||||
Parabéns, bela matéria! | ||||
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MARCELO CESAR V. E SILVA 12.01.20 19h20 | ||||
Boa reportagem Bianca, entretanto existe a necessidade urgente de que seja feito um inventário detalhado de outros monumentos, obras de arte e nomes de praças e logradouros, uma vez que a cada gestão são feitas alterações sem consulta prévia. Como foi o caso da escultura do consagrado Wladimir Dias Pino, instalada na praça 8 de abril, que foi irresponsavelmente retirada e provavelmente destruída, pois a prefeitura, após pressão popular, prometeu que será refeita e reinstalada no mesmo local. Provavelmente com dinheiro público, ou será do bolso do paletó? | ||||
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