Cinco ossadas de homens, que foram executados nos últimos 6 meses na Grande Cuiabá e abandonados em pontos de "desova", aguardam identificação no setor de antropologia do Instituto Médico Legal (IML). Entre eles os 2 corpos carbonizados completamente devido ao uso de pneus jogados sobre eles pelos assassinos, na semana passada.
Neste caso, há indícios de que um grupo especializado em atender "crimes por encomenda" está ganhando espaço novamente na Grande Cuiabá. Neste tipo de execução, atear fogo aos corpos das vítimas tem como objetivo dificultar a identificação e, consequentemente, a autoria do crime, prática recorrente nas décadas de 80 e 90.
O surgimento de várias vítimas obrigou o Estado a implantar na época a Diretoria de Crimes de Autoria Não Identificada (Dicani). Outros foram identificados, como o assassinato dos sindicalistas Francisco Lima de Jesus, o "Chico", e Edmar Viana Pereira, o "Pio", no ano de 1994, onde as investigações apontavam o grupo de extermínio conhecido como "A Firma" como a executora.
Os 2 corpos foram localizados em um matagal, às margens da rodovia Mário Andreaza, parcialmente carbonizados, com vestígios de fumaça. Apontado como o mandante, o empresário do ramo de mineração, Roberto Nunes Rondon, o "Beto Rondon", não chegou a ser condenado. O caso ficou conhecido como "crime dos filãozeiros de Poconé".
As investigações dos últimos 2 corpos carbonizados tem como uma das hipóteses um possível acerto de contas com uma das vítimas que já tem indícios de identificação, informa o delegado Antônio Garcia de Matos, adjunto da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O corpo foi localizado na tarde de terça-feira (25), em uma região do Distrito da Guia, distante 8 km do centro da Capital e conhecida como ponto de "desova" de corpos.
A suspeita é que se trate de um empresário do ramo cerealista, que tinha 2 empresas em Várzea Grande. Ele desapareceu no sábado e um dos filhos, que mora em Brasília vem a Cuiabá esta semana para fornecer material genético para exame de DNA.
O empresário, segundo Garcia, tem uma extensa ficha criminal por estelionatos e usava o nome falso de Luciano Andrade de Souza, 40. Ele estaria começando os negócios em Mato Grosso, onde morava a pouco mais de um ano. Entre os suspeitos como mandantes da execução estão os supostos sócios do "empresário". Seriam 4 ou 5 pessoas, que também usam nomes falsos e que inclusive já teriam aplicado golpes junto com a vítima em outras regiões. Estas pessoas não foram localizadas, mas poderiam ter encomendado a morte de Luciano pelo fato de ele ter descoberto que estava sendo "lesado" e ter tomado medidas drásticas contra os sócios.
Em relação ao outro corpo de homem, localizado na manhã de domingo (23), 2 dias antes, na localidade do Engordador, em Várzea Grande, pode se tratar de um acompanhante do empresário. Sobre ele ainda não há pistas, apenas que em um dos dentes dianteiros superiores existe uma aplicação em ouro.
Luciano foi visto pela última vez na tarde de sábado, pela namorada, em Várzea Grande. Recebeu um telefonema de alguém conhecido e disse que voltava logo. Saiu na caminhonete S-10, cabine dupla, de cor branca, placa NJG-6603, e não foi mais visto. O veículo também desapareceu.
Garcia acha que os crimes estão ligados, porque apresentam muitas semelhanças. O fato dos corpos terem sido deixados em pontos distantes tem como objetivo a desvinculação entre eles, avalia. Os assassinos conheciam o local usado para deixar os corpos queimados sobre pneus, pois já são locais onde existem "cemitérios de pneus", o que facilita a ação dos criminosos.
Quanto à motivação do crime, existem suspeitas, mas quanto a autoria, não se pode ainda afirmar se o crime foi praticado por um grupo de extermínio, com ou sem participação de policiais ou ex-policiais, apesar das características, afirma o delegado.
Na opinião do titular da DHPP, Márcio Pieroni, a Polícia científica tem sido uma grande aliada na investigações de crimes que antes pareciam insolúveis e que ficavam impunes. Acredita que uma das formas de se coibir o aparecimento de "grupos de extermínio", que dominavam o cenário da violência e da impunidade no Estado entre as décadas de 80 e 90, é dar uma resposta rápida na elucidação dos crimes. "Com a identificação rápida e precisa dos autores pela Polícia, a Justiça tem como atuar e puni-los".
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