A empesária do ramo de gastronomia e presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Mato Grosso (Abrasel-MT), Lorenna Bezerra, diz que o setor ainda sente os efeitos da crise na pandemia. Ela, porém, acredita que a partir do ano que vem, com a quitação das dívidas, o setor possa respirar mais aliviado.
Lorena traçou um panorama do setor. Uma das queixas da empresária, que é proprietária do Restaurante Galeto Cuiabano, é o excesso de obrigações criadas pelos políticos. Em São Paulo, foi aprovado um projeto obrigando os estabelecimentos a oferecem água filtrada gratuita aos clientes. Já em Mato Grosso, um projeto de lei proíbe os banheiros unissex.
"Nós somos a favor de facilitar o empreendimento e não de dificultar", diz. "Acho que o político não tem o direito de falar como eu tenho que trabalhar e como eu tenho que atender os meus clientes".
Lorenna ainda falou sobre outros temas, como a relação com aplicativos de entrega e a possibilidade de entregadores serem contratados por CLT.
Leia os principais trechos da entrevista:
MidiaNews - A senhora pode fazer uma avaliação do setor durante esse ano de 2023 em Mato Grosso? Tem sido um ano bom?
Lorenna Bezerra - O setor tem buscado a recuperação, embora muitos ainda tenham dívidas não quitadas da pandemia. A estimativa é que, a partir do a quitação desses débitos que ficaram arasados, até o ano que vem o setor consiga respirar melhor. Neste primeiro semestre foram abertos 3.200 estabelecimentos. É que assim, é mais fácil saber o que abriu de maneira formal do que foi fechado. Porque às vezes a pessoa não dá baixa no CNPJ. Nos últimos 18 meses, foram 11 mil novas empresas do segmento de alimentação. As lanchonetes foram as que mais cresceram. Foram gerados 29 mil empregos nesse mesmo período.
MidiaNews - Atualmente está mais barato comer em casa fora?
Lorenna Bezerra - Fora de casa ainda está mais barato do que comer em casa. Os restaurantes compram em grande quantidade. Vale mais a pena comer fora de casa. Porque se o restaurante passar a inflação, não vai haver clientes para comprar.
MidiaNews - Como está a relação dos bares e restaurantes aqui em Mato Grosso com os aplicativos de delivey?
Lorenna Bezerra - Os aplicativos de delivery, como iFood ou aplicativos locais, são muito importantes para os restaurantes, porque não é só a questão do aplicativo, mas sim do comportamento do consumidor. A quantidade de pessoas que pegam o celular e fazem o seu pedido é muito grande porque o consumidor está querendo ver uma grande quantidade de restaurantes em um só lugar. A taxa para entrega é cara, mas não tem como a gente fugir disso porque é a porta de entrada do cliente. O restaurante tem que estar onde o cliente quer que ele esteja. Então, se o cliente quiser pedir pelo WhatsApp, ele tem que ser atendido pelo WhatsApp. Se ele quer por telefone, ele tem que ser atendido por telefone. Se ele quer aplicativo, com certeza a gente tem que estar lá também.
MidiaNews - Há uma grande queixa dos restaurantes no que se refere às taxas impostas pelos aplicativos de delivery. A Abrasel já tentou negociar esses valores?
Lorenna Bezerra - É meio travado isso aí. Eles só fazem essa negociação com as grandes redes. Com os pequenos, eu digo os mais locais, eles não têm negociação. Inclusive, a taxa de servço de logística chega a custar 30% do valor do produto. É muito alto. Alguns restaurantes precificam diferente para quem pede direto no restaurante e para quem pede no iFood.
MidiaNews - Então não há a possibilidade de negociação entre entregadores e restaurante?
Lorenna Bezerra - O restaurante tem dois tipos de contrato com o aplicativo. Um fechando a logística, que é com o entregador do aplicativo. E o outro é só o aplicativo como uma porta de entrada para o pedido, mas o entregador é do restaurante. Para cada tipo de serviço é cobrado um percentual diferente por parte do aplicativo. Fora os 30% ou os 20% ou 18% que cobra dependendo da modalidade, é cobrada mais a taxa de entrega. Então são coisas diferentes.
MidiaNews - E quanto à proposta de alguns setores de formalizar essa categotia de trabalho como celetistas?
