Cuiabá, Domingo, 9 de Novembro de 2025
CONTRA O CRIME ORGANIZADO
09.11.2025 | 11h16 Tamanho do texto A- A+

Governo busca acelerar programa contra o tráfico de armas para reagir à crise

O Ministério da Justiça e Segurança Pública pretende lançar a Renarme (Rede Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Armas, Munições e Explosivos)

Reprodução

Ministério da Justiça e Segurança Pública pretende lançar nas próximas semanas a Renarme

Ministério da Justiça e Segurança Pública pretende lançar nas próximas semanas a Renarme

RAQUEL LOPES
DA FOLHAPRESS

O Ministério da Justiça e Segurança Pública pretende lançar nas próximas semanas a Renarme (Rede Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Armas, Munições e Explosivos), iniciativa que busca integrar órgãos federais e estaduais no combate ao tráfico de armamentos no país.

 

Prevista inicialmente para 2026, a rede será anunciada ainda neste ano. A antecipação é mais uma tentativa do governo Lula (PT) de responder ao crime organizado após a megaoperação no Rio de Janeiro que deixou 121 mortos.

 

O principal objetivo é fortalecer o combate ao tráfico de armas e munições, com foco em desarticular as rotas de abastecimento das facções criminosas e impedir que o armamento chegue às mãos dos traficantes.

Um dos desafios crescentes que a rede pretende enfrentar é o avanço das chamadas "armas fantasmas", armamentos sem numeração ou marcação de fábrica, montados a partir de peças compradas ou produzidas separadamente.

 

Esse tipo de arma dificulta o rastreamento de origem e tem se tornado uma preocupação cada vez maior para as forças de segurança. Na megaoperação do Rio, fuzis apreendidos nos complexos do Alemão e da Penha tinham esse perfil.

 

Segundo Natália Pollachi, diretora de projetos do Instituto Sou da Paz, há dois padrões principais de "armas fantasmas" identificados em operações recentes. Um deles é a fabricação do zero, em que as armas são montadas artesanal ou ilegalmente, muitas vezes com uso de maquinário profissional para produzir peças separadas. Em alguns casos, impressoras 3D.

 

Há também a montagem industrial, quando há o comércio ilegal de peças separadas vindas, especialmente, dos Estados Unidos, onde são vendidas com pouca ou nenhuma regulamentação e frequentemente sem marcação. Essas peças industriais são então montadas artesanalmente no Brasil.

 

A rede deve ser coordenada pela Diopi (Diretoria de Operações Integradas e de Inteligência) da pasta, reunindo órgãos federais e estaduais do Susp (Sistema Único de Segurança Pública), além do Ministério da Defesa e da Receita Federal, para fortalecer a articulação entre as diferentes esferas de governo.

 

Segundo técnicos do governo federal, embora os esforços e o diálogo entre os órgãos envolvidos já aconteçam, a Renarme visa criar um espaço mais institucionalizado para otimizar os resultados no combate ao tráfico de armas e munições.

 

Ela terá cinco eixos principais: intensificação das investigações sobre tráfico de armas e munições, com foco em armamentos de grosso calibre; intercâmbio de informações para superar os ritmos e protocolos de compartilhamento de informação; capacitação integrada; padronização de protocolos e metodologias estatísticas; e ampliação da cooperação interinstitucional.

 

Um dos objetivos também é apoiar a criação de delegacias especializadas de armas em outros estados. Atualmente, essas unidades existem em seis unidades da federação: Rio de Janeiro, Espírito Santo, Ceará, Paraíba, Bahia e Rio Grande do Sul.

 

As delegacias do Rio, Espírito Santo e Ceará foram criadas durante a gestão de Roberto Sá, atual secretário da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, que também já comandou as pastas de segurança nos dois outros estados.

 

Para o secretário, essas delegacias são importantes para o enfraquecimento do crime organizado, pois a investigação especializada pode proporcionar a redução ou dificuldade de acesso ao armamento usado para a prática de crimes graves.

 

Por isso, é necessária uma equipe dedicada a mapear padrões de apreensões, rastrear o comércio ilegal, fiscalizar oficinas clandestinas e investigar armeiros. Somente assim, na sua avaliação, é possível descobrir como as armas chegam às mãos dos traficantes.

 

"Sem o poder bélico, o crime organizado não tem a ousadia e a coragem de fazer enfrentamentos que tem hoje com armas tão poderosas", disse.

 

Sá disse ainda que antes da criação de delegacias especializadas, o foco das equipes investigativas era o criminoso e o crime violento que ele havia praticado (como homicídios ou lesões graves). A arma de fogo apreendida era tratada quase que meramente como uma estatística.

Somente em 2025, as polícias já apreenderam 79.288 armas de fogo, um aumento de 2,34% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Sinesp (Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública).

 

Já levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que 73,8% das 36.427 mortes violentas intencionais registradas em 2024 foram cometidas com o uso de armas de fogo.

 

Pollachi acrescenta que a rede é bem vista pela instituição, pois pode ajudar a acelerar o processo de aprendizado e crescimento dos profissionais envolvidos, reconhecendo que o tráfico de armas é um fenômeno nacional.

 

Na sua avaliação, a eficácia do Renarme se conecta diretamente com a necessidade de mais delegacias especializadas em armas. A maioria dessas unidades é recente, tendo sido criadas nos últimos dois anos.

 

"Em uma delegacia comum, este tipo de trabalho aprofundado não seria possível, pois o policial dificilmente teria tempo para investigar a origem da arma usada em um homicídio ou roubo, focando apenas no esclarecimento do crime imediato", disse.

 

"Investigar a arma é considerado estratégico, pois ela funciona como um totem de informações capaz de revelar os fios do crime organizado", completa.

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