O baiano Tácio Schaeppi ganha a vida narrando e-sports (competições organizadas de jogos de video-game). Schaeppi iniciou sua trajetória em 2013 e em menos dois anos se tornou um dos dois narradores mais importantes de League of Legends (jogo no qual duas equipes de cinco jogadores se enfrentam em uma arena, e cujo objetivo é destruir o coração da base adversária, chamado nexus).
Formado em Direito, ele conta que largou a carreira de advogado para se dedicar à narração de e-sports. "Exerci a profissão por oito anos, no mesmo escritório, mas quando surgiu a oportunidade de ser narrador profissional, eu tive que tentar, caso contrário iria passar o resto da vida me perguntando o que teria acontecido se eu tivesse aceitado", conta.
E o narrador baiano não tem do que reclamar. Ele é uma das estrelas em um mercado extremamente profissional e com altas remunerações. Tácio conta que há narradores que faturam mais de R$ 10 mil por mês e que a estrutura de transmissão das partidas conta com profissionais capacitados. "A equipe, editores, diretores, etc, é composta por pessoas que já atuaram nos maiores eventos esportivos do mundo, como Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas", diz.
O narrador estará em Salvador em 16 e 17 de maio, no Gamepólitan 2015, onde fará a narração das partidas de League of Legends do evento.
Tácio, que tem 28 anos, revela que sua iniciação como narrador de games foi bastante natural. "Sempre fui viciado em video-games e costumava narrar as partidas que jogava com meus amigos. A gente jogava, e atavés do Skype eu ia narrando de forma bem humorada os jogos", lembra.
Ele conta que sua vida começou a mudar quando ajudou na organização da segunda edição do Gamepólitan (maior evento de games de Salvador), em 2013.
"Ricardo (Ricardo Silva, idealizador e organizador do Gamepólitan) quis fazer uma arena de League of Legends no evento, mas constatou que ficava muito caro trazer um narrador de fora", afirma. "Eu me voluntariei para fazer a locução no evento, e já fiz minha estreia para sete mil pessoas", diz.
A partir daí, com a boa atuação no evento, Tácio começou a ser requisitado. "Ainda em 2013, passei a ser advogado de segunda a sexta, e no fim de semana atuava como narrador para um campeonato amador de Salvador, mas que era gerido por uma empresa alemã. Ganhava em dólar até", conta.
No inicio de 2014, ele afirma que foi convidado pela maior produtora de eventos de jogos eletrônicos do Brasil para narrar as ligas norte-americana e europeia. "Fazia a transmissão lá de São Paulo. Recebíamos o sinal de fora e eu narrava em cima do jogo", afirma.
Nesta época, ele conta que passou quatro meses morando na capital paulista, fazendo a locução dessas ligas, e depois retornou a Salvador.
"Voltei e, nessa época, comecei receber convites para narrar diversos jogos", revela. "Fiquei nesta ponte aérea entre Salvador e São Paulo até dezembro de 2014, quando a Riot Games, empresa que produz o League of Legends, me chamou para um teste junto com outras 16 pessoas", conta. Tácio passou e hoje é narrador exclusivo da Riot. "Narro o campeonato brasileiro e as ligas europeia e norte-americana", afirma.
Schaeppi explica que, no campeonato brasileiro, as partidas seletivas são realizadas com cada time em sua casa, mas a partir das fases posteriores, as equipes vão até o estúdio da Riot, onde são realizados os jogos.
MercadoApesar de já ser uma realidade, para Tácio, o mercado de e-sports ainda vai crescer bastante. "Acho que ainda terão uns cinco ou seis anos de crescimento alto", afirma.
"Para se ter uma ideia, os cerca de 2,5 mil ingressos para a final do 1º turno do campeonato brasileiro de League of Legends, que foi disputada em 18 de abril, em Florianópolis, se esgotaram em duas horas", revela Tácio. Além disso, esta final foi transmitida em cinemas de dez capitais brasileiras.
E isto não é nada se comparado à final do 2º turno, que será em 1º de agosto, no Allianz Parque, a arena do Palmeiras, em São Paulo, e que terá disponível cerca de 13 mil ingressos.
Tácio chama atenção também para a premiação dos campeonatos. "A equipe vencedora de cada turno do brasileiro ganha R$ 60 mil", diz. O valor parece alto, mas é ínfimo se comparado ao do mundial. "O time campeão do mundial de 2014, realizado na Coreia do Sul, recebeu US$ 1 milhão (cerca de R$ 3 milhões) como premiação", acrescenta.
A alta premiação e o sonho de se viver de games tem profissionalizado as equipes brasileiras. "Tudo está crescendo. Aqui em São Paulo os integrantes dos times moram na mesma casa, têm equipe com técnico, psicólogo, analista. O nível de profissionalização é alto", afirma Tácio.