Lorenna Bezerra - Essa modalidade de trabalho como CLT nos preocupa. Há muitos segmentos como o de salão de beleza, por exemplo, que os profissionais são autônomos e está tudo bem. E aí o que acontece é que essas grandes empresas podem querer parar de operar no Brasil por conta disso. Porque muitos [entregadores] estão satisfeitos com a modalidade que vem sendo trabalhada. Porque como autônomo ele trabalha a hora que quer, trabalhar para mais de um aplicativo. Se ele não quiser ligar o aplicativo, ele não trabalha.
MidiaNews - Essa mudança pode afetar os pequenos empreendimentos?
Lorenna Bezerra - Prejudica o setor como um todo. Há muitos motociclistas que se você falar com eles, eles também não querem ser CLT, porque eles querem ter essa liberdade de hoje trabalhar aqui e amanhã trabalhar em outro lugar. E a preocupação é que as empresas grandes, possivelmente, não vão colocar CLT. Por que eles contratam uma empresa de serviço [terceirizada].
MidiaNews - Uma demanda dos entregadores é a criação de espaços nos restaurantes onde eles possam aguardar o pedido...
Lorenna Bezerra - Alguns estabelecimentos têm a estrutura física e outros não. Mas é porque o tempo que o entregador espera para pegar uma comida é muito rápido. Porque ele não é um entregador que fica esperando vários pedidos ficarem prontos. Quando o cliente pede, vem uma mensagem para o restaurante e outra para o entregador quando o pedido foi feito. Eles então chegam no local e esperam no máximo 10 minutos. Então a questão é que eles precisam de um ponto de apoio para usar o banheiro e para beber água, já que dependem do restaurante para isso. Mas a estrutura coberta com cadeiras, se tiver, é ótimo, mas não é obrigatório aos restaurantes.
MidiaNews - Tramita na Assembleia um projeto que proíbe banheiros unissex aqui no Estado. Qual é a sua opinião quanto a isso?
Lorenna Bezerra - Esse é um assunto delicado, mas eu não lembro se é o artigo 3º ou 4º dessa lei, que coloca que locais que possuir apenas um banheiro pode ser unissex. Então ela é confusa, né? Até porque eles estão lá dentro da Assembleia indicando como é que o empresário deve funcionar. Isso aí é supercomplicado. Nós somos a favor de facilitar o empreendimento e não de dificultar. E cada um sabe a dor que é a dificuldade que tem. Muitos locais não têm espaço físico para ter dois banheiros, às vezes não tem. Tipo, uma farmácia tem um banheiro, um avião tem um banheiro.
MidiaNews - São Paulo aprovou uma lei que obriga o fornecimento de água gratuita aos clientes. O que acha desta legislação?
Lorenna Bezerra - Eu acho que mais uma vez querem interferir em um empreendedor. Acho que o político não tem o direito de falar como eu tenho que trabalhar e como eu tenho que atender os meus clientes. A água não vem de graças ao restaurante. Ele paga pela água e pela energia. Para fornecer água ao cliente, ele [empresário] terá um custo. Então, cabe pra ele decidir se ele quer dar ou não água gratuita ao cliente. Cadê a legislação que diminui as obrigações, por exemplo, qual que é a contrapartida? Vai diminuir a conta de água para o restaurante que fornece água aos clientes?
MidiaNews - Recentemente a Seleção Brasileira jogou na Arena Pantanal, trazendo muitos torcedores de outras cidades e até mesmo estados. Isso é bom para bares e restaurantes?
Lorenna Bezerra - Qualquer tipo de evento é bacana, traz público. Movimentos shopping, lojas, restaurantes e isso é muito bom. Quando bem estruturados e organizados, os eventos trazem resultados bastante positivos, porque impactam bastante a economia local, já que nosso turismo gastronômico é muito forte e com muitos restaurantes de qualidade.
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1 Comentário(s).
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| Glaucia Maria 05.11.23 11h37 | ||||
| PArabéns a Lorenna, otima empreendedora!. Otima entrevista! Porém , comer fora de casa, para familias que tem um ou mais filhos, nunca foi e nunca será mais barato!. Creio que a alimentação encareceu muito no brasiu, e penso que essa inflação anunciada é mentirosa! é só ir ao mercado e ver ! | ||||
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