Cuiabá, Sexta-Feira, 20 de Junho de 2025
LITERATURA
25.04.2015 | 11h53 Tamanho do texto A- A+

Editora de MT ultrapassa 600 publicações em 17 anos

Carlini e Caniato Editorial é um dos destaques do segmento literário no Estado

Divulgação

O editor Ramon Carlini ao lado da autora Iraci Romagnolli: mercado editorial em destaque

O editor Ramon Carlini ao lado da autora Iraci Romagnolli: mercado editorial em destaque

BEATRIZ SATURNINO
DO DIÁRIO DE CUIABÁ
As palavras têm o poder e dom de fascinar e transportar a mente para mundos em que a imaginação fica livre para brincar, por meio de histórias em contos, ficções, poesias, crônicas, romances e uma infinidade de possibilidades que a literatura é capaz de forjar.

A Carlini e Caniato Editorial é uma das editoras responsáveis pela circulação desta arte, que já ultrapassou a casa de 600 publicações em seus 17 anos de existência.

São autores que permeiam do mais singelo ao erudito. Desde Ana Maria Delgado, uma mulher que vive no meio do Pantanal mato-grossense, com sua escrita simples e suave, onde faz uma verdadeira viagem mostrando a essência e a alma do lugar em que vive.

"A intenção não é deixar o editor e autores ricos. A gente quer a circulação do conhecimento produzido em Mato Grosso, para manter suas tradições e histórias"


Também mostra o que seria sentido por um turista que visitasse a região, onde apresenta desde seus habitantes anônimos, até o lendário marechal Cândido Rondon.

Na lista de publicações da Editora também estão autores rebuscados e complexos, como o chapadense Ricardo Guilherme Dicke, premiado, que publicou diversos livros, como “Madona dos Páramos” e está na lista dos mais vendidos da Carlini e Caniato, com a obra “Os Semelhantes” (2011).

Dicke faleceu em 9 de julho de 2008 e deixa sua memória e arte em verdadeiras obras-primas das palavras, que devem se perpetuar por gerações.

Infelizmente o registro de memória em Mato Grosso está passando por dificuldades para a circulação de seus livros, e isso é sentido por todos, como uma reação em cadeia. Pois a consistência de publicação está sendo prejudicada, pela falta de fomento nos últimos 10 anos, ao menos.

Para se ter um ideia, “em 17 anos a Carlini e Caniato nunca vendeu um livro para a Seduc - Secretaria de Estado de Educação. E aí fica a dúvida, todos os nomes talentosos que circulam no mercado editados por nossa editora não tem qualidade para estar nas escolas?”, questiona Ramon Carlini, como uma forma de consciência e conciliação.

“A intenção não é deixar o editor e autores ricos. A gente quer a circulação do conhecimento produzido em Mato Grosso, para manter suas tradições e histórias”, ressalta o editor que, junto de Elaine Caniato, da editora que leva o sobrenome de ambos, vive à espera de um melhor posicionamento do Estado por meio das Secretarias de Cultura e Educação de Mato Grosso.

Haverá aquisição de livros pelo Estado para as escolas públicas? Vão se criar novas bibliotecas? Ficam estes questionamentos.

No ranking

Carlini e o escritor Ignácio de Loyola Brandão, durante lançamento de coletânea em São Paulo

Enquanto isso, a Carlini e Caniato faz circular obras da literatura brasileira de Mato Grosso no mercado editorial que merecem ser ressaltados.

Tanto que alguns estão na estante dos mais vendidos, como os infanto-juvenis, lançados pela TantaTinta, editora vinculada a Carlini e Caniato, como “Cabelo Ruim?”, de Neusa Baptista, e o “Bichonário do Pantanal”, de Iraci Romagnolli Dias.

O TantaTinta começou em 2003 com o lançamento de seis livros, com cinco histórias de “Mundinho – O Quati Curioso”, de autoria do escritor inglês que mora em Chapada, Richard Mason, e “Cuiabá Duas Novelas”, de Gabriel de Mattos.

No ranking ainda seguem os livros “História de Mato Grosso”, de Else Cavalcante, “Geografia de Mato Grosso”, de Ivane Piaia, também de Iraci, “Bichos, Gente e Ambiente”, e “Cores em Mato Grosso”, com imagens do fotógrafo Laércio Miranda.

Além de outros títulos e autores que estão entre os mais vendidos, tanto pela internet, ou no mercado nacional por meio da rede de livrarias Cultura, bem como na própria editora Carlini e Caniato e diretamente para algumas escolas.

