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21.04.2019 | 08h00 Tamanho do texto A- A+

Cuiabano é um dos maiores reboteiros da história da liga nacional

Shilton Alessanco dos Santos detém recorde na fase dos playoffs e é o 4º melhor ranking geral

Shilton Santos/Arquivo Pessoal

Cuiabano pegou 21 rebotes durante uma única partida da NBB e estabeleceu recorde na fase do

Cuiabano pegou 21 rebotes durante uma única partida da NBB e estabeleceu recorde na fase do "mata-mata" da liga nacional

BRUNA BARBOSA
DA REDAÇÃO

Da infância no Bairro CPA 3 para um dos primeiros lugares no ranking dos maiores reboteiros do Novo Basquete Brasil (NBB) da Caixa: Shilton Alessanco dos Santos, de 37 anos, é considerado o 4º jogador que mais pegou as bolas que ricocheteiam na cesta - em um único jogo - da história do campeonato.

 

O recorde aconteceu durante uma partida entre Joinville – onde ele jogava na época – contra o Limeira, em 2009. Atualmente Shilton joga pelo time de basquete do Corinthians, em São Paulo, cidade onde ele e a família residem.

 

Na ocasião, o cuiabano foi responsável por 21 dos rebotes, como são chamadas as jogadas em que a bola acerta o aro, mas não entra na cesta. Quando se fala em rebotes pegos na fase final do campeonato - os chamados "playoffs" - Shilton ocupa o primeiro lugar do ranking.

 

“Sou o maior reboteiro da história do playoff, que é o 'mata-mata' do campeonato de basquete. Peguei o maior número de rebotes em um jogo só. De todas as temporadas, ainda sou o maior recordista”, comemorou o atleta.

 

Sou o maior reboteiro da história do playoff, que é o 'mata-mata' do campeonato de basquete. Peguei o maior número de rebotes em um jogo só. De todas as temporadas, ainda sou o maior recordista

Apesar de estar próximo à idade da aposentadoria, Shilton ainda mantém resultados que impressionam nas quadras. Orgulhoso, o jogador contou que, há seis anos, nenhuma lesão o impediu de comparecer aos treinos de basquete.

 

“Venho me cuidando ainda mais. Quando ficamos mais velhos, é mais difícil. O atleta profissional está sujeito a dores e lesões, mas com essa temporada, já são seis anos sem nenhum problema significativo”, explicou.

 

A rotina de treinos de Shilton é bastante exigente. O jogador precisa treinar diariamente e costuma ter folgas apenas após as partidas do campeonato. 

 

Os treinamentos acontecem diariamente, durante seis horas, e são divididos entre o período matutino e vespertino.

 

“Geralmente são cinco dias de treino, um dia de jogo e uma folga, quando estamos em campeonato, mas isso não é regra. Normalmente, treino duas vezes por dia, cada uma delas com cerca de três horas de duração, entre quadra e academia”, contou.

 

Novo Basquete Brasil

 

Conforme, Shilton, o campeonato Novo Basquete Brasil (NBB) é um dos mais importantes do esporte, sendo comparado à Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol, por exemplo.

 

Durante a primeira fase, de classificação, os times jogam uns contra os outros duas vezes, sendo um jogo na "casa" de cada time. 

 

"É um campeonato normal,. Começamos jogando contra Franca e Bauru, aqui em São Paulo, depois tivemos dois jogos fora, em Mogi das Cruzes e São José do Rio Preto. Jogamos contra todos os adversários duas vezes", contou. 

 

Arquivo Pessoal

Shilton

Shilton contou ter sofrido preconceito por ter pele negra e traços indígenas

Na fase seguinte, chamada de "playoff", onde o jogador figura como recordistas, os times precisam vencer, ao menos, três partidas contra o adversário. Aqueles que perdem ficam de “férias”, já que são eliminados da disputa. 

 

Preconceito 

 

A pele negra, os traços indígenas e o fato de ter origem em uma cultura onde o basquete não é um esporte tradicional, como Cuiabá, Shilton contou ter sofrido todos os tipos de preconceito durante a carreira. 


Ele contou já ter sido chamado de índio de forma pejorativa, por exemplo, em alguns momentos.

 

"Muitos me chamam de 'índio' de forma carinhosa, mas muitos também já me chamaram assim de uma forma pejorativa quando cheguei aqui. Vim para São Paulo e sofri todos os tipos de preconceito, não só por conta da cor da minha pele, mas por vir de um lugar que não tem muita tradição esportiva. No basquete, então, é zero", contou. 

