Morro da Luz - Crack

Após início da demolição da Ilha da Banana, no dia 11 de junho, os usuários de drogas que viviam no local migraram para o Morro da Luz, onde até ocuparam um imóvel que estava abandonado. Com isso, os moradores das casas ao pé do morro estão vivendo com medo e sendo testemunhas de crimes diariamente.
Em entrevista ao MidiaNews, a dona de casa Elisangela de Souza Santos, de 39 anos, que mora em um imóvel pertencente à família do esposo há 60 anos, disse que o local sempre teve alguns usuários, mas após a demolição a situação ficou crítica.
“De domingo retrasado para cá, está impossível. Já teve assalto, coisa que eu estou aqui há 10 anos e nunca vi. Foi na porta de casa. O rapaz da Energisa ia descendo e foi assaltado. Jogaram a faca [usada no crime] aqui dentro da minha garagem”, disse.
Segundo ela, a venda de drogas está acontecendo na frente de sua residência e a polícia já não atende suas solicitações.
“O cara tira droga do tênis aqui na porta da minha casa, e sai vendendo. Liguei na base da PM do Centro. Um deles pediu para eu contratar um segurança particular, que eles não podem fazer nada”, disse a moradora.
Ela explicou que, por mais que tente entender, se sente refém por ter que viver presa dentro de casa.
“A gente entende que são seres humanos, que existe uma história por trás disso. Mas se eles são vítimas da sociedade, nós somos reféns, porque eu vivo trancada. Eu não posso brincar com as minhas filhas aqui na frente. Eu não durmo, porque eles gritam, eles brigam, por causa de droga. Eu não tenho paz”, lamentou.
A filha mais velha de Elisangela tem síndrome do pânico e, por medo, desde que os usuários passaram a ficar no local, não consegue mais dormir sem uso de remédios.
Enquanto a reportagem estava no local, cerca de 30 usuários foram vistos, porém, segundo os moradores, há dias em que o número aumenta.
“Faz cinco anos que moro aqui. Mas agora piorou com a demolição [da Ilha da Banana]. Isso é igual caixa de abelha. É toda hora incomodando, batendo pedindo dinheiro, pedindo água. E se a gente não dá, eles ameaçam. Parece que a gente é obrigado a dar as coisas”, disse o aposentado Adalto da Cruz, de 69 anos, que mora em uma casa no topo do morro.
Segundo Adalto, a situação é tão grave que eles já ameaçaram até de queimá-lo vivo.
“Depois da demolição, de 30% a 40% imigraram para essa casa aí. Tem inclusive prostituição, bandidos exibindo arma. Eu não posso mais ficar aqui fora, que sou ameaçado até de ser queimado vivo. Já fui ameaçado”, contou.
O economista Rosalvo Tadeu, de 48 anos, morou no local por 46 anos e há dois aluga dois imóveis na área. Porém ele perdeu um inquilino porque os usuários arrebentaram a cerca elétrica e tentaram invadir o local.
Alair Ribeiro/MidiaNews
Segundo os moradores, a situação após a demolição da Ilha da Banana está bastante difícil
Um de seus atuais inquilinos é o mecânico Wallison Wendel, de 30 anos, que contou que a situação no local está bastante difícil.
“Está tendo assalto agora aqui no morro. Depois que demoliram lá [a Ilha da Banana] teve assalto à mão armada, com faca”, disse.
Moradores contaram à reportagem que, além dos assaltos e ameaças, os usuários defecam, têm relações sexuais e fazem programa em frente às casas.
"Vimos eles tendo relação em cima do carro de uma amiga que veio me visitar”, contou Elisangela.
A dona de casa conta que, inclusive, nas últimas semanas, outras pessoas, além dos usuários moradores de rua, passaram a frequentar o local.
“Eles vêm pra cá, eles vendem, eles usam. E não é só usuário de rua, não. Começaram a vir os 'playboyzinhos' também. Esses dias, a gente na sala de casa, assistindo à novela, começou uma gritaria. Fomos olhar e um cara bem vestido, de mochila, bonito, brigando com um traficante aqui. Ele foi fumar e tentaram roubá-lo”, contou.
Na véspera do feriado de Corpus Christi, 15 de junho, a igreja Deus é Amor, próxima ao Morro da Luz, foi assaltada às 7h. Elisangela de Souza Santos disse que viu quando os viciados entraram na casa abandonada em frente à dela.
