A Guatemala é o terceiro maior país da América Central, com 108.9 mil m2 - pouco maior do que o Estado de Pernambuco, que tem 98.300 km2 - com uma população de 15,5 milhões de habitantes, sendo que na área metropolitana da cidade de Guatemala, a Capital, estão concentrados aproximadamente 4,8 milhões de habitantes, 31% do total da população, dos quais mais de 80% são descendentes dos Maias.
Apesar de ser um país subdesenvolvido, como tantos outros da América Central, Caribe e do Sul, a Guatemala tem uma das mais fortes economias da região. O PIB deste ano está previsto em 90 bilhões de dólares, ou aproximadamente 340 bilhões de reais, pouco menos do que o PIB de Minas Gerais ou quase cinco vezes o PIB de Mato Grosso.
Este é um país marcado por revoluções, golpes de estado e que viveu em Guerra civil entre 1960 e 1996, tendo, de um lado, grupos que recebiam apoio dos EUA e, de outro, grupos de esquerda. Durante este período, mais de cem mil pessoas foram mortas - incluindo alguns massacres contra indígenas - e quase um milhão deixaram o país, fugindo da guerra civil, com destino aos EUA.
Em 1990, como integrante do Inter-American Defense College, tive a oportunidade de visitar a Guatemala e a Costa Rica por duas semanas em viagem de estudos. Apesar do clima de violência e medo decorrente da guerra civil, podíamos ver que a esperança de um futuro sem violência, com desenvolvimento e democracia, era a energia que movie aquele povo humilde e sofrido da Guatemala.

"Apesar de ser um país subdesenvolvido, como tantos outros da América Central, Caribe e do Sul, a Guatemala tem uma das mais fortes economias da região"
Todavia, os atuais governantes traíram as esperanças do povo ao transformarem a corrupção em instrumento de gestão pública, podendo lançar novamente o país em um novo período de conflito e instabilidade econômica, política, institucional e social.
O atual governo teve inicio em 2012 e tudo levava a crer que a Guatemala iria passar por um período de estabilidade democrática. Todavia, aos poucos, vários integrantes do governo passaram a ser acusados de corrupção, muitos dos quais acabaram renunciando, até que, há poucas semanas, a vice-presidente da República foi afastada do cargo e presa por envolvimento com a corrupção.
Organismos vinculados à Organização das Nações Unidas (ONU) que combatem a corrupção constataram que tais práticas estavam alastradas pelas diversas instâncias do Governo.
Inconformada com a situação, há meses, bem mais de um ano, a população da Guatemala está saindo às ruas em protestos contra a corrupção no Governo.
Atendendo aos reclamos populares, o Congresso há poucas semanas cassou a imunidade do presidente e iniciou um processo de investigação quanto ao envolvimento do mesmo em casos de corrupção, por considerá-lo o responsável por comandar um grande esquema de corrupção, responsável por verdadeiras quadrilhas que dilapidavam os cofres públicos e faziam tráfico de influência.
Como as pressões populares aumentaram, não restou ao então presidente outra alternativa a não ser a renúncia, na esperança de que seu ato pudesse trazer a tão sonhada paz social e política e estancar as acusações de corrupção contra o seu Governo, às vésperas das eleições gerais, incluindo para Presidente da República.
O que o presidente não imaginava é que tão logo deixasse o cargo seria preso e iria ter que prestar contas à justiça e ao povo, podendo ser condenado a décadas na cadeia, local de residência de todos os corruptos tanto naquele país quanto em outros abaixo ou acima do linha do equador.
Qualquer semelhança da situação da Guatemala e o que tem sido revelado no "Mensalão", no "Petrolão/Lava Jato" e em outros setores da administração brasileira pode não ser mera coincidência, já que a corrupção é uma verdadeira epidemia que está muito presente em todos os países, principalmente na América Latina.
Oxalá também no Brasil, como está acontecendo na Guatemala, os corruptos possam pagar pelos seus crimes e ver o sol nascer quadrado por vários anos e que isso possa servir de exemplo para que outros ladrões de colarinho branco ou outras vestimentas também sejam demovidos de roubar o dinheiro público!
JUACY DA SILVA é professor universitário titular e aposentado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e mestre em Sociologia.