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De acordo com a especialista uma fobia pode estar associada a diversos fatores
Situações de constrangimento e de falta de compreensão fazem parte da vida de quem tem algum tipo de fobia. No mundo existem centenas de formas de transtornos fóbicos, mas a gravidades dos casos pode passar despercebida por quem não conhece o assunto. Em situações extremas, as fobias podem levar a pessoa ao isolamento e à depressão.
“Todo mundo na sala riu e eu estava lá tremendo e chorando”, conta o estudante de engenharia civil Renan Campos, de 24 anos, ao lembrar de um dos piores casos de medo da sua vida.
Renan sofre de fobia de borboletas (motefobia) e viveu várias situações de desespero ao se deparar com o animal inofensivo, mas que para ele é motivo de muito pavor.
Apesar de não se recordar quando foi que descobriu que tinha medo de borboletas, desde criança sempre viveu situações de desespero.
Uma das piores situações aconteceu no segundo ano do Ensino Médio.
“Eu estava na sala, numa aula de física, e aí entrou uma borboleta enorme. Todo mundo na sala riu e eu estava lá tremendo e chorando. Eu falei: 'professor, tenho que sair da sala se não eu vou morrer'. Aí ele disse que não, mas eu saí mesmo assim”, recorda.
Antes de morar em Cuiabá, Renan Campos vivia em Sorriso (420 km ao Norte da Capital). Lá costuma visitar frequentemente a fazenda da família, mas com certas restrições.
“Evitava ir para o rio por causa das borboletas. Dentro da casa da fazenda, quando tinha, era bem ruim. Era difícil”.
Para ele, qualquer contato com alguma borboleta é uma tortura.
“Ficar perto é impossível. Aí começa a faltar ar, parece que o coração vai sair [pela boca], que vou morrer a qualquer momento”, explica.
A engenheira florestal Jessica Trevizoli, de 25 anos, também já passou por situações desesperadoras por causa de sua fobia. Ela sofre de coulrofobia, que é quando a pessoa tem medo de palhaço.
“Na verdade não fica só nos palhaços, porque tem também os mímicos que pintam o rosto”, diz.
A engenheira lembra que a pior situação que viveu foi quando um artista de rua resolveu interagir com ela.
“Ele começou a me seguir, me imitar. E como ele começou a me seguir, passei a andar mais rápido porque eu não queria que ele me seguisse. Ele estava de palhaço e eu em pânico”, lembrou.
Jéssica diz que não vai ao circo de forma alguma, mas afirma que até enfrenta algumas festas de aniversário, mesmo sabendo que vai encontrar algum palhaço.
“Toda vez que vejo algum palhaço, parece que ele vai fazer mal para mim. Não sei explicar. Geralmente, quando vejo, passo longe, fico nervosa. Muitas pessoas não acreditam, dão risada, acham que é brincadeira. Não é uma coisa que você controla”.
Casos assim chegam até o consultório da médica psiquiatra Maria Fernanda Costa Marques Carvalho Pereira. Ela explica que a fobia é caracterizada como um medo descontrolado.
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Motefobia é o medo irracional de borboletas
“É um medo persistente e irracional a algum objeto específico de uma atividade ou situação considerada não perigosa. Às vezes uma pessoa acha que é uma coisa boba, mas não é”, explicou.
A psiquiatra analisa que falta compreensão das pessoas para lidar com quem tem algum tipo de fobia.
“As pessoas precisam aprender que uma fobia é um sofrimento para quem tem. E é um sofrimento desproporcional. E quem tem não gosta de sentir isso”, pontua.
A médica ainda ressalta a diferença entre alguém que tem medo de alguma coisa e uma pessoa fóbica.
“Uma pessoa que tem medo de altura consegue ir na casa de alguém no vigésimo andar, ir na sacada. Ela tem medo. Mas uma pessoa fóbica não consegue. Ou então, se ela vai, vai com muito sofrimento”, diferencia.
Implicações
Se não tratados, alguns casos de fobia podem trazer prejuízos mais severos para a vida da pessoa.
Em algumas situações, a pessoa pode desenvolver um quadro de depressão, explica a psiquiatra.
“Porque a pessoa começa a ter esse medo irracional e o grande problema é ela começar a se isolar. E aí ela pode começar a desenvolver sintomas depressivos”, alertou.
Além de prejudicar a saúde, uma fobia também pode acarretar em prejuízos para a vida acadêmica e profissional.
“Uma pessoa pode reprovar na faculdade porque não consegue fazer uma prova oral, porque não consegue se expressar com um professor olhando”, diz.
“Outras não conseguem dirigir, não conseguem entrar no elevador e sobem até dez andares de escada", completa.