“Roubaram a Igreja Deus é Amor e entraram por um buraco da casa. Nós vimos daqui. Eram 7h da manhã. Eu acordei com aquela movimentação. Às 7h da manhã, eles estão assim, vindo pra cá, migrando pra cá, e eu estou assustada”, disse a dona de casa.
Canos de água estourados
Outra grande reclamação dos moradores é que os usuários estão quebrando os canos que levam água para dentro das casas para tomar banho.
Alair Ribeiro/MidiaNews
Os usuários tem estourado os canos que levam água às casas dos moradores
“Eles estouram os canos de água. Está impossível. A minha conta esse mês já veio cara, porque eles arrebentam o cano da gente e ficam tomando banho”, contou Elisangela.
O economista Rosalvo Tadeu, que aluga imóveis no local, disse que seus inquilinos já não estão aguentando ficar sem água.
“Toda semana eles ficam sem água - o consultório e a família - porque os usuários arrebentam e ficam tomando banho pelados. É menina, é homem. Aqui tem família, tem criança. E eles não estão nem aí. Não têm pudor”, disse.
Inquilino de Rosalvo, o mecânico Walisson Wendel contou que já ficou até três dias sem tomar banho por conta da ação dos usuários e que isso tem se tornado cada vez mais difícil.
“Meu inquilino fica revoltado. Ele chega cansado do trabalho, vai tomar banho e não tem água, porque arrebentaram. Aí chama a CAB Cuiabá e são dois, três, dias para arrumar. E a água fica esguichando”, contou o economista.
Ele afirmou ainda que esse problema só começou após a demolição da Ilha da Banana, e que o reflexo disso está sendo muito grande.
Da mesma forma que eles cortam os canos das casas ao pé do morro, fazem também com a casa do aposentado Adalto da Cruz, que fica no topo.
“Eu tive que colocar registro em cima pra tirar a água dali, porque era todos os dias. Eles vêm e quebram a torneira, arrebentam tudo. É uma demolição total”, disse o aposentado.
Veja vídeo, gravado por um dos moradores, de uma usuária tomando banho no cano estourado que leva água à sua casa:
Perda de inquilinos
Rosalvo já perdeu um inquilino por causa da situação no local. Elisangela e Adalto, que alugam quartos, temem também já não conseguem mais interessados nos imóveis.
Alair Ribeiro/MidiaNews
Na foto o economista Rosalvo Tadeu mostrando que os usuários tentaram arrombar a porta de outra casa da vizinhança
“Eu nem alugo mais quartos, porque ninguém quer ficar. O pessoal tem medo, é uma badidagem, um ameaça de um jeito, outro de outro”, disse Adalto.
O aposentado contou que, até para ir ao banco, ou aos Correios, está precisando pagar alguém para ficar cuidando da casa.
“O meu vizinho ali de baixo, da parte de cima da casa, está querendo se mudar. O rapaz que alugava ali na frente se mudou”, falou Elisangela.
Segundo ela, até mesmo para conseguir iluminação no local tem que brigar na Prefeitura.
“Aqui vem político de quatro em quatro anos. O meu IPTU esse ano veio R$ 1.600. Meu marido tem que brigar pela iluminação, senão fica um breu. Tem que ir lá duas semanas seguidas todos os dias para você conseguir que eles venham iluminar o morro.
Absorvente
No domingo (18), um dos viciados abordou Elisangela com um pedido inusitado.
“Ele disse que a esposa estava menstruada e pediu que eu arrumasse uma calcinha e um absorvente". Depois ele pediu roupa”, contou a dona de casa.
Ela contou que sempre que eles pedem se sente na obrigação de dar por medo. Sentimento que está presente em todos os moradores.
“Quem que não tem medo? Aqui é muito complicado. E aqui é o Centro da cidade. Não era pra ser assim. O morro é tão bonito, mas ao mesmo tempo se torna feio por causa dessa situação”, disse Wallison.
“Nós não temos proteção, não temos direito, só temos deveres e obrigações. A gente trabalhou a vida inteira pra descansar agora e não tem sossego. Então eu gostaria que alguém ouvisse isso e caísse na real, porque eu acho que ninguém caiu na real ainda”, disse o aposentado Adalto da Cruz.
Eles pedem que a Prefeitura retire os moradores do local, ou que a Defesa Civil promova a demolição do imóvel em que os usuários estão ficando.
