"Revitalizado", Beco do Candeeiro revive pesadelo do abandono

Tomado por pessoas em situação de rua e dependentes químicos, o Beco do Candeeiro voltou a se deteriorar três anos após uma obra de "revitalização" que prometia reerguer o tradicional trecho do Centro Histórico de Cuiabá.

Nos últimos meses, o que predomina é o mau cheiro, o lixo e a insegurança, que têm afastado a clientela do comércio.

Não é fácil ver tudo indo por água abaixo. Eu espero que algo seja feito.. talvez mais policiamento, assistência social

Atualmente o trecho está em estado deplorável, tornando-se novamente um caminho por onde os visitantes do Centro preferem não passar. Um choque de realidade para quem imaginou que dias melhores poderiam vir quando a Prefeitura entregou a obra de "revitalização", em maio de 2021. 

"Vocês não imaginam a minha alegria e orgulho como cuiabano de 'tchapa e cruz' em entregar essas obras no Centro Histórico. O Beco do Candeeiro não pode ser só a entrega, nós temos que ocupar e fazer dele um grande espaço de encontro, e vamos fazer", prometeu o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) na solenidade de entrega da obra, orçada em R$ 247 mil. 

Exatamente três anos depois, a realidade é completamente oposta ao discurso oficial. O MidiaNews conversou com comerciantes, que pediram para não se identificar, para saber o dia a dia na região, e o impacto que a ausência de políticas públicas no espaço têm causado a eles.

“Eu não gosto de ser aquela pessoa que reclama o tempo todo, mas a situação aqui está ficando realmente complicada. Tem muitos viciados em drogas, que já vi até usando droga de dia... É uma tristeza”, disse a proprietária de uma loja.

“O cheiro do lixo às vezes é simplesmente insuportável. E não é só isso, sabe? Eu temo pela minha segurança, pela segurança dos meus funcionários. Já fui furtada várias vezes, e o prejuízo é sempre grande”.

Segundo a empresária, a loja funciona no mesmo ponto há quase uma década, e nos últimos meses foi invadida mais de cinco vezes. Em um dos casos, ela contou que o criminoso destruiu vários objetos e roupas do comércio.

“Eu sei que essas pessoas também precisam de ajuda, de assistência, mas não é justo que isso afete o meu sustento. Não é fácil ver tudo indo por água abaixo. Espero que algo seja feito. Talvez mais policiamento, assistência social...”

Já outro comerciante apontou que um dos principais motivos de a rua e o entorno acumularem lixo é por conta da distribuição de marmitas realizada pela Secretaria de Assistência Social no Morro da Luz.

A gente reclama para a prefeitura, mas não adianta. Temos um grupo dos comerciantes e todo dia tem reclamação, alguém falando que a loja foi invadida

O empresário disse que os piores horários são entre 12h e 15h. Segundo ele, assim que terminam de comer, as pessoas jogam lixo com resto de comida no chão, e o calor da cidade acentua o cheiro do alimento azedo, urina e fezes do beco.

"Ultimamente tem sido um verdadeiro pesadelo. A gente pediu para trocar de lugar a entrega das marmitas. Já não basta o centro estar abandonado, agora temos que lidar com lixo, esse cheiro. Afasta os clientes, sem dúvida. Ainda tem os furtos de madrugada. É uma preocupação constante”, contou.

“A gente reclama para a Prefeitura, mas não adianta. Temos um grupo dos comerciantes e todo dia tem reclamação, alguém falando que a loja foi invadida. A gente pede por qualquer mudança que possa trazer um pouco de normalidade de volta a essa região. Está insustentável".

No ato da entrega da revitalização, no dia 14 de maio de 2021, a Prefeitura realizou um pequeno evento na rua.

Nos meses seguintes, o espaço foi utilizado para eventos culturais, filamagens e shows locais, que foram diminuindo com o tempo e pela insegurança da área.

“No começo, a gente via os turistas frequentando, mas daí ficou totalmente abandonado. Os moradores de rua voltam que levaram os bancos dali. Aí furtaram os fios da luz, quebraram os candeeiros, furatam até os postes de ferro e os corrimãos de inox eles levaram”, relatou.

Veja o vídeo: