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29.09.2024 | 09h30 Tamanho do texto A- A+

Pregões se renovam e resistem à era da internet na Capital

A rua Poxoréu, no bairro Alvorada, abriga 15 lojas do ramo, que atendem público diverso

Victor Ostetti/MidiaNews

Fachada da loja Melhor Preço Cuiabá, localizada na rua Poxoréu

Fachada da loja Melhor Preço Cuiabá, localizada na rua Poxoréu

ANGÉLICA CALLEJAS
DA REDAÇÃO

Na Rua Poxoréu, conhecida como “Rua dos Pregões”, no bairro Alvorada, em Cuiabá, cerca de 15 estabelecimentos comerciais deste ramo resistem ao tempo, se renovando para continuar no mercado. Alternativas acessíveis para muitos cidadãos, algumas dessas lojas chegam a faturar até R$ 70 mil por mês.

 

Cuiabá é um lugar onde as pessoas são formiguinhas, se mudam muito, e o pregão é um comércio que está auxiliando

A proposta de venda de produtos usados e recondicionados com preços atrativos conquistou um público diverso, desde trabalhadores a empresas. O mercado oferece não apenas economia, mas também o benefício da sustentabilidade.

 

Edinéia Ferreira da Silva, de 53 anos, trabalha há mais de 30 na área. Ela veio do interior em busca de um melhor tratamento para seu filho neurodivergente, e comprou o ponto de seu irmão, o radialista Edemir Ferreira, que é dono de três pregões na rua Poxoréu.

 

"Eu era de Sapezal e vim para Cuiabá há um ano. Tive que me mudar para fazer o tratamento do meu filho. Cuiabá é um lugar onde as pessoas são formiguinhas, se mudam muito, e o pregão é um comércio que está auxiliando, porque eles [consumidores] pagam bem abaixo do preço de um produto novo", disse ela.

 

Na loja de Edinéia, a reportagem encontrou produtos como geladeiras, cama, sofás, armários, aparelhos de ar-condicionado, fornos, bebedouros e mesas, e também peças de nicho, como lavatório de cabeleireiro e aparelho de aerosol. De acordo com ela, os itens para montar alojamentos nas obras e mobiliar casas são os mais procurados.

 

"Aqui tem muitos estudantes, empresas que vêm de fora para prestar serviço. Eles são nossos principais fregueses. Agora para comprar, geralmente são famílias que estão trocando a mobília, desapegando de móveis. Eles vêm até a gente. É um comércio bom, nós temos volume alto de venda".

 

Já a venezuelana Valéria Diaz, que trabalha há oito meses no Pregão Cuiabá, o mais antigo da rua, diz que apesar da facilidade das compras online, como o marketplace do Facebook, as lojas físicas são muito procuradas por passar mais segurança aos clientes.

 

"Quase não atendemos empresas. Ultimamente as vendas estão devagar, mas acredito que tem futuro, porque sempre tem gente procurando. Apesar de serem produtos usados e recondicionados, são itens bons e baratos, e nós damos garantia de três meses. Se você comprar no marketplace, por exemplo, não tem garantia".

 

Descendo pela rua, foi possível ver uma variedade de produtos expostos, mas pouca movimentação da clientela. Além dos proprietários e familiares, o que a reportagem mais encontrou foram técnicos fazendo o conserto dos objetos danificados.

 

Adaptação à internet

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Marlon

O proprietário do pregão Móveis Tassaro, Marlon

No pregão Móveis Tassaro, o dono, que se identificou como Marlon, diz que expandiu as vendas depois que associou o trabalho in loco às redes sociais. Entre os proprietários, ele foi o que apresentou o perfil mais jovem e com mais afinidade com os recursos digitais. 

 

"Estou há mais ou menos seis anos nessa rua. Por incrível que pareça, vem vários tipos de público, porque trabalhamos tanto com usado quanto novo. As pessoas acham que o pregão tem só coisa velha, mas é um conceito que já foi ultrapassado. Por exemplo, apesar da queda nas vendas esse ano, a gente vende R$ 50, R$ 60 mil por mês", disse.

 

"A gente atende muitas empresas, até de fora, do ramo de construção, porque eles montam alojamentos. E aí a gente vende muita beliche, geladeira. Inclusive uma obra que está tendo ali no CPA, eu praticamente montei quatro alojamentos para eles", revelou.

