Lançado nesta quarta-feira, "Vingadores: Ultimato" ocupou mais de 2.700 das 3.300 salas do circuito cinematográfico e causou indignação de parte do setor audiovisual brasileiro. Para efeito de comparação, até a quarta-feira, " Shazam! " e " Capitã Marvel ", estavam sendo exibidos em 975 salas.
Segundo alguns cineastas, a superprodução da Marvel teria sido favorecida principalmente pela ausência da cota de tela para este ano, que espera para ser assinada pelo presidente Jair Bolsonaro, e por regras de controle do setor criadas pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) que não estão mais em vigor.
Em sua coluna no GLOBO , o jornalista Ancelmo Gois aponta que, por causa da estreia massiva de "Vingadores: Ultimato", a comédia brasileira " De pernas pro ar 3 ", com mais de um milhão de ingressos vendidos em duas semanas, perdeu 300 salas do circuito. Mariza Leão, produtora do filme, argumenta ainda que o título ficou em 524 salas de 484 cinemas, dos quais apenas 132 colocam-no em salas com três a quatro sessões durante o dia:
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Regra da 'dobra'
Mariza enviou uma carta à diretoria colegiada da Ancine protestando justamente contra a falta de regras reguladoras do mercado cinematográfico. Além da ausência da cota de tela, ela menciona no texto a regra da "dobra", segundo a qual os exibidores eram obrigados a manter o filme em cartaz se ele atingisse uma média de público: "Filmes com performance acima de média saem de salas sem nenhuma explicação, sem nenhuma defesa. Tal fato gera prejuízos incalculáveis a investimentos tanto públicos quanto privados".
Outra regra da Ancine, derrubada pela Justiça Federal em novembro do ano passado, limitava a ocupação de 30% de um complexo por um único título.
Em seu perfil no Facebook, o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, cujo filme "Bacurau" foi selecionado para a mostra competitiva do Festival de Cannes, publicou um comentário em que faz menção à regulamentação agora extinta: "'De pernas pro ar 3' estava dando dinheiro. Quando o mercado corre sem lei, sua lógica é a de subtrair para ganhar, e não a de somar com diversidade. Os dois filmes poderiam ir bem, sem desequilíbrio".
O gaúcho Ricardo Difini Leite, presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras (Feneec) e diretor da rede de cinemas GNC, diz que é preciso cautela para analisar o caso de "Vingadores: Ultimato".
Segundo ele, não é possível afirmar com certeza que a ocupação do filme da Marvel corresponde a 80% das salas brasileiras, porque muitas delas são compartilhadas com outros filmes — com a adoção do sistema digital, a lógica da sessão por salas mudou. Além disso, trata-se de um caso excepcional, que não vai prejudicar os lançamentos nacionais.
Em nota, a Ancine diz que vai "monitorar a questão": "O assunto é pauta da Câmara Técnica de Salas de Exibição, que conta com representantes de associações de distribuidores, exibidores e produtores do audiovisual".
Daniel Caetano, presidente da Associação Brasileira de Cineastas (Abraci), diz que a regulação é necessária e ajuda o mercado a funcionar, sendo construída em conjunto com os agentes desse mercado:
— Eu entendo que o mercado tenda a esse modelo, mas acredito que faz parte das funções do governo criar mecanismos regulatórios que evitem que as leis de mercado acabem canibalizando o próprio mercado — diz ele.
Veja o trailer de "Vingadores: Ultimato" :
1 Comentário(s).
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Anderson 28.04.19 19h50 | ||||
Claro, o filme tem 1.2 bilhão no primeiro fim de semana porque falta concorrência... | ||||
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