 

Apesar dos percalços, os mesmos fatos que dificultaram para a trajetória esportiva de Shilton, fazem com que ele se sinta uma "pessoa de sucesso". As críticas e o preconceito fizeram com que o atleta focasse ainda mais no caminho que precisaria seguir. 

 

"Nunca me importei. Sempre soube quem eu sou. Meus pais me deram uma educação muito boa. Sempre fui muito inteligente, não só academicamente falando, então me preocupava mais em trabalhar. Vivo do que amo, então sou uma pessoa de sucesso, um vencedor", avaliou. 

 

Shilton Santos/Arquivo Pessoal

SHILTON

Mathias tem 11 anos, 1,75m de altura e segue passos do pai

Infância pobre

 

Shilton contou que até os 13 anos morou com os pais, em uma casa no Bairro CPA 3, em Cuiabá, e teve uma infância sem muitas regalias ou ostentações. Como os pais trabalhavam durante o dia, a mãe, temendo que o filho fosse atraído por más companhias na região, resolveu colocá-lo para fazer uma atividade no contraturno escolar. 

 

Em 1995, o interesse inicial era colocá-lo para fazer aulas de natação na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). 

 

"Na época era o único lugar que tinha esporte para pobre, porque era de graça. Nós não tínhamos muito dinheiro e sou do CPA, que pode ser muito perigoso. Meus pais tinham medo de me deixar em meio a tentações, com pessoas que roubam ou matam. Infelizmente, isso é uma realidade na periferia", disse. 

 

Porém, ao chegar no local, a mãe dele foi informada de que não haviam mais vagas para as aulas de natação. Então, ela recebeu um conselho para colocá-lo nas aulas de basquetes, que também aconteciam na UFMT. 

 

"Falaram para ela me colocar no basquete por causa da minha altura. Então, de início, ela me matriculou em um esporte justamente para que eu não ficasse sozinho em casa. Apesar de nunca ter jogado antes, me apaixonei", contou. 

 

A partir do momento em que pisou na quadra da UFMT para a primeira aula, o destino de Shilton como atleta profissional começou a ser traçado. Nem mesmo os treinos constantes sob o sol da tarde em Cuiabá desanimaram o jovem jogador. 

 

"A quadra era descoberta e os treinos eram às 15h. Não preciso nem falar muito sobre como é o sol nesse horário. Mesmo assim não faltava um treino. Sempre chegava cedo", lembrou. 

 

Muita gente diz 'nossa, que sorte', mas acho que foi apenas uma oportunidade, porque eu já estava preparado. Em Cuiabá, mesmo com 13 anos, já jogava junto aos adultos. Então, sei que estava pronto. Não gosto muito da palavra sorte

Quando começou a jogar basquete, ainda na adolescência, o atleta participava de competições com o time da escolinha da UFMT. Alguns anos depois, Shilton teve a primeira grande conquista através do basquete: uma bolsa de estudos em um colégio particular da Capital, onde se destacou nas quadras. 

 

"Comecei a jogar na escolinha da UFMT, depois joguei no time do Colégio Notre Dame, onde me destaquei muito", lembrou. 

 

Mas, apesar disso, Shilton contou que naquela época dependia dos contatos do pai, que trabalhava na Transbrasil, companhia aérea que figurou como uma das maiores do país. 

 

Após o atleta manifestar o interesse de ser um atleta para os pais, ambos se comprometeram a auxiliarem durante a jornada.

 

Em um dos vôos, quando ia para um curso em São Paulo, o pai de Shilton sentou ao lado de um senhor e ambos começaram a conversar. 

 

"Ele [o pai] falou que iria correr atrás de uma oportunidade no basquete. Nesse vôo de Brasília para São Paulo, meu pai sentou ao lado de um senhor, trocaram telefones e se apresentaram. Esse senhor era nada mais nada menos que o presidente da Federação Paulista de Basquete", disse. 

 

"Não foi sorte" 

 

Após a coincidência vivida pelo pai de Shilton, o mesmo conseguiu "fazer alguns telefonemas" em busca de um teste para o filho em times de basquete de São Paulo. O atleta contou que foi rejeitado por alguns ainda no primeiro contato telefônico. 

 

Porém, em uma das ligações do pai, um representante do Circulo Militar de São Paulo pediu para que Shilton fosse até o local para fazer um teste. Na época ele tinha apenas treze anos de idade.

 

Ele passou e se mudou de Cuiabá para a Capital paulista, onde começou a dar os primeiros passos como atleta profissional.

 

Apesar da "coincidência", Shilton contou não gostar quando dizem que "a sorte" foi responsável pela sucesso na carreira.