 

"Mas minha venda maior é online. Cerca de 50% eu vendo pela internet. Porque hoje o Mundo está muito virtual, a internet já dominou. Então usamos o marketplace no Facebook, OLX... A venda no ponto são aquelas pessoas que sabem que aqui é a rua do pregão, e que se elas não acham em um, elas acham em outro".

 

Assim como os outros comerciantes, Marlon acredita que o pregão é um comércio que está longe de se tornar obsoleto. "Acho que nunca vai acabar, porque a pessoa compra um móvel e uma hora ou outra ela enjoa, vai querer trocar, pode querer um móvel novo e aproveita para vender o que tinha antes".

 

Das rádios aos pregões


Foi nos desafios trazidos pela pandemia que o comunicador Edemir Ferreira encontrou a oportunidade de se refazer profissionalmente. No dia em que foi até a rua Poxoréu para vender alguns itens que não usava, ele se interessou pelo mercado.

Victor Ostetti/MidiaNews

Edemir Ferreira

O comunicador Edemir Ferreira, proprietário de três pregões na rua Poxoréu

 

Atualmente, é proprietário de três pregões, e o volume de vendas chega a R$ 70 mil por mês.

 

"Depois da pandemia, ficou um pouco parado na área [da comunicação], e eu também sou DJ profissional. Um dia vim aqui vender umas ferramentas e acabei gostando. Eu tinha quatro lojas, mas aquele primeiro pregão da rua, que era meu, vendi para minha irmã", conta.

 

"Hoje tenho três lojas aqui. Mas a comunicação ainda está na veia, continuo como correspondente de 23 rádios, como a Conti FM, Vida FM, Interativa... São tantas! Mando daqui notícias e participações, mensagens do dia. Quase todas as manhãs estou no ar".

 

Edemir, que tem 49 anos, mostra um perfil profissional mais experiente e crítico. Segundo ele, o que observou nos anos à frente das suas lojas é que os principais clientes são imigrantes, que vêm da Venezuela, Haiti, em busca de uma vida melhor em Cuiabá.

 

Ele também falou que um público grande são de mulheres vítimas de violência doméstica, que tiveram que deixar suas casas e precisam mobiliar seus novos lares. 

 

"O público aqui da rua é classe B, C, um povo mais humilde. Nessa loja, nós compramos novos, reformamos usados e também fazemos consertos de eletrônicos e eletrodomésticos. Tive que abrir a oficina para atender as minhas outras lojas. Deu certo, e agora eu atendo quase toda a rua".

 

"Acredito que o preço também é um fator muito importante, principalmente para essas pessoas que vêm para o Brasil, como haitianos, venezuelanos, que vêm com a corda no pescoço. Eles precisam ter algo que resolva o problema, e que não seja caro. Em média, 50% dos nossos clientes são imigrantes".

 

Edemir também é um entusiasta das redes sociais e, como um bom comunicador, viu a importância da internet para o aumento das vendas e a facilidade de adquirir produtos.

 

"Oitenta por cento da minha venda é online. Divulgo nas redes sociais, que é uma ferramenta muito boa. Porém, apesar de ser uma ferramenta espetacular, percebo que os clientes ainda têm muitas dúvidas, principalmente os que são de fora do Brasil. Então, tem aquela parcela que prefere vir à loja".

 

Sobre o futuro do ramo que decidiu investir, a leitura de Edemir é semelhante a de seus concorrentes. "Dá para perceber que nós estamos passando por um período sensível, mas o usado é uma opção que continua em alta, e favorece até para o meio ambiente".

 

"Por exemplo, o trabalho que nós estamos fazendo ali naquele refrigerador, se não tem esses profissionais para consertar, seria mais um produto jogado fora, como entulho. Então, eu acredito que nós estamos contribuindo. Acredito que o pregão contribui muito para a reutilização, e o meio ambiente".

 

Veja o vídeo:

 

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Victor Ostetti/MidiaNews

Técnicos trabalhando nos pregões

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Marlon

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Interior dos pregões

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Fachada dos Pregões

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Edineia Ferreira

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Edemir Ferreira




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