12.03.2012 | 15h:18

CRISE NA IGREJA


Padre se ausenta em busca de conselho espiritual e jurídico

Padre Paulo Ricardo de Azevedo emitiu comunicado ontem (11) e explica razões

Divulgação

Padre Paulo solicitou afastamento ao arcebispo dom Milton (dest.); sacerdote alega que foi mal interpretado

Em carta aberta publicada na tarde deste domingo (11), em seu blog, o Padre Paulo Ricardo de Azevedo lamentou a interpretação dada ao seu discurso, durante a 26ª edição do “Vinde e Vede”, no mês passado, em Cuiabá, e informou que irá se ausentar da Capital, durante esta semana. De acordo com o padre, o afastamento será dedicado à procura de "conselho espiritual" e "assistência jurídica".

Durante sua pregação no “Vinde e Vede” deste ano, o padre insinuou que o “espírito mundano” entrou na Igreja, por causa de colegas que não manteriam uma postura adequada.

Na última semana, o arcebispo de Cuiabá, dom Milton Santos, recebeu – em uma carta aberta com 27 signatários – um pedido de afastamento das funções do padre Paulo Ricardo. Os colegas alegam que o sacerdote estaria ofendendo e denegrindo a imagem dos párocos locais, por meio de sermões austeros e ofensivos, e insinuam que o colega estaria sofrendo de “insanidade mental” – clique aqui.

O padre Paulo negou, em seu comunicado, que o clero da Capital tenha se revoltado contra o seu discurso. Apesar de não citar nomes, ele afirma que, dos 27 signatários que pediram pelo seu afastamento, cinco são padres diocesanos incardinados em Cuiabá, cinco em outras circunscrições e os demais são religiosos.

Mais uma vez citando a crise vivenciada pelo clero, o padre afirmou que acredita que os fiéis católicos precisam ser alertados da luta constante que ocorre dentro da Igreja e que o escândalo do silêncio é pior do que a “admissão dolorosa” do problema.

O padre agradeceu ao apoio recebido por meio de ligações e de manifestações de fiéis em seu blog e pediu para que a sua opção pelo silêncio seja respeitada. Ele reafirmou a vontade pela “restauração da Justiça” e que irá procurar meio pastorais e também jurídicos, mas não acredita que a internet seja o palco apropriado para essa reparação.

Estopim da crise

O padre ressaltou, em seu comunicado, que o contexto de sua pregação precisa ser analisado, antes de julgarem suas palavras. Ele afirmou que não pretendia afirmar que a crise do clero atinja todos os padres, que se inclui entre os sacerdotes pecadores e que a finalidade daquelas palavras foi pedir aos fiéis por mais orações pela santificação dos sacerdotes.

No discurso, que foi difundido pela Internet, por meio de redes sociais e pelo site de hospedagem de vídeos “Youtube”, ele reclamou que “os padres querem ser iguais a todo mundo”.

“Quantos padres foram tomados completamente pelo espírito do mundão. Tá entendendo? Caíram no mundão, no mundo (...) Quer dizer que estão no mundão, tão na festança, tão no pecado. Não querem mais ser padres. Querem ser boy. Querem tar (sic) na moda. Tá entendendo? Querem ser iguais a todo mundo. Padre que quer ser igual ao mundo!”, afirmou.

O padre Paulo ressaltou, ainda, o fato de que muitos colegas não usam a batina permanentemente. Ele é conhecido por sempre ser visto em público trajando a vestimenta.

“Vejam: Nossa Senhora está dizendo que a Igreja tá sofrendo um calvário. E por quê? Porque entrou dentro da Igreja o espírito do mundo. E entrou como? Entrou por causa de padre! Por causa de padre que não é padre! Por causa de padre que não honra a batina porque, aliás, nem usa a batina!”, bradou o padre, em seu discurso.

Os signatários da carta aberta contra o padre Paulo, protocolada junto à Mitra Arquidiocesana e à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reclamam que a afirmação do padre é leviana e ofende diretamente aos padres de Cuiabá. Eles afirmam ainda o sacerdote se coloca no lugar de Deus e julga centenas de religiosos que dedicam sua vida à Igreja para espalhar a discórdia entre os fiéis.

“Colocando-se talvez no lugar de Deus, Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior julga e condena inúmeros irmãos no sacerdócio que levam vida ilibada e que são reconhecidamente compromissados com o Evangelho, com a Igreja e com o Reino de Deus. Ele espalha discórdia e divisões desnecessárias e prejudiciais ao crescimento espiritual do clero e do povo de Deus”, diz trecho do documento.

No documento, os religiosos denunciam o envolvimento de padre Paulo com campanhas político-eleitorais em 2010 – chegando a ser censurado pelo arcebispo dom Milton Santos – e pedem o afastamento imediato do colega de suas funções de magistério que exerce no Seminário Dom Aquino Corrêa (Sedac), em Várzea Grande.

Além disso, pedem também que o sacerdote seja proibido de exercer funções de formação religiosa que exerce na Arquidiocese e dos meios de comunicação social, porque, para eles, o padre Paulo “não tem saúde mental para ser formador de futuros presbíteros”.

Apoio ao padre

Fiéis adeptos à ideologia do padre Paulo Ricardo lançaram, na internet, uma campanha de apoio ao religioso. Uma petição pública eletrônica foi criada no sentido de apoiar a conduta do padre e já possui mais de 13,2 mil assinaturas – clique aqui.