“A minha reivindicação é que a Prefeitura tome uma providência, porque se fecharam lá, eles estão vindo pra cá. Aqui em casa tem uma criança de quatro anos que fala: ‘Hum, mãe, eles já estão fumando porcaria’, porque escuta a gente falar. Ela fica ali na janela, eu tenho que ficar de janela fechada. Eu não tenho vida, vivo presa”, disse a dona de casa Elisangela de Souza Santos.
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5 Comentário(s).
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alex 25.06.17 14h29 | ||||
O QUE TÁ PRECISANDO NO CENTRO DE CUIABÁ É SEGURANÇA. AS PESSOAS POR FALTA DE SEGURANÇA ACABAM SE MUDANDO DA REGIÃO E DEIXANDO OS IMOVEIS VAZIO O QUE TORNA MORADIA OU ESCONDIRIGO DOS MARGINAIS. A SOLUÇÃO É NOS CASOS DOS DEPENDENTES QUE COMETEREM CRIMES A JUSTIÇA SEGURAR UM TEMPO MAIOR NAS CADEIAS PRA VER SE INIBE UM POUCO ESSES CRIMINOSOS, SE NÃO ELES VÃO CONTINUAR PRATICANDO ESSES CRIMES NO CENTRO NA NOSSA CAPITAL. O NOSSO CENTRO TÁ MUITO ABANDONADO PELAS AUTORIDADES. AQUELE GANHA TEMPO TÁ PRECISANDO DE REFORMA, CHEGA A "FEDER", A PRAÇA DA REPUBLICA ESTÁ QUE MAL SE CONGEGUE ANDAR COM TANTA PEDRA DO PISO SOLTO. A PRAÇA IPIRANGAN TÁ INVADIDA POR ANDARILHOS, MENDIGOS E VENDEDORES AMBULANTTES. O CENTRO DE CUIABÁ PEDE SOCORRO. | ||||
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Carlos Nunes 25.06.17 09h52 | ||||
Ih! A realidade dura, nua e crua de Cuiabá é...que todas as Praças já estão na mão dos traficantes. Outro dia conversava com um policial aposentado e ele disse até o nome delas...não vou dizer pra não desmoralizar os locais. Como a droga, especialmente o crack corre solto...esses nossos irmãos dependentes químicos, que um dia foram adotados pelos traficantes, e o Sistema falhou com eles, são vítimas e bestas-feras ao mesmo tempo. Vítimas, porque quando crianças, não apareceu direitos humanos, assistência social, pra intervir e não deixar traficante nenhum adotar...bestas-feras, porque, quando precisam do bagulho pra fumar, e não tem dinheiro, ou já devem o traficante, assaltam o primeiro que aparecer. Eu conversava outro dia com uma senhora viciada, e ela relatava que o crack queima, a fumaça é quente, depois de fumar dá uma sede danada, e uma vontade de chupar gelo. Deve fazer um mal danado no pulmão. E cadê os Centros de Recuperação de Dependentes Químicos municipais, estaduais, federais? Não tem. | ||||
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Renato PM 25.06.17 09h49 | ||||
Tá na hora do Brasil começar a tratar os traficantes e usuários de drogas como faz o presidente das Filipinas. A situação já saiu do controle há muito tempo. | ||||
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Benedito Addôr 25.06.17 09h33 | ||||
O culpado é o Governo. Em julho/2012 o Governador tornou de Utilidade Pública o Centro Comercial Morro da Luz, aquele que hoje é destruído a marretadas. VLT não saiu, já em 2013, devia ter ocupado o Centro, instalando uma Repartição municipal ou estadual, talvez até um Posto da PM nesse Centro Comercial, que tinha Estacionamento amplo na superfície e embaixo. Mas, não, em vez disso arrancou portas, janelas, derrubou muros, e deixou abandonado por cinco anos. Em lugar abandonado, os dependentes químicos chegaram aos montes, e se instalaram. Portanto o problema poderia ser revolvido há cinco anos atrás. O Governo lá atrás foi causador de tudo, armou um grande palco, onde apareceram os atores, os dependentes químicos - escravos do vício da maldita droga. | ||||
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joao viana 25.06.17 08h29 | ||||
Na verdade deveria é mudar o nome do morro da luz para morro das TREVAS, já que devido a ineficiência dos gestores que se passaram pela prefeitura e pelo estado NÃO conseguir mudar essa história que já tem mais de 20 anos de total abandono desse local bem no centro de Cuiabá. Absurdo um lugar ter o nome de morro da luz, mas o que impera lá é a escuridão, crime, drogas. | ||||
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