Aprendemos desde crianças que devemos ser otimistas. Enfrentar a vida com a disposição resoluta de sempre ver o lado melhor, até porque vivemos no melhor país do mundo.
Mas, aqui não há terremotos, nem furacão, o sol brilha o ano todo, o povo é alegre. Quem não ouviu tais estímulos?
Ensinaram-nos, e aos nossos pais, e aos nossos avós, que era preciso ter esperança em nosso Brasil varonil. Vindos do lar e da escola tais prédicas embalaram os nossos neurônios infanto-juvenis.
Um pouco mais adiante decoramos, como tarefa escolar, a ‘Canção do Tamoio’ na qual Gonçalves Dias, celebrando nossos primitivos irmãos, ensinava: “Não chores, meu filho; / Não chores, que a vida/ É luta renhida:/ Viver é lutar./ A vida é combate,/ Que os fracos abate,/ Que os fortes, os bravos/ Só pode exaltar.” E assim temos vivido. Sob o signo de ser o país do futuro. “Amanhã há de ser outro dia”. São os ditos do povo, são as canções populares.
Aliás, “Brasil, país do futuro”, é expressão título de um dos livros do austríaco Stefan Zweig. Porém, se tal parece ser ainda possível na vida pessoal, como se passa a esperança no contexto da vida pública, ou seja, da vida do país?

"Quem já passou dos cinquenta atravessou algumas fases de expectativas esperançosas. O vento soprou o cheiro da liberdade quando saíamos da noite escura da ditadura"
Quem já passou dos cinquenta atravessou algumas fases de expectativas esperançosas. O vento soprou o cheiro da liberdade quando saíamos da noite escura da ditadura.
E o amanhã de que nos falavam poetas e cantores – “Faz escuro mais eu canto, porque o amanhã vai chegar”, escrevia o amazonense Thiago de Mello, enquanto Chico Buarque entoava “Amanhã há de ser / Outro dia/ Eu pergunto a você/ Onde vai se esconder/ Da enorme euforia” – parecia ter chegado com o alvorecer da Democracia. Enfim retomávamos a alegria, voltávamos a ser o país do futuro e para o futuro.
E o tempo passou e com ele vieram as decepções. A negativa das “Diretas Já”, a eleição irrealizada de Tancredo, o governo Sarney. Os planos econômicos fracassados. A eleição de Collor. As expectativas frustradas com FHC, em que a educação e a cultura não tiveram o impulso que dele se esperava. Aqui mesmo em Mato Grosso uma bela campanha, sob o slogan de “o passado nunca mais”, empolgou a população.
Se o passado era nunca mais então é porque teríamos um belo futuro. Infelizmente, foi o que se viu. Todas as esperanças depositadas erodiram-se como as barrancas do Araguaia - Garças nas épocas das cheias. Mas nesse entretempo se gestava a grande epopeia que seria levar um operário ao poder.
Finalmente, a gente simples, os idealistas, os seduzidos pela esperança colocariam o Brasil nos eixos. O futuro estava se tornando em presente.
Afinal, um governo ético, empreendedor, sério, compromissado com as grandes causas da nação seria instaurado. Era a revolução pacífica sonhada por tantos ao longo das décadas.
O sonho durou pouco e logo seria apunhalado pelas costas. Todas as expectativas ruíram. Fomos ludibriados. Roubaram os nossos sonhos. São eles hoje pesadelos.
Pior que tudo é que estão matando a esperança. Parcelas crescentes da população não mais estão vendo em quem ou, pior, em quê acreditar. Percebem-se claros sinais de desassossego e angustia nos olhos das melhores pessoas.
A ladainha popular sobre o ter esperança nos diz também que ela é a última que morre. Vivemos um tempo sombrio em que estão matando a esperança.
Antigamente se dizia que, além da esperança e do futuro, o Brasil era também o país do carnaval e do futebol. O carnaval, como todos já sabem, como festa de autentica participação popular deixou de existir na prática. E o futebol ... bem, precisa dizer alguma coisa?
Pessimista eu? Não. Estou pretendendo ser realista. Tire sua própria conclusão leitor. Existem diferenças graduais entre o pessimismo e o otimismo. E no centro está o realismo. O teólogo William George Ward escreveu que “O pessimista se queixa do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas”.
Que ventos irão soprar as nossas velas?
SEBASTIÃO CARLOS GOMES DE CARVALHO é advogado, professor e historiador em Cuiabá.