O delegado Nilson Farias, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), afirmou à imprensa que a população do bairro Novo Mundo, em Várzea Grande, vive em um regime de ditadura imposto por uma facção criminosa. A fala faz referência à Operação Ditadura Faccional CPX, deflagrada na última sexta-feira (5).

De acordo com o delegado, os moradores da região vivem sob medo constante, pois estão sujeitos às regras do grupo criminoso.
“Eles estavam vivendo num 'Estado Paralelo'. Eles não estavam sujeitos às regras da nossa legislação penal. São regras próprias, regras sanguinárias, onde as pessoas não têm direito de se expressar”, afirmou.
“Eles não podem falar. Se morre alguém, eles não têm para onde recorrer, porque eles têm medo de alguma represália. Inclusive, as pessoas que nós ouvimos aqui na delegacia, elas têm muito medo”, disse Farias.
O delegado fez referência ao caso de José Wallafe dos Santos, morto após ele, sua esposa e seu filho serem sequestrados pela facção criminosa, em 9 de agosto.
José foi morto e a sua esposa e o filho, de um ano, permaneceram sob cárcere. Durante o crime, a mulher teve o braço quebrado para que os criminosos conseguissem acesso aos dados do celular do marido, suspeito de pertencer a um grupo rival.
Segundo o delegado, em determinado momento, a criança foi mantida sob os cuidados de uma integrante da facção, enquanto a sua mãe era obrigada a aceitar se casar com um membro do grupo, na frente do marido prestes a ser morto.
Ela só permaneceu viva sob a condição de se comprometer com o faccionado. A vítima foi tão violentada psicologicamente que se acostumou com o criminoso, e não o entregou à Polícia.
“Quando ela vem ser ouvida na delegacia, ela tem que levar toda a documentação que foi produzida para apresentar para essas pessoas [membros da facção]. [...] Ela viveu essa situação, ela estocolmizou com o agressor, tanto é que nós não descobrimos quem é ele, que ela ficou casada, porque ela não se abriu durante as investigações”, afirmou o delegado.
Outra vítima, uma jovem trans conhecida como Gabriely Silva de Jesus, de 21 anos, foi morta pelo grupo criminoso após presenciar e tentar intervir para impedir o sequestro da família.
Nilson Farias afirmou que a região precisa de muitas intervenções além da Operação Ditadura Faccional CPX para resolver a questão.
“É realmente um local precário e que carece da intervenção do Estado. Ali, mesmo tendo essa operação, ainda vai precisar de muita intervenção do Estado para que aquelas pessoas possam viver de forma democrática, possam fazer suas denúncias sem ter que ficar só anonimamente. Infelizmente, uma pessoa que mora naquela localidade e faz qualquer denúncia está sendo sentenciada de morte”, finalizou o delegado.
Operação
A Operação Ditadura Faccional CPX foi deflagrada para cumprimento de ordens judiciais de prisão e busca e apreensão contra investigados por homicídios em Cuiabá e Várzea Grande.
Foram cumpridos 11 mandados de prisão temporária e 11 mandados de busca e apreensão domiciliar, deferidos pela 1ª Vara Criminal de Várzea Grande com base em investigações da DHPP.
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