Viagem Literária

"As palavras desencadeiam no nosso pensamento grande oportunidades de conhecermos outros lugares. É o que abre a mente e alimenta a nossa consciência para o conhecimento, leva ao imaginário, transformando o leitor mais cidadão, politizado e consciente de seus deveres e direitos"


São livros, revistas acadêmicas e científicas, livros corporativos e de artes, por fotógrafos como Rai Reis, Laércio Miranda, Marcos Vergueiro, Marcos Bergamasco e Izan Petterle, um dos mais importantes colaboradores da National Geographic Brasil, desde 2000.

Ele mora em Chapada dos Guimarães e retrata junto com textos de Frans Glissenaar a “Cuba de Che – 50 anos depois da Revolução”.

Nesta imersão literária, outro convite está para a obra do paulista Thomáz de Aquino Lisbôa, que com seu nome europe”, adentrou literalmente nas raízes da cultura indígena de Mato Grosso.

O Jaúka, como é conhecido, é um importante personagem da literatura brasileira em Mato Grosso. Ele escreveu o livro “Enawenê-Nauê: Primeiros Contatos”, cuja capa do livro traz uma foto do primeiro contato dele com os índios.

O escritor era um missionário, que viveu na tribo e casou-se com a filha do Cacique, de uma nação chamada Munku, quase como a história de Iracema, clássico da literatura brasileira, de José de Alencar. Com 78 anos, ele continua na tribo e possui netos, com filhos formados em universidade.

Mas o livro de Jaúka, é muito mais do que um relato (diário de campo), um verdadeiro registro histórico sobre o contato e a convivência com os índios Enawenê-Nawê de Mato Grosso e sobretudo pela proposta de uma nova política de atuação missionária pela qual o autor lutou, onde as crianças deveriam ser criadas e educadas de acordo com suas culturas, por suas respectivas famílias e em suas próprias terras.

Produção de peso

“As palavras desencadeiam no nosso pensamento grande oportunidades de conhecermos outros lugares. É o que abre a mente e alimenta a nossa consciência para o conhecimento, leva ao imaginário, transformando o leitor mais cidadão, politizado e consciente de seus deveres e direitos”, frisa Ramon.

Ainda tem vários livros produzidos em Mato Grosso de altíssima qualidade, além dos citados, por autores como Marta Cocco, Cristina Campos, Silva Freire, Romulo Netto, Marilza Ribeiro, Santiago Vilela Marques, Tereza Albues, Antônio Carlos Sodré, Eduardo Mahon, Jackson Wesley Valério, Débora Goldember, Paulo Sesar Pimentel, Luiz Carlos Ribeiro, Luciene Carvalho, Aclyse Mattos, Alexandre Tarelou, Habel dy Anjos, Odenir Pinto de Oliveira, entre os romancistas, poetas, contistas e cronistas.

Na área da História, em Ciências Humanas, estão em destaque, além de Thomaz de Aquino Lisbôa, Paulo Pitaluga e Anna Maria Ribeiro Fernandes Moreira da Costa. Na de Geografia aparece Ivane Piaia e na de Educação Rosemar Coenga.



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COMENTÁRIOS
3 Comentário(s).

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correa junior  26.04.15 17h43
Quero aqui parabenizar o casal,e dizer que chega ser absurdo mesmo a educação de Mato Grosso, tanto que estão mais preocupados com politicagem do que com Educação. Eu conheço de perto essa realidade as escolas sem biblioteca e num passado recente ai um governo comprou uns tablets amarelinhos, foram todos roubados, porem compra de tablet sai na midia, da entrevista,não resolve e não ajuda pois os ditos não chegam nas mãos das crianças. Lamentável.
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Laercio Miranda  25.04.15 17h20
Acredito que uma atividade que pode ser considerada tão nobre quanto a de professor, é a de editor. Ser editor não é só dar um formato e mandar rodar o livro na gráfica. Ramon e Elaine, da Tanta Tinta, fazem com paixão um trabalho de pesquisa, estímulo, acompanhamento e acabamento artístico, para que suas publicações sejam primorosas. Só tenho que parabeniza-los pelas pérolas com que tem nos presenteado. Fico triste quando vejo ser dada tanta ênfase em uma educação que prioriza a tecnologia. A tecnologia é importante, mas nada substitui o enriquecimento de espírito e a reflexão provocada por bons livros.
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Romulo Carvalho Netto  25.04.15 14h46
Conheço de perto a dura luta da Carlini & Caniato & Editorial para continuar publicando seus maravilhosos títulos sem corromper ou ser corrompida. Infelizmente os secretários municipais e estadual de Educação se fazem de cego e propositadamente deixam de adquirir livros de autores mato-grossenses, natos ou quem no Estado decidiram viver e produzir. Para esses ilustres senhores um livro não passa de folhas ajuntadas que só merecem um destino: o lixo. A mente poluída deles não permite discernir o quanto importante é o livro na formação do ser humano. Já que não se olha pela cultura do Estado, o governador deveria dar um puxão de orelha nesses pseudos gestores. Romulo Nétto é escritor e jornalista
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