04.10.2011 | 16h:52

QUEIMADOS VIVOS


Lojista diz estar arrependido de participar de chacina

Julgamento de envolvidos no crime, ocorrido em 1990, começou às 9h, na cidade de Matupá

O primeiro réu a ser ouvido, nesta terça-feira (4), no julgamento da Chacina de Matupá, foi Valdemir Pereira Bueno. Ele é um dos acusados de atear fogo aos assaltantes Osvaldo José Bachmann e dos irmãos Arci e Ivanir Garcia dos Santos, em 1990.

Os três foram queimados vivos, após assaltarem uma residência e fazerem uma família de refém por mais de 15 horas, em Matupá (695 km ao Norte de Cuiabá).

Antes de iniciar o interrogatório, o juiz Tiago Souza Nogueira de Abreu, que presidente o Tribunal do Júri, informou ao réu sobre o seu direito de permanecer calado.

Ele declinou do direito e contou que tinha uma padaria na época dos fatos e que o grupo tinha assaltado seu estabelecimento. Ele foi amarrado com cordas e só foi libertado horas depois, quando um cliente chegou para comprar pão.

“Depois disso, eu ouvi pelo rádio que três homens tinham sido presos e fui ao local para saber se eram os mesmo que me assaltaram. Achei que estivessem mortos quando cheguei e recebi um galão, que não sei dizer se era álcool ou gasolina, e joguei neles. Não sei quem ‘tacou’ fogo. Estou arrependido do que fiz, não sei explicar o que senti naquela hora”, revelou o acusado.

O Ministério Público questionou se o acusado tinha confessado o crime como na oportunidade. Ele disse que sim, como ocorreu em todas as fases do processo. O magistrado perguntou se o acusado respondeu algum outro processo criminal nesse período, e a resposta foi negativa. Em seguida, foi liberado.

O acusado Santo Caione disse que ficou sabendo do seqüestro quando estava em casa. “Fiquei sabendo que os assaltantes seriam embarcados em um avião. Quando cheguei ao local, vi que eles já estavam queimando“, sustentou.

A promotora questionou sobre um grito nas gravações: “Quem gritou: É a família Caione dando força?”, questionou a promotora Daniele Crema da Rocha.

A promotora também questionou o fato de testemunhas atribuírem a ele a prática de ter amarrado um cinto em volta da perna de uma das vítimas e a arrastado.

O acusado disse que foram pessoas que ele deixava de atender em seu mercado. “Tinha um monte de gente que eu não vendia sem dinheiro pra eles. Eles que disseram que eu fiz isso“, disse o acusado.

O réu, de 62 anos, respondeu emocionado quando seu advogado perguntou sobre o tratamento que teve de um delegado que apurou os fatos à época. “Ele me chamou de gaúcho, e eu não sou gaúcho”, disse.

O juiz Tiago Souza Nogueira passou, em seguida, ao período de debates entre a defesa e a acusação. Cada um terá duas horas para suas explanações.

Denúncia

No dia 9 de fevereiro de 1998, a Justiça determinou que 18 denunciados deviam ir a Júri Popular. Entre as pessoas denunciadas no processo estão: Valdemir Pereira Bueno, Alcindo Mayer, Elo Eidt, Luiz Alberto Donim, Faustino da Silva Rossi, Santo Caione, Arlindo Capitani, Mario Nicolau Schorr, Donizete Bento dos Santos, Mauro Pereira Bueno, Paulo César Turcatto, Elymd da Silva, Gerson Luiz Turcatto e Airton José de Andrade.

Além dos populares, sete policiais militares foram denunciados pelo MPE, por supostamente não terem agido adequadamente para conter a população.

Os sete PMs denunciados pelo Ministério Público Estadual são: Edyr Bispo Santos, Lúcio da Silva, Juraci Messias dos Santos, Valter Benedito Soares, Lucir Ramos da Silva, Ciro Lopes e Jacles George de Melo.

Caso o veredito do juiz seja pela condenação, cada pessoa poderá pegar de 12 a 30 anos de prisão, por homicídio qualificado. A pena está prevista no artigo 121 do Código Penal Brasileiro.

Tudo filmado

A principal prova do crime é uma fita que mostra os assaltantes sob a escolta da Polícia Militar. As cenas são chocantes e mostram os três feridos e amontoados em um campo, a população grita e vibra quando um dos moradores joga gasolina e ateia fogo nas vítimas.

Uma das vítimas, Osvaldo Bachmann, mesmo depois de ter tido o corpo queimado por 15 minutos, continua vivo e, agonizando, chega a pedir perdão a Deus e à sua mãe.

A população em volta ironiza e pergunta: "Esta quente aí?".  

Com informações do TJMT 


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