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Fachada da Catedral BasÃlica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá
Atração para centenas de cuiabanos e de “paus-rodados” todos os dias, a exuberante Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá entrou em seu jubileu de ouro. Já são 50 anos desde a inauguração da Igreja, após a demolição da antiga, feita ainda em palha e pau a pique no século XVIII.
Inaugurada em 24 de maio de 1973, a nova estrutura em estilo moderno, projetada pelo arquiteto sacro paulista, Benedito Calixto de Jesus, dividiu a opinião dos fiéis na época.
De um lado estava todo o simbolismo histórico da antiga igreja e, do outro, o risco iminente de um desabamento pela deterioração causada pelo tempo nas paredes rachadas da capela.
Segundo o padre Deusdédit de Almeida, cura da Catedral, a demolição da antiga estrutura era inevitável e foi decidida por meio de um conselho constituído em 1958. A comissão pró-construção foi presidida pelo advogado Luís-Philippe Pereira Leite, membro do Instituto Histórico de Mato Grosso e do Conselho Pastoral da Catedral.
“A [avenida] Getúlio Vargas era muito movimentada e cada carro e caminhão que passavam pela via tremia toda a igreja, as paredes de adobe socado estavam todas rachadas. Fizeram sondagens, vieram engenheiros e técnicos, mas era um risco, não tinha como continuar”, diz.
A demolição ganhou por 12 votos a favor contra sete dos que preferiam fazer a manutenção da antiga construção. Ainda em 1958, a parte de trás da Catedral foi demolida, começando as obras pela sacristia e os quatro andares superiores. Ainda levaria dez anos até que a antiga estrutura viesse totalmente abaixo.
De acordo com o memorialista Francisco das Chagas, a demolição total da antiga catedral, implodida com dinamite em 1968, causou grande comoção em boa parte dos fiéis cuiabanos.
“Tem quem ainda hoje ache inadmissível um ato como esse, de apagar a história com a demolição da Catedral. Causou a revolta de historiadores e de cuiabanos antigos que ainda vivem e frequentaram aqui. Mas a Catedral velha estava completamente comprometida”, diz Chagas.
Para o padre Deusdédit, a Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá foi se “metamorfoseando com o tempo a cada uma das transformações que culminaram nessa obra majestosa que temos hoje”, disse.
“A Catedral hoje é um monumento artístico nacional, não só para Cuiabá ou Mato Grosso, mas para Brasil inteiro. Está entre os templos mais belos do País, é uma atração turística para o Mundo inteiro”, disse o cura.
O religioso afirma que a nova Catedral atrai não só “os piedosos”, mas também “os curiosos”, ou seja, a nova Catedral atrai tanto pela fé quanto por sua beleza.
“É um cartão de visitas e está emoldurado entre o Palácio da Instrução e as duas velhas praças. Embeleza e engala o nosso Centro Histórico. É um monumento de fé, de oração e artístico. Nesse sentido nós não perdemos nada, ganhamos”, avalia.
“É uma passagem obrigatória. Sempre digo que a Catedral é um pronto-socorro espiritual em que todo mundo busca algum tipo de conforto, uma confissão ou missa. É fila de pessoas para atender”.
Reprodução
Fachada da Catedral demolida em 1968 para a construção da nova estrutura
São pelo menos 50 confissões por dia, e centenas de pessoas nas três missas diárias na Matriz. Aos domingos, são quatro celebrações.
O maior desafio hoje, para o padre, é a falta de estacionamento devido ao “esvaziamento do Centro”. “Ninguém mais mora na região. O nosso público é rotativo e flutuante, não são de moradores daqui. Eles vêm de fora”, disse.
Novo capítulo
Mais um capítulo na história de transformações da Basílica está por ser escrito. Dessa vez, um projeto do Governo do Estado tem investimento estimado em R$ 1,7 milhão para a reforma elétrica e de climatização.
A expectativa, segundo o cura, é que a promessa saia do papel e atraia ainda mais fiéis. “Assinamos um protocolo de intenção de que o governo vai ajudar na eletrificação. Nesses 50 anos nunca foi feita uma reforma elétrica ampla. Será uma reforma geral. Qualquer casa precisa de reforma elétrica".
Curiosidades históricas
Fundada pelo capitão-mor Jacinto Barbosa Lopes, no ano de 1722, a primeira construção erguida no terreno era modesta, em estilo barroco, tendo como matéria prima principal argila, madeira e palha. À época ela contava com apenas uma torre.
A estrutura de hoje não conserva sequer uma parte da construção da época, e levou mais de 10 anos para ser concluída, contando com a ajuda de fiéis católicos do Mundo todo.
O arcebispo construtor da nova Catedral, Dom Orlando Chaves, assim que assumiu suas funções eclesiásticas em Cuiabá, deu início ao projeto e percorreu uma longa trajetória para angariar fundos para a construção.
A obra foi interrompida de 1963 a 1967, durante a realização do Concílio Vaticano II e o arcebispo aproveitou o momento para divulgar o projeto. “Dom Orlando levou a planta e sensibilizaou o Mundo. Ele conseguiu muitas adesões, apoio e dinheiro. Escrevia pilhas de cartas pedindo ajuda e conseguiu”, relata Deusdédit.
Paula Shaira/MidiaNews
O padre Deusdédit Monge de Almeida
Por pouco a primeira construção não foi tombada como Patrimônio Histórico, quando o bispo Dom Francisco de Aquino Corrêa tentou, em 1928, encaixar a antiga Catedral no programa do Instituto Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan).
“Tinha sido construída a segunda torre, descaracterizando completamente a fachada da frente da primeira construção, e foi por essa razão que não tinha mais como fazer o tombamento para restaurar”, conta o cura.
A arte principal do altar foi feita em pastilhas pelo polonês Arystarch Kaszkurewicz e contou com a ajuda de fiéis e estudantes para colá-las. O artista não tinha as mãos e registros fotográficos o mostram pendurado trabalhando em uma das torres.
A imagem do Senhor Bom Jesus, padroeiro de Cuiabá, chegou por rio em 1929. Feito em madeira, reza a lenda que ele tem cabelos doados por uma jovem cuiabana que fez uma promessa para se curar de uma doença e, quando seu milagre foi concedido, doou os cabelos.
Outra dentre as tantas lendas é a das lágrimas que caíram da imagem em meio à Rusga Cuiabana, movimento de revolta do período regencial brasileiro entre nativos e portugueses, que resultou em um massacre.
Dentre os artefatos da primeira capela foram mantidas apenas as imagens mais significativas, como a do Senhor Bom Jesus, a cruz central do altar principal e a imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. As demais que sobreviveram ao tempo estão no Museu de Arte Sacra.
Há nove personalidades sepultadas nas criptas da Catedral, que durante a demolição foram transladados para o Santuário Eucarístico Nossa Senhora do Bom Despacho. Os restos mortais ficaram lá até a obra ser concluída, depois voltaram.
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