Como lidar
Um dos dilemas vivenciados por quem sofre de algum tipo de fobia é forma como as pessoas tratam o problema. Em muitas situações, parentes e amigos acham que estão ajudando ao querer obrigar uma pessoa a enfrentar seu maior medo.
Jessica Trevisole conta que é comum alguém convidá-la para chegar perto de um palhaço.
“A pessoa me chama para chegar perto, eu fico irritada. Acabo brigando por causa disso. Eu não quero chegar perto do palhaço. Tem gente que acha que é brincadeira”, diz.
A psiquiatra Maria Fernanda Carvalho explica que, quando é obrigada a enfrentar o medo, a pessoa pode ter várias reações no corpo.
“Por exemplo: numa faculdade, se ela vai ter que falar em público, na noite anterior ela não dorme, fica com dor de barriga... Muitas vezes tem náusea, vomita, tem dor de cabeça, sudorese. Então a pessoa começa a ter sintomas físicos e emocionais”, justificou.
Segundo Maria Fernanda, uma das formas de lidar com um caso de fobia é ir superando o medo aos poucos.
Nestes casos, a família pode tanto contribuir quando atrapalhar o processo.
“A família, muitas vezes, acha que blindando esse paciente vai ajudá-lo. Só que você vai ajudar a perpetuação da patologia. A família tem que tentar fazer com que o paciente tente [superar a fobia] aos poucos”, sugeriu.
No entanto, a especialista alerta que a pessoa precisa ter ciência do que está acontecendo em sua vida.
“As pessoas pensam muito nisso: 'Eu não tenho motivo para ter isso, a minha vida é boa, eu não tenho nenhum problema'. E elas vão deixando passar e aquilo vai aumentando e fica muito mais difícil resolver a situação”, destacou.
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Coulrofobia é o medo irracional de palhaços
Como surge uma fobia
Apesar dos diagnósticos de transtorno de ansiedade terem aumentado nos últimos anos, os casos de fobia afetam pequena parcela da população.
A psiquiatra explica que existem vários fatores que podem levar uma pessoa a desenvolver fobia, entre eles a pré-disposição genética, o meio em que cresce ou alguma situação traumática.
“Você pode instigar 10 pessoas [com algum medo]. Uma parte pode ter fobia, outra não. A fobia é um transtorno ansioso e ansiedade tem um componente genético. Então, geralmente, a pessoa desenvolve quando tem um pai, uma mãe, uma avó ansiosa”, justificou.
Além disso, alguma situação de conflito também pode desencadear um transtorno fóbico.
“Às vezes, acontece um evento traumático que a pessoa consegue identificar. Vamos supor: a pessoa começou a ter medo de avião depois que passou por uma turbulência grave. Ficou com medo de dirigir depois que bateu o carro. Ficou com fobia de falar em público depois que engasgou numa apresentação”, exemplificou.
De acordo com a especialista, os casos mais comuns acontecem em mulheres, adolescentes e adultas. Ela destaca que as fobias sociais, de altura, e de animais são as mais comuns.
Tecnologia
Na era da tecnologia, as relações sociais sofrem alterações e as fobias relacionadas a esse tópico também ganham uma atenção especial.
A médica explica que nos casos de fobias sociais as tecnologias podem tanto ajudar quanto agravar ainda mais os casos.
“A tecnologia piora para a fobia no sentido de perpetuá-la. Se a pessoa tem uma fobia de falar em público, ou de conhecer alguém, ou de se relacionar, hoje em dia fica no celular. Ao invés de se tratar, ir a um psiquiatra ou procurar uma terapia para poder se relacionar com os outros, não, ela fica em casa e faz isso pela internet”, destacou.
Por outro lado, a tecnologia é benéfica para facilitar o acesso à informação sobre o transtorno.
“Isso a tecnologia ajuda muito, no sentido das pessoas entenderem o que acontece, entender que existe tratamento e que ele pode ter uma vida muito mais tranquila sem sofrimento”, frisou.
Tratamento
Em alguns casos de fobia, a pessoa consegue viver com o transtorno e ter uma vida considerada normal, mas, para algumas situações, é necessário buscar ajuda.
A psiquiatra explica que a forma mais comum de tratamento utilizada é a psicoterapia.
“O que tem mostrado mais resultados é a terapia cognitiva comportamental, que são as técnicas de exposição”, disse.
No caso de uma fobia de voar de avião, por exemplo, a especialista recomenda um caminho de pequenas aproximações.
“Então a pessoa começa a ler sobre avião, começa a ir no aeroporto, entrar numa aeronave que não esteja voando, ver vídeos...”, exemplificou.
Para os casos mais graves, ainda é possível recorrer a medicamentos que vão reduzir o nível de ansiedade.
“Nós temos medicações que podem melhorar os sintomas a longo prazo, que geralmente são os antidepressivos”, explicou.
