Nas críticas à organização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, na sexta-feira (2), em Londres, o secretário-geral da Fifa, Jérome Valcke, não perdoou nem mesmo os governos estaduais cujas capitais serão sedes do evento e se esforçam para manter o cronograma das obras mais adiantadas - os estádios. Sem citar dados, o cartola denunciou um suposto atraso na construção das arenas, também sem especificar quais capitais não cumpririam o acordo com a Fifa.
Reportagem especial de
O Estado de S. Paulo, neste sábado (3), afirma que Valcke teve uma "explosão de irritação" com o Brasil e denunciou, ainda, a falta de aeroportos, hotéis e até de leis para a realização da Copa no país. Ganhou repercussão a afirmação do dirigente da Fifa de que é preciso "dar um empurrão, um chute no traseiro do Brasil".
Valcke desconhece, por exemplo, dados do IBGE que apontam que as 12 cidades-sede dos jogos concentram 75% da oferta de hospedagem do país, ou 278,2 mil leitos, seja em hotéis, motéis, apart-hotéis, pensões ou albergues. O número, relativo a 2011 e divulgado no último dia 28, é resultado da primeira pesquisa do gênero feita pelo órgão e supera a necessidade de 110 mil leitos prevista para o evento pelo Comitê Organizador da Copa.
O cartola também parece não ter conhecimento de que, faltando pouco mais de dois anos para a Copa do Mundo de 2014, a maioria dos estádios está em estágio bastante avançado, segundo um relatório do TCU (Tribunal de Contas da União) sobre obras para o Mundial.
No cômputo geral, por exemplo, a Arena Pantanal, estádio que vai sediar quatro jogos da fase eliminatória do Mundial, em Cuiabá, está na terceira colocação, atrás do Estádio Nacional, que Brasília (DF) constroi para sediar os jogos da competição. O mais adiantado é o de Fortaleza, com 50,% das obras.
O estádio da capital de Mato Grosso, segundo o levantamento do TCE, tem 37,6% das obras já executadas. O estádio da Capital Federal tem 42,5% dos trabalhos concluídos.
Confira a íntegra da reportagem de
O Estado de S. Paulo, feita pelo jornalista
Jamil Chade:"Um chute no traseiro do Brasil", pede a FifaEm uma explosão de irritação com o Brasil, o secretário-geral da Fifa, Jèrome Valcke, denuncia a volta dos atrasos nas obras dos estádios, a falta de aeroportos, hotéis e até de leis para a realização da Copa do Mundo de 2014 no País. "As coisas simplesmente não estão funcionando no Brasil", declarou. Para ele, os brasileiros estão mais preocupados em vencer o Mundial que em organizá-lo e chegou a sugerir que os organizadores levem um "chute no traseiro" para que se deem conta de que precisam trabalhar."Temos de dar um empurrão, um chute no traseiro e entregar a Copa e isso é que faremos", insistiu. Valcke viajará ao Brasil na semana que vem para pressionar o Comitê Organizador a tomar ações urgentes. "O grande problema que temos no Brasil é que quase nada avança", disse. Valcke, em Londres, deixou claro que não está em debate a transferência da Copa para outro país, a apenas dois anos e meio do seu início. "Não há plano B", disse. Mas não disfarçava seu inconformismo diante do que a Fifa chama de caos. "Eu não entendo porque as coisas não avançam. Os estádios não estão mais dentro do cronograma e porque é que tantas coisas estão atrasadas?", se queixou. "Em 2014 teremos uma Copa do Mundo. A preocupação é de que nada esteja sendo feito ou preparado para receber a quantidade de gente que quer ir ao Brasil", afirmou. "Lamento dizer, mas as coisas não estão funcionando no Brasil. Há debates sem fim sobre a lei geral da Copa. Teríamos de ter recebido esses documentos assinados em 2007 e estamos em 2012", atacou.Faltam hotéis. Além do atraso nos estádios e na Lei Geral da Copa, Valcke alerta que várias cidades não tem hotéis suficientes para receber torcidas e teme pela situação dos aeroportos. "Não há hotéis suficientes em todas as partes." Para ele, Manaus é um exemplo de uma cidade que precisa de mais quartos e de transporte público. "A cidade é bonita, mas a forma de chegar ao estádio e o transporte precisam ser melhorados", criticou o secretário-geral da Fifa. Todas as doze cidades sedes da Copa do Mundo receberão pelo menos quatro jogos. " Precisamos garantir que os torcedores e os jornalistas chegarão a todos esses locais", disse, lembrando que não está preocupado com o deslocamento das seleções que terão seus próprios jatos.Para Valcke, o problema central é que o Brasil está mais preocupado em ganhar o Mundial que em organizá-lo. "O que é a Copa para o Brasil? Organizá-la ou vencê-la?" questionou. "Acho que é vencer a Copa", afirmou. "Não estou tão certo sobre organizar a Copa. Pense na África do Sul. Foi para organiza-la, não para vencê-la", completou. Valcke desembarca no Brasil na próxima semana para cobrar o governo e o Comitê Organizador Local (COL).