Cerca de 300 fiéis se reuniram Igreja do Bom Despacho, na tarde da última quinta-feira (8), para fazer uma moção de oração em apoio ao sacerdote.

Outro lado

O MidiaNews tentou contato com o Arcebispo Metropolitano de Cuiabá, dom Milton Santos, mas ele não atendeu às ligações feitas ao seu celular.

Confira abaixo a íntegra do comunicado feito pelo padre Paulo Ricardo a respeito da Carta Aberta protocolada contra ele:

“Queridos irmãos,

Após as recentes manifestações ao redor de minha pregação no dia 20 de fevereiro de 2012, durante o 26º Vinde e Vede, pedi ao senhor Arcebispo para me ausentar de Cuiabá durante esta semana e procurar conselho espiritual e assistência jurídica.

Agora que o senhor Arcebispo se manifestou super partes no sentido de paz e de reconciliação, sinto o dever de comunicar o seguinte:

1) Lamento que as minhas palavras tenham sido mal interpretadas;

2) Penso que seja esclarecedor que as pessoas levem em consideração as circunstâncias da pregação. Aquele dia do encontro era voltado para a espiritualidade do Movimento Sacerdotal Mariano, fundado em 1972 pelo Padre Stefano Gobbi. O áudio de toda a pregação foi postado na internet, link aqui, e nele se pode notar o contexto em que aquelas palavras foram pronunciadas. Note-se, por exemplo, que me incluo sempre entre os padres pecadores e que a finalidade daquelas palavras era levar as pessoas à oração pela santificação dos sacerdotes. É sabido que um dos principais carismas do Movimento Sacerdotal Mariano é a oração pela santificação dos sacerdotes;

3) Sem querer acrescentar uma ferida àquelas já abertas, mas também sem dissimular minha posição, devo atestar que não me reconheço na imagem que foi apresentada de minha pessoa, de meu pensamento e de meu ministério;

4) Reconheço que as pessoas têm o direito de questionar a prudência e a oportunidade de uma pregação como aquela. Não tenho pretensão de estar sempre certo em minhas decisões práticas. Mas continua sendo minha opinião, aberta ao questionamento e à revisão, que seja uma verdadeira caridade para com os fiéis adverti-los para o fato de que a Igreja luta atualmente contra uma crise do clero. Sou da posição que, neste caso, o escândalo do silêncio seria muito maior do que a sincera e honesta admissão do problema, por doloroso que isto seja;

5) Que esta crise do clero não atinja todos os padres, com ou sem batina, me parecia uma coisa tão óbvia, que não achei necessário comentar. Mas prometo ser mais cauteloso no futuro. É evidente que eu não tinha pretensão de expor naquela breve palestra toda minha visão a repeito do atual estado do clero católico. Creio que os numerosos fiéis que me acompanharam nestes 20 anos de ministério viram em mim um padre que, reconhecendo os próprios pecados, procura amar a Igreja em geral e o sacerdócio em particular. Foi à formação de irmãos no sacerdócio que dediquei as melhores energias de minha vida;

6) É importante também ressaltar que de minha parte não pretendo divulgar os nomes dos 27 signatários da carta. Cumpre porém ressaltar o seguinte: não é verdade que o clero incardinado em Cuiabá se revoltou em massa contra minhas posições. Para uma mais exata avaliação da realidade divulgo apenas que são 5 padres diocesanos incardinados em Cuiabá, 5 em outras circunscrições e 17 religiosos;

7) Quanto à reconciliação e à restauração da justiça, serão dados passos pastorais e, se necessário, jurídicos. Mas não creio que a internet seja o lugar apropriado para este caminho de reparação. Sei que nos tempos do Big Brother, do Twitter e do Facebook minha visão pode parecer antiquada. Peço, no entanto, que compreendam minha opção de silêncio, ao menos até a solução final que, uma vez alcançada, comunicarei aos amigos;

8) Esta comunicação não seria completa sem que terminasse num agradecimento de coração pelos inúmeros e variados sinais de amizade, confiança e solidariedade que recebi. A todos um sincero e comovido “Deus lhes pague!”

Nestes dias, o nosso site recebeu um número imenso de mensagens oferecendo apoio de toda espécie: orações, jejuns, sacrifícios e provas sinceras de amor e estima. Meu celular não parava de tocar e de receber SMS. Foram literalmente milhares de fiéis, centenas de sacerdotes, alguns bispos e amigos de várias proveniências (um bispo anglicano, vários pastores evangélicos, cristãos em geral e até agnósticos!).

Uma palavra especial para os inúmeros blogs e páginas da internet que manifestaram o seu apoio. Com toda sinceridade não sei como expressar o peso da gratidão a não ser reconhecendo que lhes sou muito obrigado.

Agradeço ao meu Arcebispo pela paciência e o carinho paterno manifestado a ambas as partes envolvidas neste triste episódio.

Quanto a meus pais e minha família... não tenho palavras. No céu vocês verão o meu coração.

Espero poder corresponder, com a graça de Deus, a toda esta expectativa. Asseguro que todos estão muito presentes em minha Eucaristia diária. Continuemos unidos na gratidão a Deus, à Virgem Maria, aos anjos e aos santos de nossa devoção. Continuem a interceder por esta nossa luta e que Deus abençoe a todos.

Várzea Grande, 11 de março de 2012.

Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior"


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