Mas a especialista alerta que nos casos de tratamento médico, o acompanhamento precisa ser prolongado.
“No mínimo de um a dois anos. Não adianta a pessoa querer ir uma ou duas vezes no psicólogo ou numa psiquiatra e achar que isso vai resolver. Então precisa fazer um tratamento contínuo para resolver aquele quadro”, finalizou.
Veja 10 tipos de fobias mais comuns no mundo:
Acrofobia - É o medo de lugares altos. Quando a pessoa que tem essa fobia está em lugares altos, ela sente necessidade imediata de sair do lugar. Além dos sintomas comuns a outras fobias, os acrofóbicos sentem vertigem e buscam se agarrar em um local que consideram seguro, pois sentem-se incapazes de confiar no próprio equilíbrio. Estima-se que a acrofobia atinja de 2% a 5% da população mundial.
Aerofobia - É uma das fobias mais comuns. Atinge cerca de um terço da população mundial. A fobia de voar não se manifesta apenas durante o voo. Seus sintomas geralmente se iniciam a partir do momento em que a pessoa percebe a necessidade de voar, seja para participar de eventos sociais ou ainda por lazer. Quando se manifesta com antecedência pode levar a insônia, irritabilidade, nervosismo ou ainda a um ataque de pânico.
Claustrofobia - Sentir-se ser comprimido pelo ambiente – esta é a sensação que os claustrofóbicos tem regularmente. Quando estão em locais fechados, como elevadores, cômodos pequenos ou ainda em meio a uma multidão, pessoas com esta fobia sentem como se o ambiente estivesse se fechando ainda mais em seu entorno, ficando apavoradas com a situação.
Entomofobia - A fobia a insetos e artrópodes (animais invertebrados) pode se manifestar de maneira ampla, com o medo de todos os insetos ou ainda de uma forma mais específica, sendo despertada somente por alguns insetos. A reação exagerada pessoas quando se deparam com insetos é um dos principais sinais da entomofobia, que pode chegar a extremos, como um ataque de pânico.
Glossofobia - É comum para uma parte significativa da população se sentir nervoso ao falar em público, porém, para quem sofre de glossofobia, os sintomas vão além do nervosismo. Ter consciência de que terá que falar em publico já desperta, nessa pessoa, sintomas de ansiedade.
A frequência cardíaca e pressão arterial aumentam, ocorre a dilatação das pupilas, além da tensão na voz, que pode ser percebida tremula. Em alguns casos mais graves de glossofobia, a pessoa simplesmente se sente paralisada e não consegue concretizar a fala.
Hematofobia - A aversão que os hematofóbicos sentem ao ver sangue pode se manifestar de muitas maneiras, desde enjoos e tonturas até desmaios. Não é preciso que o sangue esteja próximo a quem tem a fobia, para que a sensação de pânico seja despertada: o simples fato de ver a sangue em imagens ou vídeos já é capaz de iniciar os sintomas.
Aquafobia - Também conhecida como hidrofobia, o medo de água normalmente se manifesta quando o indivíduo se depara com piscinas, rios, lagos e mar. Mas em casos mais extremos, a fobia de água pode ocorrer até mesmo quando estão em banheiras ou no chuveiro. A aquafobia desperta no indivíduo um medo extremo de se afogar.
Nictofobia - Mais comum em crianças, o medo excessivo do escuro ou da noite ocorre de forma mais rara em adultos. Nictofóbicos, quando estão em ambientes escuros, tendem a imaginar o que não podem ver, como um simples barulho, uma sombra ou um perigo iminente. A sensação destes indivíduos é de um pesadelo diário quando o sol se põe.
Aicmofobia - O medo descontrolado de agulhas, injeções e outros objetos cortantes é o que caracteriza a aicmofobia. Para os indivíduos que sofrem com essa fobia, objetos cortantes são uma ameaça, assim, tirar sangue ou tomar um injeção. O pânico nessas situações pode resultar em desmaios.
Brontofobia - O medo excessivo de trovões e raios é chamado de brontofobia. Para quem sofre com esta fobia, uma simples tempestade pode se tornar um pesadelo inimaginável.
Comentários (3)
A Dra. Maria Fernanda é uma profissional extremamente estudiosa e dedicada, uma pessoa excepcional !
enviada por: Jane Esteves Data: 12/04/2017 08:08:49
Esclarecedora e pontual a matéria. Parabens ao midianews por publicar artigos de interesse relevante e à dra. Maria Fernanda que é profissional BRILHANTE!.
enviada por: Gizeli de F Z Rondon Data: 05/03/2017 19:07:20
Bastante explicativa está entrevista . Informa com bastante nitidez esta doença que muitas pessoas desconhecem. Parabéns pela matéria
enviada por: Nailur Carvalho Data: 05/03/2017 12:12:42