 

"Muita gente diz 'nossa, que sorte', mas acho que foi apenas uma oportunidade, porque eu já estava preparado. Em Cuiabá, mesmo com 13 anos, já jogava junto aos adultos. Então, sei que estava pronto. Não gosto muito da palavra sorte", avaliou. 

 

Arquivo Pessoal

Shilton

Shilton: muito treinamento e dedicação garantiram sucesso na carreira

Shilton brincou com a relação entre sorte e sua carreira de atleta profissional usando como exemplo a condição de precisar extrair um dente de alguém para se tornar milionário. Sem preparação, ele afirmou que jamais conseguiria realizar a tarefa. E assim ocorreu no basquete. 

 

"Se algum dia ganhar na Mega-Sena, posso usar a palavra sorte. Por enquanto, acredito em uma boa preparação para quando surgir uma oportunidade", explicou. 

 

Desde então, Shilton visita Cuiabá apenas nas férias, entre os campeonatos de basquete. O restante da família do atleta ainda mora no Bairro CPA 3, em Cuiabá e, mesmo à distância, acompanham a trajetória dele nas quadras. 

 

Seja na arquibancada durante as disputas ou na casa da amiga de longa data, onde Luzinete Enedina dos Santos, de 55 anos, se divide entre as pinceladas durante as aulas de pintura e as jogadas do filho, nenhum lance do atleta escapa do olhar atento da mãe. 

 

"Filho de peixe..."

 

Com apenas 11 anos, o filho mais velho de Shilton já atingiu 1,75 metro de altura. Mathias Alessanco é atleta federado e joga na categoria sub-12 do Corinthians, mesmo time do pai. Ele se divide entre a rotina escolar e a paixão pelo basquete.  

 

"Normalmente, ele [Mathias] tem folga no sábado e joga no domingo. É corrido, mas ele treina apenas uma vez por dia. Pela manhã vai à escola. Para mim é muito bom, mas me preocupo mais que ele seja feliz do que com ele ser jogador de basquete", contou. 

 

Orgulhoso pelas conquistas do filho, o pai se derrete ao lembrar que, ainda bebê, Mathias costumava assistir ao jogos da arquibancada. 

 

"Antes de completar dois anos e meio, o Mathias já assistia aos jogos da arquibancada, junto com a mãe e o irmão. Sei que uma criança dessa idade ainda não tem muito foco, mas ele assistia o jogo inteiro, sempre com uma fruta ou um biscoito", lembrou. 

 

Se ele seguir meus passos, obviamente vou ficar muito feliz, mas a minha preocupação principal é de que ele seja muito feliz no que escolher ser

Conforme foi crescendo, Mathias passou a demonstrar cada vez mais desejo em se tornar um jogador de basquete, vontade que foi apoiada pelos pais desde o início. 

 

Shilton afirmou que o filho é muito talentoso e "tem gosto" pelo jogo. 

 

"Ele sempre demonstrou interesse pelo basquete, dizia que queria ser jogador, então minha função é apoiar. Costumo dizer que sou 70% treino e 30% talento. O Mathias é o oposto. Ele é 70% talento", avaliou. 

 

O atleta contou que a genética influenciou no crescimento de Mathias. Shilton tem 1,98m de altura e a esposa dele, 1,78m. Ele contou que os médicos avaliam que o primogênito vai ultrapassar os 2 metros de altura. 

 

"O Mathias já está calçando tamanho 44, porque o 43 ficou apertado recentemente. Acredito que ele vai chegar a 2,10m de altura", contou. 

 

De acordo com Shilton, Mathias está cada vez mais apaixonado pelo esporte e vibra a cada jogo ou conquista alcançada. 

 

"Se ele seguir meus passos, obviamente vou ficar muito feliz, mas a minha preocupação principal é de que ele seja muito feliz no que escolher ser", finalizou. 

 

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Shilton Alessanco dos Santos/Arquivo Pessoal

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Alenize  29.04.19 19h17
Parabéns pra você sucesso. sempre😊.
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Priscila - LBC   24.04.19 15h29
Parabéns pela matéria do Shilton! Nós do basquete agradecemos pelo reconhecimento. Ele é uma pessoa fantástica e merecedora desta atenção. Parabéns! Matéria linda!
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LUZINETE E.E.Santo   22.04.19 13h26
Parabéns Bruna Barbosa, a reportagem ficou ótima
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LUZINETE E.E.santo  22.04.19 11h56
Parabéns meu filho,você plantou o melhor de si e agora está colhendo ,você merece tudo de Bom, e Mathias já tem um espelho você .
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MIREYA  22.04.19 11h23
Garra, foco e dose extra de Determinação te fizeram alcançar este resultado. Sua origem só te fez ser mais forte. Parabéns e Sucesso
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